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'Rolezeiros' franceses usam Nike e Zara, comem KFC e ouvem música pop

Bastien e Tyron vão aos "rolezinhos" de Paris "por causa das meninas" e fazem bicos para pagar roupas - Sonia Oliveira/UOL
Bastien e Tyron vão aos 'rolezinhos' de Paris 'por causa das meninas' e fazem bicos para pagar roupas Imagem: Sonia Oliveira/UOL

Sonia Oliveira

Do UOL, em Paris

15/02/2014 06h00

Assim como São Paulo, Paris também tem seus 'rolezeiros'. Com idade média entre 15 e 17 anos, eles também capricham no visual e saem da periferia para ir para ‘causar’ no centro da capital francesa. O ponto de encontro é sempre o mesmo: o quadrilátero Fontaine des innocents no bairro dos Halles.

Discretos, se comparados às manifestações brasileiras, os rolês à la française acontecem há várias décadas, desde a abertura das linhas de RER (Rede Expressa Regional), que liga o subúrbio a Paris, e da construção do Forum des Halles --centro comercial--, no final dos anos 1970.

Em sua maioria estudantes, eles se aglomeram nas tardes de sábado. Sem “ídolo” nem “famosinho”, têm duas motivações comuns aos meninos brasileiros: consumir e paquerar.

A reportagem do UOL esteve no último sábado (8) no local para conversar com os participantes do 'rolezinho' de Paris. Anna*, 17, terceiro ano do ensino médio, mora na zona oeste de Paris. Vem com os colegas. “Principalmente para comprar”, diz. Fã de Lady Gaga e Rihanna, investe num estilo meio Amy Winehouse. Diz montar looks com as marcas Zara, H&M e Bershka.

Uma ostentação razoável, considerando-se que as peças dessas marcas variam de 15 a 40 euros (entre R$ 49 e R$ 125).  Anna junta a mesada dada pelos pais e compra uma peça por mês. Acompanhada de Charlotte*, 16, ela curte “rever” no centro da cidade os colegas da escola. 

“Aqui, a gente fica mais à vontade, faz o que quer, o parisiense não está nem aí”, explica Victor*, 16, de Essone, periferia sul de Paris. Ele conta que onde mora os jovens são muito observados.

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    Nancy e Doris, 'rolezeiras', afirmam que não paqueram nos encontros porque 'não precisa'

A convocação por redes sociais ainda é novidade. É a segunda vez que participa de um rolê coletivo, cerca de 20 pessoas foram convocadas pelo Twitter. Ele diz que prefere “vir apenas com um ou dois camaradas”.

Victor conta que os amigos vêm para comprar e comer nos fast-foods da região. Destaque para o KFC, o que “realmente bomba” entre os meninos.

“Rolezeiro usa Nike, Zara e Timberland”, descreve Victor, que quer ser estilista. Mas o vintage seria a grande tendência, conforme ele, vestido de um casaco de peles comprado em um brechó. “E aquele modelo branco de tênis”, aponta para um Nike, modelo Air Force One --que custa em média 90 euros (R$ 280). Como a maioria deles, Victor ouve R&B. “Gosto de rap americano, Lil Wayne,  2 Chainz e Drake”.

Os "seniors"

Enquanto o rolezeiro médio usa marcas mais básicas, os “seniors” são mais ostensivos. Kevin, 23, estudante de informática, diz comprar Gucci, mas prefere Balenciaga (marca do mesmo grupo). Ele é trainee e diz gastar apenas 10% do que ganha com roupas.

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    Kevin (centro), 'rolezeiro', ao lado de amigos, diz comprar Gucci, mas prefere Balenciaga

Bastien, 18, estudante de economia e gestão, morador da periferia norte, usa Gucci e Calvin Klein. O mesmo vale para o parceiro, Tyron, 19. Os dois fazem bicos para custear o consumo.

A calma reina, mas sob o olhar atento da Guarda Municipal e dos agentes da unidade policial na saída do metrô. “De repente, tudo pode passar ao quebra-quebra”, adverte Tyron. Morador de Paris, responsabiliza os suburbanos por possíveis distúrbios. Bastien e Tyron vão “por causa das meninas”.

As meninas são reticentes quanto aos flertes. Nancy, 20 e Doris, 22 --que usam Guess e Gucci, mas dizem se satisfazer com peças da Jennyfer-- afirmam que não paqueram. “Não precisa, os meninos se antecipam”, explica Doris.

*Os nomes dos menores de idade foram mudados para preservar a identidade deles, conforme a lei francesa