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Após reunião, presidente da Ucrânia chega a acordo de "trégua" com a oposição, diz comunicado oficial

Do UOL, em São Paulo

19/02/2014 18h11

O site oficial do presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovich, anunciou, nesta quarta-feira (19), em uma mensagem postada às 22h51 no horário local (17h51 em Brasília), que houve uma reunião entre o presidente e integrantes de um grupo de trabalho para discutir e encerrar a crise política no país, cujo resultado teria sido uma "trégua" e "o início de negociações com o objetivo de cessar o derramamento de sangue e a estabilização da situação no país em nome da paz civil". 

Participaram da reunião os líderes da oposição Arseniy Yatsenyuk, Vitali Klitschko e Oleh Tiahnybok, e ainda o presidente do Verkhovna Rada (Parlamento da Ucrânia), Volodymir Rybak, o chefe e o chefe-adjunto da Administração Presidencial, e o ministro interino da Justiça. .

Um dia após os confrontos que deixaram pelo menos 26 mortos no centro da capital Kiev, o governo ucraniano já havia anunciado hoje uma série de medidas, incluindo uma mudança na cúpula das Forças Armadas e uma operação "antiterrorista" contra grupos radicais. O presidente trocou o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas depois de ter lançado uma operação de combate ao "terrorismo", concedendo amplos poderes aos militares.

No lugar de Volodymyr Zamana, foi nomeado chefe do Estado-Maior Yuri Ilyin, segundo decreto publicado no site da Presidência, sem apresentar o motivo da substituição.

Anteriormente, serviços de segurança ucranianos (SBU) tinham anunciado o início de uma ampla operação contra o "terrorismo" no país, tendo como alvos "os grupos extremistas e radicais que ameaçam com suas ações a vida de milhões de ucranianos". O Exército poderá utilizar suas armas, a partir de agora, para "limitar ou proibir a circulação de veículos e pedestres", de acordo com o Ministério da Defesa. Além disso, os militares poderão revistar e deter pessoas que cometerem "atos ilegais".

O SBU alegou que mais de 1.500 armas de fogo e 100 mil cartuchos de munições passaram pelas "mãos dos criminosos" desde terça-feira. Nas últimas semanas, a adoção de um eventual estado de emergência chegou a ser cogitado pelas autoridades. 

Na noite desta quarta-feira, várias barricadas continuavam em chamas na Praça da Independência (Maidan), no centro da capital Kiev, ponto de concentração dos milhares de manifestantes.

Jornalistas e policiais estão entre os mortos 

O registro mais recente do Ministério da Saúde indica 26 mortes desde a explosão de violência na última terça-feira (18), em Kiev, e 241 feridos hospitalizados, incluindo 79 policiais e cinco jornalistas.

Ao menos dez policiais estão entre os mortos, segundo o Ministério do Interior.

Um repórter do jornal "Vesti" morreu ao ser alvejado por disparos de arma de fogo perto do local dos confrontos, anunciou a publicação. 

Um dos líderes da oposição, o campeão de boxe Vitali Klitschko, considerou hoje que apenas a renúncia do presidente pode trazer calma para o país.

"O sangue correu pelas ruas de Kiev (...). Viktor Yanukovich é responsável pelo assassinato de cidadãos pacíficos", declarou Klitschko em um vídeo divulgado no site do partido Udar.

Ameaças de sanções

Nesse contexto de crise política, uma das piores atravessadas por essa ex-república soviética desde a sua independência em 1991, a União Europeia anunciou que estudará sanções contra os responsáveis pela violência.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, indicou que analisará junto às autoridades de segurança do bloco "todas as opções, incluindo sanções contra os responsáveis pela repressão e pelas violações aos direitos humanos na Ucrânia".

A chanceler alemã, Angela Merkel, anunciou hoje que havia conversado com o presidente russo, Vladimir Putin, e que ambos concordaram em "fazer o máximo para evitar uma escalada da violência" na Ucrânia, durante declarações concedidas à imprensa no Palácio do Eliseu, em Paris.

Angela Merkel disse ter "informado" ao presidente russo da viagem a Kiev dos chefes da diplomacia francesa, Laurent Fabius, alemã, Frank-Walter Steinmeier, e polonesa, Radoslaw Sikorski, nesta quinta-feira (20).

"Nós decidimos manter contatos com a Rússia", acrescentou.

Fabius considerou em Paris que "é necessário restabelecer o diálogo político entre a oposição e o poder", na presença do secretário de Estado norte-americano John Kerry.

Os ministros de França, Alemanha e Polônia prestarão contas a seus colegas europeus, segundo fontes diplomáticas.

John Kerry afirmou, por sua vez, que o presidente ucraniano Viktor "Yanukovich pode escolher entre proteger o povo ao qual serve, que é a escolha do compromisso e do diálogo, ou entre a violência e o confronto".

"Acreditamos que a escolha seja clara", acrescentou Kerry. "Estamos discutindo a possibilidade de sanções ou outras medidas com nossos amigos na Europa e em outros países para tentar criar o ambiente propício a um compromisso", disse o secretário norte-americano.

Já o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, fez um apelo à União Europeia para que convença a oposição ucraniana a cooperar com as autoridades e se distanciar das forças radicais que querem um "golpe de Estado", durante uma conversa por telefone com Frank-Walter Steinmeier, ministro alemão.

Manifestações começaram em novembro

Os protestos na Ucrânia foram motivados pela suspensão, por parte do governo do país, das negociações para se juntar ao bloco econômico da União Europeia, em novembro de 2013, estreitando as relações com a Rússia.

Os confrontos dos últimos dias ocorreram nas imediações do Parlamento, com as forças de segurança usando gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral para desocupar a Praça da Independência.

Na manhã desta quarta-feira, no entanto, milhares de manifestantes permaneciam no local, diante das barreiras policiais.

A violência ameaça se alastrar para o restante da Ucrânia. Em Leopolis, reduto dos protestos no oeste do país, 5.000 manifestantes assumiram o controle das sedes do governo local e da polícia, assim como o de prédios militares e depósitos de armas. (Com agências internacionais)