Rússia vai ligar território à Crimeia através de ponte, diz premiê
O primeiro-ministro da Rússia, Dmitri Medvedev, anunciou nesta segunda-feira (3) que a Rússia levará adiante o projeto de construção de uma ponte sobre o estreito de Kerch, que separa a península da Crimeia do território da Rússia, assinado com o anterior governo ucraniano.
O anúncio de Medvedev coincide com a grande tensão nessa região autônoma ucraniana, onde as tropas russas estão fustigando as forças ucranianas para tomar o controle.
IMPASSE COM A RÚSSIA MOTIVOU REVOLTA NA UCRÂNIA
As manifestações começaram em novembro, depois que o então presidente Viktor Yanukovich anunciou sua decisão de não assinar um acordo de cooperação com a União Europeia, que poderia, no futuro, ter a Ucrânia como um de seus membros.
A questão, no entanto, é mais complexa e tem raízes na história recente do país, nascido após a desintegração da ex-União Soviética.
O país está no meio de uma disputa de forças entre grupos que querem mais proximidade com a União Europeia e outros que têm mais afinidade com a Rússia. Yanukovich foi deposto em fevereiro, e novas eleições foram convocadas.
As atenções agora se viraram para a Crimeia, região autônoma da Ucrânia cuja maioria é alinhada à Rússia, que convocou um referendo sobre sua soberania.
"Adotamos decisões que são vinculativas, em particular documentos que foram assinados em dezembro do ano passado e que não foram modificados nem denunciados por ninguém", disse o primeiro-ministro russo, em referência à ponte sobre o estreito de Kerch, citado pelas agências russas.
Em reunião com a cúpula do governo nos arredores de Moscou, Medvedev ressaltou que a Ucrânia "foi e sempre será um sócio econômico-comercial muito importante para Rússia.
O chefe do governo russo ressaltou que na construção da ponte no estreito de Kerch, assim como no desenvolvimento de canais comerciais adicionais e de projetos conjuntos de investimento, estão interessadas Rússia e Ucrânia.
Jatos violam espaço aéreo ucraniano
O ministério da Defesa da Ucrânia acusou a Rússia de violar o espaço aéreo ucraniano durante a noite de domingo (2).
Jatos de combate russos teriam sobrevoado o mar Negro por duas vezes. O ministério informou que a Força Aérea ucraniana identificou um jato Sukhoi SU-27 e preveniu quaisquer "ações provocativas", sem dar detalhes.
Ocidente pressiona
Os países ocidentais aumentaram a pressão nesta segunda para encontrar uma saída diplomática com a Rússia.
A crise, uma das mais graves entre Moscou e o Ocidente desde o fim da Guerra Fria, provocava quedas nas bolsas (a de Moscou operava em baixa de mais de 5%), assim como altas no preço do petróleo.
O secretário americano de Estado, John Kerry, anunciou que visitará Kiev na terça-feira (4), para "reiterar o forte apoio dos Estados Unidos à soberania, independência e integridade territorial da Ucrânia", indicou a porta-voz do departamento de Estado, Jen Psaki, em um comunicado.
Os Estados Unidos também pediram o envio imediato à Ucrânia de observadores da Organização para a Cooperação e Segurança na Europa (OSCE) para tentar "promover o respeito da integridade territorial" desta ex-república soviética, independente desde 1991.
Imigrantes ucranianos em SP acompanham protestos na terra natal
O presidente Vladimir Putin considerou que a Rússia havia dado uma resposta totalmente adaptada à "ameaça constante de atos violentos por parte das forças ultranacionalistas" ucranianas, embora em uma conversa com a chefe de governo alemã, Angela Merkel, tenha aceitado a criação de um grupo de contato para iniciar um diálogo político sobre a Ucrânia.
O ministro das Relações Exteriores britânico, William Hague, convocou a Rússia a reconsiderar, diante do que avaliou como "a maior crise na Europa no século 21".
Hague e seu colega grego, Evangelos Venizelos, cujo país ocupa a presidência semestral da União Europeia (UE), se reunirão na terça-feira com as novas autoridades ucranianas, depois da destituição, no dia 22 de fevereiro, do presidente Viktor Yanukovytch pelo Parlamento ucraniano.
Otan pede solução pacífica
A Otan pediu que Kiev e Moscou cheguem a uma "solução pacífica" da crise através do diálogo e "a mobilização de observadores internacionais", segundo seu secretário-geral, Anders Fogh Rasmussen.
"A Rússia não quer a guerra com a Ucrânia", respondeu no domingo o vice-chanceler russo, Grigori Karasin.
A base militar de Perevalne, que abriga uma unidade da guarda-costeira ucraniana, a 20 km de Simferopol (a capital da Crimeia), foi cercada por centenas de homens armados com fuzis, constatou a AFP.
Segundo o ministério ucraniano da Defesa, que estimou seu número em mil efetivos, os atacantes queriam obrigar a guarda-costeira a entregar suas armas.
Vários locais estratégicos da península, como bases militares, aeroportos e edifícios oficiais, foram bloqueados por homens armados, cujos uniformes não têm insígnias, mas que, segundo os observadores, são soldados russos.
O almirante Denis Berezosvski, comandante-em-chefe da Marinha de guerra ucraniana, nomeado há alguns dias pelo presidente interino Olexander Turchynov, anunciou no domingo que aderia às autoridades locais pró-russas da Crimeia. (Com agências internacionais)
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