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Após tremor, chilenos enfrentam filas de 5 horas para comprar água

Juliana Faddul e Bia Rodrigues

DO UOL, em Santiago (Chile)

02/04/2014 13h55

O norte do Chile foi atingido por um terremoto de magnitude 8,2 por volta das 20h46 dessa terça-feira (1º). O sismo gerou um alerta de tsunami em toda a costa do país, que foi retirado às 6h41 desta quarta-feira (2). Ao menos seis pessoas --duas mulheres e quatro homens-- morreram nas cidades de Iquique e Alto Hospicio.

Veja onde foi o terremoto - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

As regiões afetadas pelo terremoto ficaram sem luz e água, mas durante a manhã desta quarta, os serviços começaram a ser retomados. Em Iquique e Alto Hospício foram detectados danos nos setores de distribuição. Os problemas estão sendo reparados, segundo a empresa Aguas del Altiplano, para que o abastecimento seja restabelecido completamente.

A costureira Dolores Espinoza, 69, conta que se feriu durante o tremor em Iquique. “Estava colocando o lixo para fora, quando começou o terremoto. Eu me desequilibrei e uma árvore caiu perto de mim”, disse. Ela ainda contou que por conta do tombo, está com hematomas na coxa e no braço. “Está doendo um pouco, mas fui num posto de atendimento e foram muito amáveis”, disse. 

Prevenida, Espinoza havia feito um “kit sobrevivência”, como ela mesmo gosta de nomear, logo quando saíram as previsões de que poderia haver um terremoto na região.

“Tinha uma mala com água, bolacha, remédios, curativos e um rádio a pilha. Eu vivo há quase 70 anos aqui no Chile e sei que terremoto é coisa séria”, falou. “Quando aconteceu o terremoto, meu neto e meu filho vieram me ajudar com a minha mochila e a deles”.

A ideia de comunicação por rádio a pilha foi do neto, o engenheiro industrial Mario Espinoza, 32. “Minha vó tem muito medo de terremoto porque viveu o de 1960 e ficou muito traumatizada. Um dos maiores problemas que ela enfrentou na época foi ficar sem comunicação, então pensamos em algo menos tecnológico e mais arcaico, que nos poderia beneficiar em esta situação”.

A ideia facilitou o contato com os outros filhos de Dolores, Maria Jose e Ignacio, também moradores de Iquique.

Fila no supermercado e racionamento de água

Já a professora Mercedes Oyarzún, 43, não foi tão precavida --o que lhe rendeu mais de cinco horas na fila do supermercado.

“Precisava comprar água e algo para as crianças comerem [ela é mãe de Jonas, 5, e Cristina, 7]. Não consegui dormir a noite toda e agora tenho que esperar aqui na fila para ver se há algum mantimento. Isso não está certo." 

Embora a água esteja voltando aos poucos às torneiras, o produto é vendido de maneira controlada. Segundo Oyarzún, eram duas garrafas de 1,5 litro por pessoa. “Agora, me diz, como uma família de quatro, seis pessoas vai dividir trÊs litros de água numa situação dessa?”, contesta.

Embora a cidade ainda esteja sem luz, com a comunicação falha e com pouca água, existe outra preocupação dos moradores: as fugitivas do presídio de Iquique.

“Se em uma situação normal eles já fizeram atrocidades, imagina numa situação de desespero como está?”, disse a professora.

Na cidade vizinha de Arica a situação é parecida. A arquiteta Gisela Valenzuela, 32, estava no último andar do edifício que mora com seus dois filhos Matthew, 6, e Florencia, de seis meses, no momento do desastre. “As paredes tremiam muito e a luz ficava cortando. Eu fiquei apavorada porque estava sozinha com as crianças. Era impossível não gritar. Foi muito forte”, disse.

Segundo a arquiteta, a cidade ainda está sem luz e com pouca quantidade de água, o que inflaciona os preços e desespera os moradores de Arica. “As filas de supermercado e dos postos de gasolina estão quilométricas. Dos poucos lugares que se consegue encontrar água, estão vendendo uma garrafa de água por 3 mil pesos (R$ 12)”, disse.  

Ela também lembrou do terremoto de 2010. “Neste terremoto até o topo do morro de Arica caiu. Com certeza foi bem mais forte e desesperador”.

"A TV tremia muito"

A brasileira Emilly Alves, 21, que vive há dois anos no Chile e há dois meses em Copiapó, região do Atacama, cerca de 1.000 km de Iquique, local do epicentro, disse que sentiu o terremoto por cerca de 5 minutos.

“Não estamos em uma região tão próxima do epicentro, mas sentimos o terremoto. A TV tremia muito”, contou.

Segundo Emilly, a maior preocupação no momento foi com os familiares do namorado que estavam em Iquique e Calama, regiões que sentiram mais fortemente o sismo.

“Eles conseguiram nos ligar para avisar que estavam bem. Meu namorado tem uma prima que tem um bebê e era nossa maior preocupação. Eles precisaram sair de suas casas”, disse a brasileira.