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Passageiros foram orientados a permanecer enquanto navio afundava, dizem sobreviventes

Do UOL, em São Paulo

16/04/2014 18h45

Um dia depois do naufrágio que matou seis pessoas e deixou 300 desaparecidas na Coreia do Sul, sobreviventes do acidente relataram nesta quinta-feira (16) à agência AP que foram orientados pela tripulação do navio a permanecerem no barco enquanto o navio afundava.

Koo Bon-hee lembra que em determinado momento que podia ver a porta de saída do navio, mas, por cerca de meia-hora, atendendo as orientações da tripulação, permaneceu imóvel no local, a espera do resgaste.

Enquanto isso, o nível de água no pavimento só aumentava. Quando já não havia mais espaço para respirar, o empresário de 36 anos e outros passageiros a bordo decidiram flutuar até a saída de emergência mais próxima e nadaram até um barco de pesca que estava nas imediações do navio naufragado.

Outro sobrevivente, Kim Seong-mok, deu mais detalhes do acidente a uma TV local. O passageiro disse que sentiu a embarcação inclinar e logo em seguida, ouviu uma forte batida. Era hora de servir o café da manhã.

De acordo com o sobrevivente, em nenhum momento os passageiros foram orientados a evacuar a embarcação, mas a “não se deslocarem de seus lugares”.

Ainda segundo o passageiro, a orientação da tripulação foi seguida por centenas de passageiros, que permenceram imóveis enquanto o navio afundava rapidamente e se enchia de água.

"O resgate não foi bem feito. Estávamos usando coletes salva-vidas. Tivemos tempo", Koo, que estava em uma viagem de negócios para Jeju. O sobrevivente está internado em um hospital de Mokpo, de onde conversou com jornalistas da agência AP. Ele teve apenas ferimentos leves.

"Se as pessoas tivessem pulado na água, elas poderiam ter sido resgatadas. Mas foi-nos dito para não sair”, relata.

Outro lado: 'Não podíamos dar um passo a frente'

Oh-Yong-seok, um membro da tripulação que abandonou a embarcação com outras pessoas, incluindo o próprio capitão do navio, dúzia de outros, argumentou que os esforços de resgate foram dificultados pela inclinação do ferry, que ficou cada vez mais acentuada e rapidamente.

“Não podíamos dar um passo a frente. A inclinação era muito grande”, diz o funcionário.

A Guarda Costeira e mergulhadores devem retomar logo mais, na manhã desta quinta-feira (17) (hora local) os trabalhos de buscas pelos desaparecidos --cerca de 280.

Até a meia-noite (meio-dia no horário de Brasília), já estavam confirmadas seis mortes e 179 resgatados entre as 462 pessoas que estavam a bordo, de acordo com a agência de notícias Reuters. Dezenas de barcos e também helicópteros foram usados nas buscas, e mergulhadores vasculharam ao menos três compartimentos da embarcação à procura de vítimas. Até o momento, foram identificados três adolescentes (com idade por volta de 17 anos) e uma integrante da tripulação, de 27 anos.

A maioria dos passageiros fazia parte de um grupo de estudantes do ensino médio --325 adolescentes de Ansan (cerca de 35 km de Seul)-- que estava em uma excursão escolar para a Ilha de Jeju, um destino turístico no país.

As condições de visibilidade no local são ruins, há fortes correntes marítimas e a temperatura da água é baixa, segundo informações da Marinha, o que pode dificultar as atividades nesta quinta-feira.

Há mais de 50 pessoas feridas, e existe o temor de que o número de vítimas aumente, porque muitas pessoas podem ter ficado presas às ferragens da embarcação. Já se fala na possibilidade de esta ser  a maior tragédia marítima da Coreia do Sul nas últimas décadas.

Com capacidade para transportar aproximadamente 900 pessoas, a balsa Sewol ia de Incheon (cerca de 30 km da capital) para a Ilha de Jeju. A viagem noturna (de terça para quarta-feira) teria duração prevista de 14 horas. A embarcação afundou lentamente, em um ponto a 470 km de Seul, e submergiu oito horas após enviar um pedido de socorro. Ainda não há explicações sobre a causa do naufrágio.

De acordo com o Ministério da Segurança e da Administração Pública, por volta de 2h da madrugada (horário de Brasília), cerca de 95% da embarcação já se encontrava sob a superfície.

A empresa dona da balsa Sewol divulgou um pedido de desculpas por meio de seus oficiais.

"Eu gostaria de pedir desculpas aos passageiros, incluindo estudantes e seus pais, e prometer que nossa companhia fará o seu melhor para minimizar perdas de vidas. Nós pedimos desculpas", disse Kim Young-boong, chefe de planejamento e administração da empresa marítima Chunghaejin.