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Jovem que se escondeu em trem de pouso pode ter sido salvo por "hibernação"

Um jovem de 16 anos sobreviveu a uma viagem de cinco horas dentro da cavidade do trem de pouso do avião. O adolescente foi interrogado pelo FBI, após o avião pousar no Havaí - Chris Sugidono/The News/AP
Um jovem de 16 anos sobreviveu a uma viagem de cinco horas dentro da cavidade do trem de pouso do avião. O adolescente foi interrogado pelo FBI, após o avião pousar no Havaí Imagem: Chris Sugidono/The News/AP

Do UOL, em São Paulo

22/04/2014 17h32

A história do jovem norte-americano de 16 anos que sobreviveu a uma viagem de cinco horas dentro da cavidade do trem de pouso de um avião deixou perplexos especialistas de todo o mundo, que tentam achar uma explicação para o “milagre”.

O adolescente sobreviveu à escassez de oxigênio e a temperaturas congelantes, quando o avião alcançou uma altura de cerca de 11 mil metros. Fugindo de casa, o garoto teria pulado a cerca do aeroporto de San Jose, na Califórnia, e entrado no avião com destino a Maui, no Havaí.

A notícia de que o jovem havia sobrevivido foi recebida com incredulidade por analistas de aviação, informa o jornal britânico “The Telegraph”.

"Alguém sobreviver a 35 mil pés [cerca de 11 mil metros] por cinco horas, sem fornecimento de oxigênio suplementar, é simplesmente uma coisa na qual não consigo acreditar”, disse John Nance, um dos principais especialistas em aviação dos Estados Unidos, em entrevista à rede ABC News. “Das três, uma: ou isso é uma farsa, ou é um milagre, ou, então, vamos ter que reescrever todos os livros se ele realmente tiver feito o que diz que fez”, acrescentou. “[Esse caso] precisa ser estudado com muito cuidado pela medicina, porque isso não deveria ser possível”, continuou Nance.

Peter Forman, outro analista conceituado, se disse igualmente perplexo. "As chances de uma pessoa sobreviver por muito tempo em um voo naquela altitude são muito remotas. Estamos  falando de altitudes que estão bem acima do pico do monte Everest ", afirmou Forman em entrevista à rádio KHON, do Havaí. “Nessa altitude, muita gente só manteria a consciência durante um minuto ou dois. Nunca ouvi falar de nada parecido antes”, acrescentou.

Outros especialistas apontaram exemplos de passageiros clandestinos que sobreviveram, citando um estudo da FAA (Federal Aviation Authority), que analisou as perspectivas de sobrevivência de passageiros clandestinos nessas condições. Desde o início dos registros de casos como este na aviação internacional, em 1947, ao menos 96 passageiros clandestinos teriam tentado embarcar em 85 voos. Destes, 73 teriam morrido e apenas 23 sobrevivido.

Uma das teorias é a de que a falta de oxigênio e o lento resfriamento do corpo podem enviar ao sistema nervoso central uma mensagem de hibernação, não muito diferente do que acontece com alguns animais no inverno. Na hibernação, os animais, adormecidos, entram em um estado de inatividade no qual as funções vitais são limitadas ao necessário para a sobrevivência. Além disso, o calor das rodas do trem de pouso e do sistema hidráulico pode ter evitado que o corpo do jovem congelasse completamente.

O estudo do FAA examinou casos de passageiros clandestinos ocorridos de 1947 a 1993. No caso de um passageiro que sobreviveu a um voo clandestino da Cidade do Panamá para Miami, em 1986 --e que ultrapassou os 11 mil metros de altitude--, por exemplo, o estudo aponta que as condições foram favoráveis para colocá-lo em estado semelhante ao de “hibernação”.

Mais recentemente, em agosto de 2013, um adolescente nigeriano sobreviveu a um voo de 35 minutos no compartimento do trem de pouso de um avião. Na ocasião, especialistas acreditaram que a curta duração do voo e a altitude relativamente baixa teriam garantido a sua sobrevivência. Da mesma forma, em junho de 2010, um romeno de 20 anos sobreviveu a temperaturas de - 41ºC dentro do trem de pouso de um Boeing 747 durante um voo de 97 minutos. Para esse caso, a explicação dos especialistas foi a de que, devido ao mau tempo, o piloto foi obrigado a manter a aeronave a uma altitude máxima de 25 mil pés, e não os 38 mil pés habituais.

Até agora, a história da fuga do jovem de 16 anos que viajou da Califórnia para o Havaí parece não comportar qualquer uma dessas explicações.