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Ex-soldado que vazou dados para o WikiLeaks ganha na Justiça direito de usar nome de mulher

Montagem/Arquivo/Exército dos EUA
Imagem: Montagem/Arquivo/Exército dos EUA

Do UOL, em São Paulo

23/04/2014 15h49

O ex-soldado norte-americano Bradley Manning Edward, condenado a mais de 30 anos de prisão por vazar documentos confidenciais do governo americano à organização Wikileaks, ganhou na Justiça o direito de mudar legalmente o nome para Chelsea Elizabeth Manning.

Em agosto do ano passado, um dia após ser condenado a 35 anos de prisão pelo caso, Manning, 25, voltou às manchetes da imprensa internacional ao revelar que queria dar início a um tratamento hormonal para mudança de sexo e que queria ser tratado como uma mulher. 

O aceite foi dado formalmente nesta quarta-feira (23), pelo juiz David King, do Kansas. Atualmente ele cumpre pena de 35 anos na prisão do Exército em Fort Leavenworth, no Kansas.

Manning não esteve presente na audiência hoje, mas falou ao jornal "The Guardian", em uma declaração na qual diz se tratar de "um dia emocionante" em sua vida.

"Tenho sido frequentemente perguntado porque estou mudando de nome. A resposta é simples: porque é um nome que se adequa de forma muito melhor e mais honesta à mulher que eu sempre fui - uma mulher chamada Chelsea", disse Manning. 

"Espero que a mudança de nome garantida hoje, tão importante para mim no âmbito pessoal, sirva também para mostrar que nós (transgêneros) existimos em todos os lugares da América de hoje, e os desafios que nós enfrentamos diariamente", afirmou.

Na época, a um programa de TV da emissora "NBC News", o militar de 25 anos chegou a declarar que queria que todos conhecessem o seu "verdadeiro eu".

"Como uma transição para este próximo estágio da minha vida, quero que todos conheçam o verdadeiro eu. Eu sou Chelsea Manning. Sou uma mulher. Dada a maneira como me sinto, e tenho me sentido desde criança, quero começar um tratamento hormonal assim que possível. Espero que vocês me apoiem nesta transição. Solicito também que, começando hoje, vocês se refiram a mim pelo meu novo nome e use o pronome feminino [salvo em correspondência oficial à prisão]. Espero receber cartas de apoiadores e ter a chance de escrever de volta", diz a declaração de Manning, que assina com o nome de Chelsea.

Manning é considerado responsável por um dos maiores vazamentos de informações confidenciais da história dos Estados Unidos, tendo entregado milhares de documentos e vídeos para o WikiLeaks. O caso desencadeou um mal-estar diplomático mundial para os EUA.

Ex-soldado continuará em prisão masculina

A decisão de hoje abre caminho para mudanças oficiais dos registros militares de Manning , mas não obrigaria o Exército para tratá-lo como mulher. Isso inclui a transferência de Manning para a prisão com a unidade de uma mulher – isso inclui as circunstâncias do confinamento do ex-soldado.

"O quartel disciplinar EUA só possui instalações para homens. Os internos são tratados como ‘presos’”, frisou o porta-voz do Exército, George Wright, à agência AP.

Manning, que cresceu em Oklahoma, entrou com a petição judicial como o primeiro passo para obter seus registros militares alterado.

Manning foi diagnosticada em pelo menos dois especialistas em saúde comportamental do exército com disforia de gênero , ou transtorno de identidade de gênero.

Questão com identidade de gênero foi destacada em julgamento

O ex-soldado chegou a pedir clemência ao presidente Barack Obama, em uma tentativa de fazer a Justiça adotar penas alternativas à sua condenação a 35 anos de prisão, mas o pleito foi negado.

Ele foi diagnosticado por dois especialistas em saúde comportamental do Exército com 'disforia de gênero', ou 'transtorno de identidade de gênero'. Em uma tentativa de manobrar o resultado da sentença, a defesa do ex-soldado chegou a destacar os problemas de identidade sexual na juventude, bem como sua difícil infância com pais alcoólatras como argumento para abrandar a pena.

Entre os vazamentos de Manning, estava o registro de um ataque aéreo de um helicóptero americano a um grupo de civis em Bagdá, incluindo jornalistas. O conteúdo filmado foi revelado pelo WikiLeaks e complicou o governo dos EUA, que se viu envolvido em uma série de debates sobre a impunidade aos militares norte-americanos nos últimos conflitos armados.

Manning foi absolvido no final de junho da acusação mais grave contra ele, a de colaborar com o inimigo, que por si só implicava uma sentença de prisão perpétua. Ele foi condenado por mais de 20 acusações. (Com agências internacionais)