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Pró-russos admitem que podem estar com caixas-pretas do avião malaio

Do UOL, em São Paulo

20/07/2014 10h04Atualizada em 20/07/2014 11h46

Os separatistas pró-russos reconheceram neste domingo (20) que estão com vários objetos que podem ser as caixas-pretas do avião da Malaysia Airlines. "No lugar da catástrofe foram localizadas partes do avião parecidas com caixas-pretas. Foram encontradas em Donetsk [no leste da Ucrânia] e serão entregues a analistas internacionais caso venham a nós", disse o primeiro-ministro da autoproclamada República Popular de Donetsk, Aleksandr Borodai.

Os rebeldes também reconheceram hoje já ter transferido para Donetsk dezenas de corpos das vítimas do avião malaio derrubado na quinta-feira (17)  na região por um míssil. Eram 298 pessoas a bordo, todas morreram.

Um dos líderes dos rebeldes, Sergei Kavtaradze, explicou que os milicianos não tiveram outra solução a não ser levar os corpos das vítimas que acabaram espalhados em ruas residenciais e casas. "Recolhemos os corpos espalhados nas ruas da cidade, nos pátios das casas e inclusive em uma casa, onde acabaram por atravessar os telhados. Deixá-los ali era impossível do ponto de vista sanitário. Os corpos foram levados a Donetsk, onde permanecerão até que cheguem os especialistas", disse Kvartadze.

O governo da Ucrânia acusou neste sábado (19) os rebeldes pró-Rússia, que controlam a região onde o voo MH17 da Malaysia Airlines foi derrubado, de tentar destruir as evidências de "crimes internacionais" e remover 38 corpos do local do incidente.  

"Milicianos armados afastaram as equipes de resgate e os deixaram sem meios de comunicação. Levaram os corpos em um caminhão", disse uma fonte do governo da região onde aconteceu o acidente. 

Kiev alegou que separatistas estariam tentando transportar os destroços do avião para a Rússia e disse que a comunidade internacional deveria pressionar Moscou pela retirada dos rebeldes e para que especialistas ucranianos e internacionais realizem suas investigações.

"Há trabalhadores do serviço federal de emergências no local, mas eles não têm liberdade de movimento. Eles não são autorizados a deixar a zona (sob o controle dos rebeldes). Os terroristas estão pegando todas as evidências que eles coletam", contou Andriy Lysenko, porta-voz do Conselho de Defesa e Segurança Nacional da Ucrânia.

Corpos são transferidos

De acordo com a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), 169 corpos das vítimas foram transportados neste domingo em um trem frigorífico desde o local da queda do avião para uma estação a 15 quilômetros do local do acidente e serão analisados por especialistas internacionais.   

Assim, nenhum corpo é mais visível no local do incidente, segundo um jornalista da AFP.

Segundo a agência de notícias russa Ria Novosti, citando um funcionário das ferrovias, os corpos foram levados para Donetsk a bordo de um comboio com cinco vagões frigoríficos que deixaram a estação de Torez, perto do local da queda. Os vagões foram previamente inspecionados por representantes da OSCE.

A expedição dos corpos ocorreu sob o controle dos combatentes separatistas.  Do lado ucraniano, um porta-voz militar afirmou que as autoridades de Kiev sabiam onde estavam 38 corpos, mas desconhecia o paradeiro dos demais.  De acordo com um jornalista da AFP no local, os rebeldes pró-russos que guardavam a região parecem ter ido embora.

Responsáveis ocidentais expressaram preocupação com o manejo dos restos das 298 pessoas mortas, e o ministro holandês das Relações Exteriores expressou sua contrariedade com o tratamento dos corpos.

Após passar dois dias no calor do verão da região, neste domingo os corpos foram retirados, deixando no local apenas macas militares ensanguentadas.

Familiares das vítimas, procedentes de uma dezena de países, pediram para que os restos de seus entes queridos sejam entregues. "Neste momento, a única coisa que espero é que o mundo possa ajudar as famílias a recuperar os corpos", declarou à AFP em Kuala Lumpur Zulkifli Abdul Rahman, cunhado de uma das comissárias de bordo da aeronave.

Investigação

Investigadores até o momento têm acesso limitado em meio ao conflito entre os rebeldes e o governo ucraniano. Os separatistas condicionaram o acesso de especialistas internacionais ao local da tragédia a uma trégua com o governo de Kiev.

O governo ucraniano, que vai liderar a investigação junto com uma equipe multinacional, montou um centro de gestão da crise em Kharkiv, e os separatistas fizeram o mesmo em Mariupol, uma das cidades ao leste do país que estão sob seu domínio. 

Um grupo de analistas da OSCE conseguiu chegar ao local após intensa discussão com milicianos pró-russos. Segundo a EFE, após aproximadamente 30 minutos de debate, os especialistas se resignaram a seguir a rota indicada pelos milicianos.

Três investigadores de acidentes aéreos da Holanda e o ministro dos Transportes da Malásia, Liow Tiong Lai, foram para a Ucrânia para garantir o acesso dos investigadores ao lugar onde estão os destroços do avião e evitar que os destroços e evidências sejam manipulados ou adulterados.

O avião da Malaysia Airlines fazia o voo de Amsterdã a Kuala Lumpur e caiu entre Krasni Luch, na região de Luhansk, e Shakhtarsk, em Donetsk.

Segundo a Malaysia Airlines comunicou neste sábado, a bordo do voo MH17 estavam 192 holandeses (um deles também tinha nacionalidade americana), 44 malaios (incluídos os 15 membros da tripulação e os dois bebês), 27 australianos, 12 indonésios (entre eles um bebê), dez britânicos (um deles com dupla nacionalidade sul-africana), quatro alemães, quatro belgas, três filipinos, um canadense e um neozelandês.  

Troca de acusações

A Ucrânia classificou a queda como um "ato de terrorismo" e divulgou o que disse ser ligações interceptadas que provam que a aeronave foi derrubada por separatistas. Mas os rebeldes pró-Rússia alegam que um jato da força aérea ucraniana abateu o avião.

Ainda não há confirmação sobre o que provocou a queda do Boeing 777, mas acredita-se que a aeronave tenha sido atingida por um míssil terra-ar disparado de uma área sob controle de rebeldes no leste da Ucrânia.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse na sexta-feira que há "evidências" de que o avião foi derrubado por separatistas apoiados pela Rússia. Ele ressaltou que a ajuda dada por Moscou a rebeldes inclui armamentos antiaéreos, mas disse que ainda é cedo para cravar quais eram as intenções de quem lançou o míssil. 

A Rússia, no entanto, tem atacado países do Ocidente, acusando-os de travar uma guerra de informação contra Moscou. O Ministério da Defesa russo desafiou a Ucrânia a detalhar a operação de seus sistemas antiaéreos no momento da queda.

O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou na sexta-feira um comunicado pedindo por uma "investigação internacional independente e completa". (Com agências internacionais)