ONGs temem que bombas brasileiras sejam usadas por terroristas
Organizações não-governamentais contrárias à produção de bombas "cluster" afirmam que a falta de transparência do governo brasileiro em relação ao destino dos armamentos após a exportação é preocupante. Nem o governo e nem a empresa fabricante das bombas no Brasil informam quem são os compradores.
Entidades temem que esse material possa ser desviado e utilizado por grupos terroristas como o Estado Islâmico, que atua no Iraque e na Síria.
Munições "cluster" são bombas que se abrem no ar e espalham dezenas de minibombas. Essas minibombas, quando não explodem ao tocar o solo, podem permanecer ativas por tempo indeterminado. Se manuseadas de forma incorreta, podem explodir e causar a morte ou a mutilação de grande número de vítimas.
Desde novembro de 2013, o Brasil dá incentivos fiscais para a produção desse tipo de arma, que foi banida em 2008 por uma convenção da ONU à qual o Brasil não aderiu.
“Ainda que não haja evidências ligando o uso de armamentos exportados pelo Brasil [a grupos terroristas], essa possibilidade certamente existe”, diz Mark Hiznay, pesquisador sênior da divisão de armas da Human Rights Watch.
“A ameaça de desvio e proliferação [desse tipo de arsenal] é uma preocupação”, enfatizou Hiznay.
Em 1º de setembro, a Human Rights Watch divulgou um comunicado alertando sobre o uso de munições 'cluster' pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Para Gabriel Silva, da Cluster Munition Coalition (CMC), a falta de transparência nas exportações brasileiras desse tipo de armamento é perigosa.
“Se nós não sabemos para quem o Brasil está vendendo, como saber que tipo de uso essas bombas estão tendo? O histórico do Brasil indica que essas armas são vendidas para regimes frágeis do Oriente Médio e do Sudeste Asiático. Não há garantias sólidas de que o arsenal ficará bem guardado”, afirma.
Segundo a CMC, o Brasil vendeu bombas "cluster" para Iraque, Arábia Saudita, Omã e Malásia. Os iraquianos teriam, segundo Gabriel, usado as bombas brasileiras durante a guerra contra o Irã (1980-1988). Os sauditas, por sua vez, teriam usado as bombas brasileiras contra o Exército iraquiano durante a Guerra do Golfo (1990-1991).
Mais recentemente, entre 2002 e 2010, o Brasil, vendeu o sistema de lançamento de foguetes Astros para a Malásia, mas não há informações sobre o tipo de munição fornecida.
O sistema Astros e Astros II permitem o lançamento de foguetes "cluster" como os produzidos pela Avibras com incentivos fiscais.
Saiba como funcionam as bombas cluster
Outro lado
Procurados pelo UOL, nem o Ministério da Defesa e nem o Exército Brasileiro informaram o destino das bombas produzidas no Brasil.
O Exército, em nota, pediu que a reportagem entrasse em contato com a Avibras, responsável pela produção do armamento.
O presidente da Avibras, Sami Hassuani, por sua vez, informou que a empresa tem compradores estrangeiros, mas que não poderia informar os países importadores pois os contratos têm “classificação de sigilo que não permitem a divulgação do cliente”.
O Exército Brasileiro disse ainda que não tem conhecimento sobre "monitoramentos possíveis" em relação às bombas vendidas pelo Brasil. (Leandro Prazeres)
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