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Sexo e política: Wolinski ia da intimidade do quarto ao que há de mais público na comunidade

O cartunista francês Georges Wolinski  - Guillaume Baptiste/ AFP
O cartunista francês Georges Wolinski Imagem: Guillaume Baptiste/ AFP

Pedro Cirne

Do UOL, em São Paulo

07/01/2015 12h23

Talvez você não conheça Georges Wolinski, mas, se gosta de quadrinhos, certamente já sentiu influência de seu talento no humor brasileiro. Adão Iturrusgarai e Angeli, por exemplo, estão entre os seus seguidores.

Georges Wolinski foi um dos quatro artistas assassinados nesta quarta-feira (7) na sede da revista francesa "Charlie Hebdo", em Paris. Os outros três foram Charb (Stéphane Charbonnier), Cabu (Jean Cabut) e Tignous (Bernard Verlhac). Ao todo, 12 pessoas morreram.

Wolinski nasceu em Túnis, na Tunísia, em 1934. Aos 12 anos, mudou-se com a família para a França, onde fez a carreira. Seus quadrinhos abordavam, basicamente (mas não só), dois temas: sexo e política.

A crueza com que Wolinski retratava ambos os temas foi um diferencial. Não havia tabus. Na capa do livro “Sexuellement Correct!” (“sexualmente correto”), um casal está pelado na cama. Em vez de serem retratados fazendo amor, entretanto, o que aparece é a mulher explicando didaticamente, com o auxílio de uma lousa, o que seu cônjuge deve fazer.

Em uma sociedade machista, o homem tende a achar que ele é o bambambã da cama, que ele é sempre o professor, que a mulher só tem a aprender com ele. Wolinski estava lá para mostrar o contrário.

E, se Wolinski apontava o que havia de errado na intimidade do quarto, por que pouparia sua verve do que há de mais público na comunidade? O comportamento das pessoas, de um modo geral, e dos políticos, em particular, também eram alvo.

Durante as revoltas estudantis de 1968, ele lançou “L'Enragé” (“o enfurecido”), uma importante revista de sátira. Excelente humorista que era, Wolinski não se acomodova em ser um bom observador da sociedade ao seu redor, mas fazia questão de apontar os incontáveis defeitos que via. Com humor.

Um de seus livros mais famosos é “Je Ne Veux Pas Mourir Idiot” (“não quero morrer sendo um idiota”). Mas não pensava só em si: as sátiras política e comportamental não têm como objetivo o humor apenas pelo humor. Querem mudar o mundo. Enquanto houver hipócritas, idiotas e intolerantes, a ousadia, o humor e a crítica de homens raros como Wolinksi ainda serão necessários. 

Charges de Georges Wolinski - Reprodução - Reprodução
Charges dos livros 'Sexuellement Correct!' (esq.) e 'Je Ne Veux Pas Mourir Idiot'
Imagem: Reprodução