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Homens armados matam 15 pessoas na Nigéria durante eleição tensa

Sunday Alamba/AP
Imagem: Sunday Alamba/AP

Do UOL, em São Paulo

28/03/2015 11h02Atualizada em 28/03/2015 17h53

Homens armados mataram ao menos 15 pessoas, incluindo um político da oposição, perto de estações eleitorais no nordeste da Nigéria neste sábado, lançando uma sombra sobre a primeira disputa eleitoral genuína desde o fim do regime militar em 1999.  

O pleito é visto como a primeira eleição em que um candidato da oposição tem uma séria chance de desbancar o presidente Goodluck Jonathan, mas amplos temores de que ela possa motivar violência já estão se tornando realidade.  

Insurgentes islamitas do Boko Haram lançaram diversos ataques contra eleitores no nordeste, matando três no Estado de Yobe e mais três em Gombe, disse a polícia. Pelo menos oito pessoas, incluindo o candidato de oposição da Assembleia para Dukku em Gombe, também foram mortas por um atirador não identificado, disse um porta-voz para o Congresso de Todos Progressistas (APC, na sigla em inglês).  

Militantes do Boko Haram, que estão tentando reviver um califado islâmico na Nigéria, rejeitam a democracia. O líder Abubakar Shekau ameaçou matar nigerianos que saiam para votar.

Separadamente, atiradores mataram um soldado nigeriano em uma emboscada na cidade petroleira de Port Harcourt, no sul, neste sábado, afirmaram militares. A cidade é um reduto de apoio a Jonathan, mas tem uma longa história de violência política.

Os vilarejos de Birin Bolawa e Birin Fulani, em Gombe, constante palco de atentados do grupo jihadista que assedia o nordeste do país, foram invadidos por terroristas em diversos veículos, segundo informaram à Agência Efe fontes da polícia. Os agressores entraram em pelo menos dois centros de votação atirando contra os cidadãos e queimando as cédulas de voto. Depois, percorreram os vilarejos para queimar veículos e pediram às pessoas para que não saíssem de casa e não participassem das eleições.

"Nós ouvimos os agressores gritarem: 'não dissemos para permanecer longe das eleições?'", contou um funcionário local da Comissão Eleitoral Independente (INEC), que pediu para permanecer anônimo. "Eles colocaram fogo em todo o material eleitoral que deixamos por lá ao fugirmos", explicou.

Segundo Karim Jauro, um morador de Birin Fulani, outro ataque ocorreu às 6h15. "Como as pessoas os viram, começaram a correr, mas os homens armados abriram fogo no local de votação, matando um homem", disse à AFP. Eles também queimaram o material eleitoral.  

"Estamos convencidos de que o Boko Haram está por trás deste ataque, porque pediram às pessoas que não participassem nas eleições", acrescentou Jauro.  

Abubakar Shekau, líder do grupo armado islâmico Boko Haram, ameaçou em fevereiro interromper o processo eleitoral que considera "em desacordo com o Islã", em um vídeo postado no Twitter. "Estas eleições não vão acontecer, mesmo que nos matem. Embora já não vivamos, Alá não vai permitir", ameaçou.

Na véspera das eleições, grupo decapitou 25 pessoas

Na sexta-feira (27), véspera das eleições, um grupo de militantes do Boko Haram na Nigéria matou pelo menos 25 pessoas em ataque à remota aldeia nigeriana de Buratai, no estado de Borno, disse o governador neste sábado. As vítimas teriam sido decapitadas.

"Eu recebi um comunicado de que 25 pessoas foram mortas na cidade de Buratai e cinco pessoas ficaram feridas. Meu Comissário de Educação participou do funeral dos mortos", disse Kashim Shettima aos jornalistas após a votar.

 As eleições, que deveriam ter ocorrido no dia 14 de fevereiro, foram atrasadas para este sábado, de modo a tentar garantir mais segurança. Os cidadãos decidem entre Jonathan e o opositor Muhammadu Buhari.

A onda de atentados suicidas nas últimas semanas contra mercados e estações de ônibus levantam temores contra ataques aos eleitores neste sábado. A insurreição de Boko Haram matou mais de 13 mil pessoas, principalmente no norte da Nigéria, em seis anos.

Novo sistema atrapalha o pleito

Um novo sistema eletrônico de cadastro implantado pela Comissão Eleitoral da Nigéria para as eleições presidenciais e legislativas deste sábado gerou um grande atraso no processo de votação em todo o país.  

Para poder exercer seu direito nos centros de votação, que abriram às 8h no país, os cidadãos precisam validar seus "cartões de voto" em um leitor eletrônico que os autentifica. Uma falha generalizada em todos os leitores, que a Comissão tenta solucionar, fez com que cada cidadão demorasse cerca de 15 minutos para validar o cartão, sendo que o procedimento deveria levar poucos segundos.  

Um dos afetados foi o próprio presidente do país, Goodluck Jonathan, que, após três tentativas e meia-hora para validar o cartão com o leitor, teve que ser inscrito manualmente por um dos funcionários de Otueke, sua cidade natal.  

Ao comprovar o problema gerado pelo novo sistema, o presidente pediu para que os cidadãos sejam pacientes. "Se eu posso aguentar, os cidadãos também podem. Todo mundo depende dessas eleições, então sejamos pacientes", disse aos jornalistas.

"O povo quer votar e está decidido a não ir até que o problema seja solucionado", disse à Agência Efe um eleitor de Lagos.

O site da Comissão Eleitoral Independente da Nigéria (INEC, sigla em inglês) também foi hackeado neste sábado. "Estamos cientes da recente invasão sofrida pelo site da INEC, estamos investigando esse incidente", confirmou a comissão eleitoral através de sua conta oficial no Twitter.

Por cerca de duas horas, foi possível ler no site hackeado, sobre um fundo preto, uma mensagem de um grupo que chamado "Ciberexército nigeriano". "Estas são as eleições de 2015 e estamos aqui, mas desta vez de uma forma diferente. O 'Ciberexército nigeriano' reivindica esta invasão à base de dados do INEC. A todos os nigerianos: compareçam e votem para garantir que o voto conte", dizia a mensagem. Na mensagem, os hackers afirmaram que "a segurança é apenas uma ilusão" e disseram que já tiveram a acesso a outros servidores do governo.

O comparecimento dos eleitores nos centros de votação está sendo em massa, por isso é esperado um alto índice de participação, apesar da violência. (Com agências internacionais)