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Mastifes tibetanos que custavam US$ 250 mil saem de moda e são abandonados na China

Um mastife tibetano já chegou a ser vendido US$ 1,6 milhão - Ed Jones/AFP
Um mastife tibetano já chegou a ser vendido US$ 1,6 milhão Imagem: Ed Jones/AFP

Do UOL, em São Paulo

17/04/2015 18h13

Há pouco tempo, durante o auge da mania na China pelos cães da raça Mastife Tibetano, um exemplar da raça custava até US$ 250 mil (R$ 760 mil). Mas essa época passou.

Em vez disso, no início deste ano, cerca de 20 mastifes mais azarados acabaram na traseira de um caminhão, em gaiolas de metal e acompanhados de mais 150 cachorros. Se não fosse por um grupo de ativistas dos direitos dos animais de Pequim que se jogaram na frente do veículo, os mastifes teriam acabado em um abatedouro no nordeste da China --onde, por US$ 5 por cabeça, teriam virado ingredientes de um ensopado, couro falso e pêlos para luvas de inverno, de acordo com reportagem do 'The New York Times'.

O cenário de luxo chinês está repleto de mercadorias desvalorizadas como Audis pretos, relógios Omega e apartamentos de arranha-céus em cidades do terceiro nível. Algumas pessoas são vítimas de uma desaceleração da economia, enquanto outras são vítimas de uma campanha oficial de austeridade que tornou o consumo ostentatório uma bandeira vermelha para investigadores anticorrupção.

Também constava nessa lista o Mastife Tibetano, um cão proveniente das montanhas do Himalaia. De acordo com a imprensa local, há quatro anos, um cachorro chegou a ser vendido por US$ 1,6 milhão.

Hoje em dia, esses mesmos criadores deixaram o negócio sofrendo de excesso de capacidade. Os compradores desapareceram e os preços despencaram para uma fração do que era antigamente --cerca de US$ 2.000, embora muitos criadores estejam aptos a ceder ainda mais.

"Se eu tivesse outras oportunidades, desistiria deste negócio", disse Gombo ao 'Times', um criador na província de Qinghai --noroeste da China. Ele afirmou que manter carnívoros com um peso médio de 80 kg custa aproximadamente US$ 50 por dia. "A pressão é enorme", conta.

De certa maneira, o arrefecimento pelos bichos reflete a inconstância de uma classe consumidora que adota e descarta novos produtos com abandono.

As notícias sobre mastins atacando pessoas, algumas fatalmente, também contribuíram para o abandono da raça. Apesar de não ser intrinsecamente feroz, mastifes tibetanos são muito leais a seus donos, o que aumenta a probabilidade de ataques a estrangeiros, dizem especialistas.

Nos últimos anos, uma série de cidades chinesas proibiram a raça, abaixando ainda mais a demanda e contribuindo para o aumento dos abandonos.

As equipes de resgate dos cachorros no caminhão ficaram chocadas. Vários dos mastifes tinham membros quebrados e não haviam recebido comida ou água por três dias. No momento em que foram liberados de suas gaiolas, mais de um terço deles foram mortos.

"Isso faz você se sentir tão sem esperança porque nem mesmo a polícia vai ajudar, mesmo que o que essas pessoas estejam fazendo seja ilegal", disse Anna Li, que administra um fundo de hedge, quando ela não está organizando operações de guerrilha para parar caminhões cheios de cães em rodovias chinesas.

Ativistas dos direitos dos animais dizem que muitos dos cachorros são roubados por quadrilhas que pegam animais na rua, embora alguns tenham sido vendidos pelos criadores ansiosos para descarregar animais imperfeitos. A julgar pelas suas mamas inchadas, várias fêmeas resgatadas foram usadas para amamentar quando foram jogadas fora, disse Mary Peng, fundadora e executiva-chefe do Centro Internacional de Serviços de Veterinária de Pequim --onde os bichos têm sido tratados.

Durante seus 25 anos na China, Peng tem visto sucessivas ondas de modismos com cães, que invariavelmente começam com reprodução especulativa e terminam em abandono em massa. "Dez anos atrás, eram pastores alemães. Em seguida, golden retrievers. Depois, dálmatas e huskies", disse ela. "Mas dados os preços loucos que vimos há alguns anos, eu nunca pensei que veria um mastim tibetano na parte de trás de um caminhão de carne."