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Acampamentos de imigrantes se tornam parte da paisagem de Paris em meio a disputa por cotas da UE

Joel Saget/AFP
Imagem: Joel Saget/AFP

Angeline Benoit

17/06/2015 16h12

Barracas e colchões, cozinhas a céu aberto, pedidos de socorro, mostras de exasperação: no coração da Cidade Luz, estão crescendo rapidamente acampamentos improvisados de imigrantes, uma das mais recentes consequências dos violentos conflitos na África e no Oriente Médio.

Desde o começo do ano, as cidades europeias foram atingidas por um afluxo sem precedentes de refugiados que está sobrecarregando as autoridades locais, enquanto o fardo de receber pessoas em busca de asilo fugindo de guerras, de violações de direitos humanos e da fome está aumentando a tensão entre os membros da União Europeia.

O governo francês anunciaria nesta quarta-feira medidas para aumentar a capacidade de lidar com as chegadas que sobrecarregaram as autoridades de Paris nos últimos meses.

A equipe da prefeita de Paris, Anne Hidalgo, vem enfrentando dificuldades para conter os acampamentos não autorizados. Nos últimos dias, cerca de 350 imigrantes ilegais se estabeleceram em um parque do 18o arrondissement, na região nordeste de Paris, perto da estação de trem Austerlitz e ainda mais perto do rio Sena.

Os imigrantes estão buscando novas residências depois que um grupo inicial de 470 pessoas foi desalojado por forças policiais de uma ponte atrás da estação Gare du Nord, no início do mês, em uma ação que recebeu cobertura da imprensa em todo o mundo.

A maioria vem da Eritreia e do Sudão, segundo a prefeitura de Paris. Alguns atravessaram o Mediterrâneo em jangadas para chegar a terras europeias.

Hidalgo defendeu a instalação de uma unidade em Paris.

"Eles não podem ficar nas ruas à noite, sem um teto", disse ela no dia 9 de junho.

Contudo, o governo francês teme que isso possa impulsionar tensões políticas e encorajar uma maior imigração ilegal para a capital francesa, depois que um acampamento oficial perto da cidade de Calais, no norte, provocou exatamente isso e precisou ser desativado devido a distúrbios, em 2002.

Agora, milhares de imigrantes que tentam chegar ao Reino Unido dormem em florestas e em terrenos baldios em torno de Calais, esperando uma oportunidade para atravessar o Canal da Mancha.

Em vez disso, o governo planeja oferecer mais acomodações temporárias para quem busca asilo, melhorar as informações a respeito dos procedimentos e combater as redes de imigração ilegal, informou a AFP na terça-feira. As medidas visam a evitar os acampamentos de refugiados e os problemas de segurança e higiene decorrentes deles, disse o primeiro-ministro Manuel Valls.

Protestos parisienses

Nesta semana, a Itália, país de chegada à Europa para a maioria dos imigrantes, ameaçou emitir autorizações de viagem para permitir que eles viajem a países vizinhos da União Europeia. Até o momento, a polícia francesa vem impedindo a passagem pela fronteira, perto da cidade de Ventimiglia.

Enquanto isso, em Paris, os moradores se mostram chocados com a situação calamitosa dos imigrantes. Houve protestos na semana passada para exigir mais acomodações para os refugiados depois que a polícia tentou desmantelar novos assentamentos.

No último fim de semana, cerca de 150 pessoas, a maioria homens adultos e um punhado de mulheres e adolescentes, se mudaram com barracas improvisadas e colchões para o jardim de Eole, perto da colina de Montmartre e de sua famosa Basílica de Sacré Coeur.

A nova localização representa uma clara melhora em relação à Gare du Nord: a praça tem dois banheiros e uma fonte. Vizinhos e ativistas fizeram cartazes pedindo lençóis, telefones celulares velhos, calçados, roupas e sacos de juta. Uma cozinha a céu aberto foi estabelecida para servir café e entregar alimentos e os cidadãos locais aparecem com pratos, pizzas e sanduíches.

Hollande se reunirá com o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, no domingo, em Milão.

Enquanto isso, Hidalgo continua sob pressão. Os ativistas realizaram mais uma manifestação na terça-feira à noite -- desta vez no jardim de Eole.