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#SelfieWithDaughter: os tweets podem realmente ajudar as mulheres da Índia?

Saurabh Das/AP
Imagem: Saurabh Das/AP

Kartikay Mehrotra

02/07/2015 17h41

Poucos líderes mundiais sabem como conquistar uma plateia como o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. Ele se tornou rapidamente a cara da Índia --o maior embaixador, diretor de marketing e principal diplomata.

Além disso, ele fez grande parte do trabalho pelo Twitter. Modi é o líder mundial com o segundo maior número de seguidores: 13,4 milhões. Ele só fica atrás do presidente dos EUA, Barack Obama, que tem 61,2 milhões. Modi começou a usar sua influência nas redes sociais para defender suas políticas, na esperança de viralizá-las. Um exemplo é #SelfieWithDaughter (#SelfieComFilha).

Usando tweets associados com a hashtag, Modi está levantando a preocupação sobre a diminuição da razão mulheres/homens em algumas regiões do país. Ele pediu que, a fim de celebrar as filhas da nação, a Índia compartilhasse fotos com a hashtag #SelfieWithDaughter, que viralizou. De Iowa ao Estado rural de Haryana, onde a campanha começou, as fotos inundaram o Twitter.

Mas eis a questão: embora Modi tenha seguido todos os passos corretos ao divulgar campanhas sociais sobre a disparidade de gênero e a igualdade, seus gastos públicos não ficaram à altura. No ano passado, o governo de Modi gastou cerca de um terço dos 900 milhões de rúpias (US$ 14,15 milhões) previstos para o principal programa da Índia sobre a razão criança/sexo. E, neste ano, o ministro da Economia, Arun Jaitley, cortou o total do orçamento do Ministério do Desenvolvimento da Mulher e da Criança em 45%. Há uma desconexão clara entre os discursos no Twitter e as ações.

Eficácia

O feticídio feminino, a alimentação preferencial para meninos em detrimento de meninas e os casamentos infantis geraram a mais baixa razão criança/sexo da história da Índia. Ela também é a menor do mundo entre países de importância, depois da China. Não é um bom desempenho, em nenhuma medida.

Será que campanhas em redes sociais, como #SelfieWithDaughter, podem fazer alguma diferença? Elas são eficazes para esclarecer a população e provocar uma mudança de comportamento? Os defensores da equidade de gênero têm dúvidas. "Não é necessariamente algo ruim, mas é um modo de desviar a atenção dos verdadeiros problemas do patriarcado e da desigualdade que fazem com que a Índia seja um lugar tão inóspito para as mulheres", disse Kerry McBroom, diretora da iniciativa de direitos reprodutivos da Rede de Leis dos Direitos Humanos, em Nova Délhi. "Tirar fotos sorrindo ao lado das filhas dá a impressão de que o governo atual está preocupado com as jovens... É muita conversa e pouca ação para os pobres, especialmente para as mulheres pobres".

As milhares de fotos lindas de pais e filhas publicadas no feed do Twitter de Modi provavelmente vêm de famílias ricas com alto nível de escolaridade. A desigualdade de gênero, no entanto, é particularmente aguda em regiões assoladas pela pobreza, como em Haryana e em outros lugares onde poucas pessoas têm dinheiro para comprar um smartphone e tirar selfies com ele. Essas são as histórias que não estão sendo contadas, essas são as pessoas a quem não se está chegando, essas são as pessoas que mais precisam desse esclarecimento.

"O que estamos tentando conquistar com uma selfie de pai e filha?", pergunta Nandita Bhatt Pradhan, gerente de programa da Pesquisa Participativa na Ásia, uma organização não governamental que foca na igualdade entre os gêneros. "É necessário que haja uma discussão no momento em que publicamos essas fotos se o que realmente queremos é acabar com os casos em que pais estupram as filhas".