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Vaticano abre 1º julgamento por pedofilia, mas adia processo após internação

Manuel Diaz/AP
Imagem: Manuel Diaz/AP

Do UOL, em São Paulo

11/07/2015 09h20Atualizada em 11/07/2015 13h23

O ex-núncio apostólico do Vaticano na República Dominicana, Jozef Wesolowski, 66, passou mal e foi hospitalizado antes do início de seu julgamento, programado para este sábado (11), sob acusação de abuso sexual contra menores e posse de material pornográfico com crianças.

O julgamento, o primeiro por pedofilia em um tribunal do Vaticano, começou mesmo assim, mas a Corte apenas leu as acusações contra o ex-núncio e, em seguida, o processo foi adiado.

O polonês estava sob prisão domiciliar desde setembro no Vaticano. Ele sofre há alguns meses de um problema de saúde e disse que se sentia mal nesta sexta-feira (10), quando foi internado em um centro de terapia intensiva, segundo a Santa Sé. A Igreja não informou qual o problema de saúde, nem o estado atual de Wesolowski.

Fontes disseram à agência de notícias Ansa que a internação foi provocada por "uma grave queda de pressão devido ao calor, à tensão e à idade". 

"O acusado sentiu-se indisposto de forma repentina e foi levado a um hospital de Roma", afirmou o promotor Gian Piero Milano no tribunal. Wesolowski foi internado em caráter de emergência no Vaticano, antes de ser levado para um hospital romano, onde permanece sob vigilância policial.

Julgamento durou sete minutos

A audiência deste sábado durou apenas sete minutos, o tempo necessário para o promotor ler as acusações contra Wesolowski e confirmar sua internação.

O presidente do tribunal, Giuseppe Dalla Torre, informou que o julgamento será adiado para uma data ainda a ser definida.

O juiz, o advogado de defesa e os promotores que participam no julgamento sem precedentes são todos laicos italianos. 

Acusações e prisão

Józef Wesolowski foi ordenado padre em 1972 pelo então arcebispo de Cracóvia, o futuro papa João Paulo 2º, que o promoveu a bispo em 2000.

Depois de trabalhar como núncio na Bolívia e em vários países asiáticos, ele chegou à República Dominicana em 2008. Cinco anos depois, foi acusado pela imprensa local de manter relações sexuais com menores. 

O Vaticano o convocou em agosto de 2013, o afastou de suas funções e se negou a extraditá-lo para a Polônia. 

A polícia prendeu o polonês em setembro de 2014 e, depois, ele foi condenado à prisão domiciliar. Em dezembro, ele obteve o direito de maior liberdade de movimento dentro do Estado do Vaticano por motivos de saúde. 

Wesolowski é acusado de ter mantido relações sexuais com menores de idade quando exercia o cargo de núncio na República Dominicana, e de posse de milhares de fotografias de conteúdo pedófilo. Esse último crime passou a integrar a legislação vaticana por iniciativa do papa Francisco, em 2013.

As acusações de abusos sexuais são baseadas nos depoimentos ouvidos pelas autoridades competentes de Santo Domingo, segundo o Vaticano. 

Se for considerado culpado, Wesolowski pode ser condenado a seis ou sete anos de prisão, sem considerar as possíveis circunstâncias agravantes.

Pressão sobre o Vaticano

O julgamento é inédito na história recente do Vaticano e ilustra a nova linha de combate à pedofilia, apesar das críticas de associações de vítimas, que consideram que a Igreja não faz o suficiente. 

A Santa Sé anunciou em junho a criação de uma nova instância eclesiástica para punir os bispos culpados de negligência --ou inclusive de cumplicidade-- com os padres sob sua autoridade. Vários bispos acusados de proteger padres pedófilos foram obrigados a abandonar a batina.

Uma comissão internacional auxilia o pontífice na tentativa de encontrar uma forma de prevenir os abusos contra menores de idade. 

Em março, outro padre polonês, Wojciech G., foi condenado a sete anos de prisão em Varsóvia por atos de pedofilia cometidos na República Dominicana e na Polônia.

O Vaticano já abrigou um julgamento famoso em 2012, o do ex-mordomo do Papa Bento XVI, Paolo Gabriele, condenado por vazar à imprensa italiana documentos confidenciais, mas posteriormente perdoado.

(Com Reuters e AFP)