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Fuga de moto de 'El Chapo' aumenta dúvidas sobre prisão mexicana

Policial federal vistoria o túnel por onde o narcotraficante Joaquín "El Chapo" Guzman fugiu da prisão de segurança máxima de Altiplano, em Almoloya, no oeste do México - Marco Ugarte/AP
Policial federal vistoria o túnel por onde o narcotraficante Joaquín "El Chapo" Guzman fugiu da prisão de segurança máxima de Altiplano, em Almoloya, no oeste do México Imagem: Marco Ugarte/AP

Nacha Cattan

20/07/2015 13h59

Se a fuga de Joaquín "El Chapo" Guzmán da prisão levou as autoridades mexicanas a reformularem a segurança da instalação para garantir que os vários outros chefões do crime não escapem, elas estão fazendo um bom trabalho ao negá-lo.

Medidas drásticas são urgentemente necessárias na prisão de segurança máxima Altiplano porque alguns dos mais notórios criminosos de quadrilhas de traficantes de drogas acusados e condenados estão alojados lá, disse Martín Barrón, pesquisador da Inacipe, uma universidade mexicana de criminologia.

Guzmán, o traficante de drogas mais famoso do México, fugiu por um buraco no piso do chuveiro de sua cela para um túnel de 1,5 quilômetro de extensão, que estava equipado com uma motocicleta adaptada sobre trilhos. Apesar de mais de 30 executivos e agentes penitenciários terem sido demitidos ou interrogados e sete presos, altos funcionários do governo insistem que a prisão cumpre os padrões internacionais de segurança. Não foi anunciada nenhuma alteração física na instalação.

"Eles não estão admitindo suas falhas", disse Barrón, cuja universidade é parcialmente financiada pela Procuradoria-Geral do país. "Outros presos podem encontrar uma forma de fugir".

A Procuradoria-Geral preferiu não dizer se os prisioneiros mais famosos seriam transferidos ou se estão avaliando uma extradição. O governo dos Estados Unidos havia pedido a extradição de Guzmán depois que alguns congressistas disseram que uma instalação mexicana provavelmente não o impediria de sair livre. Guzmán havia fugido de outra prisão mexicana em 2001.

Chefes do crime presos

Entre os chefes do crime ainda presos na Altiplano, segundo o governo, estão Servando "La Tuta" Gómez Martínez, líder da quadrilha Cavaleiros Templários, Mario Cárdenas Guillén, do cartel do Golfo, e Édgar Valdéz Villarreal, apelidado de La Barbie, do cartel Beltrán Leyva.

A imprensa local informou que Omar Treviño, um líder do cartel Zetas, também está preso lá, e que seu irmão Miguel, o chefe principal da mais brutal quadrilha de traficantes, tinha transferência programada para a prisão.

A Altiplano é um "vespeiro de presos que poderiam muito bem escapar", disse Mike Vigil, ex-chefe de operações internacionais aposentado da Drug Enforcement Administration (DEA), a agência norte-americana antidrogas, e autor do livro DEAL. "O governo mexicano terá que avaliar bem se torna a prisão segura ou constrói uma nova", pois as outras cadeias mexicanas não são mais seguras que essa.

O ministro do Interior, Miguel Ángel Osorio Chong, disse que o sistema prisional do México precisa de uma reformulação e que enviaria propostas ao Congresso com esse objetivo.

'Ação sem precedentes'

Ao mesmo tempo, ele defendeu a Altiplano, que foi criada há 14 anos, dizendo que a prisão cumpre plenamente os padrões internacionais.

A fuga de Guzmán foi "uma ação sem precedentes que quebra todos os paradigmas dos protocolos de segurança de qualquer prisão no mundo", disse Osorio em uma entrevista coletiva na semana passada. "Porque quando eu digo que ela é certificada, quero dizer que ela tem uma certificação que é a mesma de muitas prisões que eu posso citar dos EUA e de outros países. Exatamente a mesma".

O Ministério do Interior preferiu não responder aos pedidos de mais comentários sobre segurança na prisão Altiplano.

A coordenadora do sistema prisional federal do México, Celina Oseguera, foi demitida após a fuga, juntamente com o diretor da prisão Altiplano, que fica cerca de 80 quilômetros a oeste da Cidade do México.

O diretor interino da prisão, Jaime Fernández, que assumiu no dia 12 de julho, disse que não conhecia a prisão o suficiente para discutir qualquer mudança.

Na entrevista coletiva com Osorio, na semana passada, repórteres perguntaram se as celas da prisão precisavam ser reforçadas. Osorio respondeu que o assunto estava sendo investigado.