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General americano admite que atacar hospital afegão foi decisão e erro dos EUA

Do UOL, em São Paulo

06/10/2015 16h31

 

Retirada dos soldados americanosO chefe das forças dos Estados Unidos no Afeganistão, o general John Campbell, admitiu nesta terça-feira (06) que o ataque de sábado passado contra um hospital da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Kunduz, no qual morreram 22 pessoas, foi um "erro" e uma "decisão" do comando militar americano.

Ante uma comissão das Forças Armadas no Senado, o general assumiu claramente a responsabilidade americana pelo bombardeio, que foi qualificado de "crime de guerra" pela organização Médicos Sem Fronteiras.

O hospital "foi atingido por engano" em um ataque americano "solicitado" pelos afegãos, mas decidido pela "rede de comando americana", declarou o general Campbell.

Na segunda-feira, o general Campbell havia dito que o ataque havia sido solicitado pelas autoridades afegãs, dando a impressão de que as autoridades americanas procuravam jogar a culpa no governo afegão. "Para ser claro, a decisão de realizar um ataque aéreo era uma decisão americana, tomada pela rede de comando americana", insistiu o general.

"Um hospital foi atacado por erro. Nunca marcaríamos como alvo de maneira intencional uma instalação médica protegida", explicou Campbell, que não revelou outros detalhes para deixar que a investigação aberta por Washington siga seu curso.

Devido ao ataque contra o hospital da MSF, no qual morreram 12 integrantes da ONG e dez pacientes, Campbell ordenou uma revisão das regras que justificam ataques no Afeganistão. "Para prevenir novos incidentes desse tipo, pedi a toda nossa força que realize uma revisão a fundo de todas as autorizações operacionais e as regras de ataque", comentou o general, chefe dos cerca de 10 mil militares americanos no Afeganistão.

O secretário de Defesa dos EUA, Ash Carter, disse que o Pentágono "lamenta profundamente" a perda de vidas. "As Forças Armadas dos EUA tomam o maior cuidado em nossas operações para evitar a perda de vidas inocentes, e quando cometemos erros, nós os assumimos. Isso é exatamente o que estamos fazendo agora", afirmou Carter, que está em viagem à Europa, em comunicado. "Faremos tudo que pudermos para entender este trágico incidente, aprender com ele e responsabilizar as pessoas, se necessário", acrescentou.

Em entrevista à emissora "CNN", o diretor-executivo da MSF, Jason Cone, disse que, a não ser se apresentem provas, tudo indica que o ataque contra o hospital de Kunduz foi "deliberado", já que a organização havia dito diversas vezes as coordenadas do centro às autoridades de Cabul e Washington.

O presidente da MSF na França, Mego Terzian, declarou que não acredita "em um erro dos americanos. Estou convencido de que infelizmente não foi um erro". "Foi um ato de enorme inconsequência criminosa", acusou o encarregado, durante uma audiência em Paris ante a comissão de Relações Exteriores da Assembleia Nacional francesa.

Perguntado sobre se o presidente americano, Barack Obama, prevê se desculpar pelo ataque, o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest, disse que os Estados Unidos levam o assunto "muito a sério" e que falta saber "mais" sobre "como ocorreu exatamente".Ao reconhecer a situação delicada que atravessa o Afeganistão, o general americano defendeu a necessidade de manter um contingente de tropas americanas maior do que o previsto para depois de 2016.

"Acredito que temos que fornecer opções distintas ao plano atual com o qual estamos trabalhando", que prevê que as tropas deixem o país quase completamente no final de 2016, declarou o general John Campbell ante o Comitê do Senado. De acordo com os planos atuais, após 2016 "vamos ter capacidades muito limitadas" para a formação e apoio das tropas afegãs, disse ele.

Várias ofensivas recentes dos talibãs, como em Kunduz (norte) na semana passada, mostraram que as forças afegãs são incapazes de manter suas posições, apesar dos 60 bilhões de dólares investidos por Washington por 14 anos.

Até agora, o governo do presidente Barack Obama planejava deixar no final de 2016, quando o atual mandato chega a seu final, uma força residual de apenas algumas centenas de soldados americanos na embaixada da capital afegã.

Em relação aos relatórios de imprensa que afirmam que Obama estuda manter tropas americanas no Afeganistão em 2017 e atrasar a retirada completa, Earnest sustentou que não há nenhuma decisão tomada e que o governo analisa "vários fatores".Segundo a Casa Branca, a decisão de Obama sobre o tema será determinada pelas "condições do solo" no Afeganistão.(AFP e EFE)