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Mulher-bomba, Hasna era festeira até se radicalizar

DH/LES SPORTS/Reprodução
Imagem: DH/LES SPORTS/Reprodução

Do UOL, em São Paulo

19/11/2015 22h08Atualizada em 19/11/2015 22h08

Hasna Aitboulahcen, a mulher-bomba francesa que se explodiu em um apartamento em Saint Denis, ao norte de Paris, na quarta-feira (18), era muçulmana, mas tinha uma vida festeira, afastada dos costumes de sua religião: bebia álcool e raramente frequentava mesquitas.

Filha de um imigrante marroquino, tinha 26 anos e nasceu em 1989 em Clichy la Garenne, também ao norte de Paris. Hasna estava sob vigilância policial desde que seu nome apareceu em uma investigação sobre tráfico de drogas, segundo afirmam fontes da polícia francesa.

Ainda não está clara qual seria a ligação dela com o terrorista belga Abdelhamid Abaaoud, mentor dos ataques que mataram 129 pessoas na capital francesa na semana passada e que foi morto no apartamento em que Hasna detonou os explosivos. Ela costumava dizer que era "prima" de Abaaoud, mas o termo é muito usado entre os jovens franceses e descendentes de países do Norte da África para se referir a amigos próximos com quem não compartilham parentesco.

A mulher detonou os explosivos que tinha em seu corpo durante ação policial que durou cerca de sete horas em Saint Denis e que resultou na morte de Hasna e Abaaoud, e na prisão de outras oito pessoas. Os detidos não tiveram suas identidades divulgadas pelas autoridades.

Bem antes do amanhecer de quarta-feira (18), a polícia francesa invadiu o apartamento em Saint-Denis. "Onde está seu namorado, onde está?", grita um policial de elite. Uma voz rouca e estridente responde: "Ele não é meu namorado!". Seguem detonações e, pouco depois, uma explosão.

Após uma infância de maus-tratos e uma juventude regada a festas, ela trocou o chapéu de caubói que costumava usar pelo véu completo.

Há seis meses, a súbita transformação da jovem de 26 anos surpreendeu os moradores de Aulnay-Sous-Bois, um bairro popular de Paris. Hasna Ait Boulahcen "havia começado a usar o hijab (a túnica que cobre todo o corpo, exceto o rosto) para, um mês depois, adotar o niqab. Ela fabricou sua própria bolha, mas não procurava estudar a religião, eu nunca a vi abrir um Alcorão", indicou à AFP um homem que se apresenta como seu irmão e pediu anonimato.

Até então, seus familiares conheciam uma jovem comum, de "calça jeans e óculos escuro". "Às vezes excêntrica", conta Sofiane. Seu apelido? "Chapéu de palha, porque ela o usava com frequência. Brincalhona, mas também instável, ela podia aparecer na sua frente e fazer um rap".

Chapéu de palha

Mesmo espanto tiveram as pessoas de Creutzwald, cidade no leste da França, para onde a jovem ia com frequência visitar seu pai, de 74 anos. O pai, um muçulmano praticante que deixou a família para trabalhar para a Peugeot, está atualmente no Marrocos.

Lá, ela é lembrada como uma menina festeira, "com seu chapéu e botas de caubói", que "de vez em quando fumava e bebia nas festas", conta um velho amigo, Jerome.

Hasna Ait Boulahcen teve uma infância difícil, marcada por maus-tratos, sendo colocada em um lar adotivo entre 8 e 15 anos. "No início, tudo corria bem. Era uma garota como qualquer outra", mas sem qualquer gesto de ternura, testemunha sua mãe adotiva à AFP.

Então as coisas se deterioram: "Para mim, o problema vinha de sua casa", das visitas uma vez por mês a seus pais. Ela se lembra de 11 de setembro de 2001, quando a menina "aplaudia os ataques nos Estados Unidos assistindo TV".

Ela deixou a família de repente, aos 15 anos. Último contato foi em 2008. "Quando ela saiu, eu disse a mim mesmo: 'está perdida", disse a mãe adotiva, que chorou ao ver sua imagem na televisão. "Ao crescer, ela perdeu as referências, multiplicou as fugas, as más companhias", resume o irmão.

Depois de sua súbita radicalização, uma "lavagem cerebral" segundo sua mãe, de 58 anos, a jovem "passava seu tempo criticando tudo, ela não aceitava nenhum conselho e mantinha relações questionáveis", lembra o irmão.

"Ela estava sempre com seu smartphone no Facebook e WhatsApp". Três semanas atrás, ela partiu para morar com uma amiga em Drancy. (Com agências internacionais)