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Buffett direciona a políticos carta sobre sorte de ser americano

Reprodução/Business Insider
Imagem: Reprodução/Business Insider

Noah Buhayar

29/02/2016 15h32

Warren Buffett chega a um grande público com suas cartas anuais aos acionistas da Berkshire Hathaway --e, no sábado (27), ele atingiu de forma direta os eleitores dos EUA.

Em passagens arrebatadoras, ele rejeitou o pessimismo econômico que domina a campanha presidencial norte-americana de 2016, classificando-o como "totalmente errado", e defendeu um futuro brilhante. Apoiador da democrata Hillary Clinton, o CEO da Berkshire, 85, não identificou os candidatos que defendem uma perspectiva obscura. Mas sua mensagem diverge da postura da maior parte do campo republicano e do desafiante de Hillary nas eleições primárias, o senador por Vermont Bernie Sanders.

As cartas de Buffett, reverenciadas devido à sabedoria dele para os investimentos e repletas de piadas curtas e populares, muitas vezes inclui passagens direcionadas a gestores de recursos, banqueiros e outros CEOs, além dos acionistas da Berkshire. Ultimamente, ele vem incursionando mais na política, fazendo campanha para Hillary e falando sobre as direções que gostaria que o país seguisse.

"Ele está combatendo o rolo compressor Donald Trump", disse Steve Wallman, gestor de recursos em Middleton, Wisconsin, que investe na Berkshire desde 1982, em referência ao principal candidato republicano. "Esse foi um recado em nome de Hillary. E eu acho que ele deu sua opinião com a esperança de influenciar a discussão".

A carta ressaltou também o crescimento dos negócios operacionais da Berkshire, que contribuíram para um lucro líquido recorde de US$ 24,1 bilhões no ano passado. Buffett aclamou a unidade ferroviária BNSF por se recuperar dos resultados abaixo da média em 2014. E elogiou as maiores empresas de seu portfólio de ações, incluindo a IBM e a American Express, que estão em queda. O bilionário disse também que haverá mais aquisições, inclusive de um negócio de fabricação que ele comprou há apenas algumas semanas em um de seus maiores negócios.

Superação de sonhos

Mas, acima de tudo, Buffett projetou sua visão sobre a "tendência todo-poderosa" rumo a uma maior produtividade que transformou os EUA em um grande país e que continuará beneficiando a Berkshire. Ao longo de sua vida, escreveu ele, a produção econômica per capita do país se multiplicou por seis, "um salto que foi muito além dos maiores sonhos dos meus pais ou dos contemporâneos deles".

Os candidatos que têm pintado um quadro de aflição econômica adotam essa estratégia apenas para ganhar votos, não porque isso reflita com exatidão os desafios do país, disse ele.

"Como resultado dessa campanha negativa, muitos americanos agora acreditam que seus filhos não viverão tão bem quanto eles", escreveu Buffett. "Essa visão está totalmente errada: os bebês que estão nascendo nos EUA hoje são a geração mais sortuda da história".

Liderados por Trump, o bilionário magnata do setor imobiliário, os republicanos têm feito críticas implacáveis ao direcionamento da economia dos EUA, que, segundo eles, está sendo abatida pela ascensão da China e pela chegada de imigrantes oriundos de países pobres. Sanders, que se descreve como socialista democrata, tem incitado a classe trabalhadora e os eleitores jovens com o foco na desigualdade de renda, que, segundo ele, assola a classe média.

Pessimismo dos eleitores

Parece que muitos eleitores compartilham essa visão pessimista. Apesar dos sucessivos trimestres de crescimento econômico, os tópicos trabalho e emprego lideraram a lista de preocupações entre os democratas, e, para os republicanos, a economia empatou com o terrorismo como preocupação número 1, segundo a pesquisa eleitoral de referência da Gallup, realizada entre 21 e 25 de janeiro.

Mesmo que a economia dos EUA se expanda a longo prazo, as brigas em relação à prosperidade do país não terminarão, escreveu Buffett. Os ganhos de produtividade forneceram enormes benefícios à sociedade, mas também deixaram alguns trabalhadores para trás --inclusive nas empresas que pertencem à Berkshire.

"A resposta a essas perturbações não é restringir nem proibir ações que aumentam a produtividade", disse Buffett. "A solução, em vez disso, é uma variedade de redes de segurança destinadas a proporcionar uma vida decente para aqueles que estão dispostos a trabalhar, mas descobrem que seus talentos específicos são considerados de pouco valor por causa das forças de mercado".