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"Ninguém mais se sente 100% seguro", diz brasileira que vive em Munique

Joyce Almeida diz que depois dos atentados na França ?ninguém mais se sente 100% seguro? - Arquivo Pessoal
Joyce Almeida diz que depois dos atentados na França ?ninguém mais se sente 100% seguro? Imagem: Arquivo Pessoal

André Carvalho

Do UOL, em São Paulo

22/07/2016 20h50

Munique é um lugar tranquilo para se viver. Para brasileiros que moram lá, é uma cidade que, apesar de ser a terceira maior da Alemanha, nada lembra a correria e a insegurança das grandes metrópoles do Brasil. Nesta sexta-feira (22), no entanto, tudo mudou com o tiroteio ocorrido em um shopping center que deixou ao menos nove mortos.

"Eu estava andando na rua com uma amiga, perto da Karlsplatz, e a gente entrou numa loja de perfumes. Aí um segurança veio e disse que a polícia estava na rua, que não era para ninguém sair dali, porque tinha acontecido um ataque no shopping Olympia", disse ao UOL a analista de dados Sheyla Krodel, de 29 anos, que vive na cidade há 8 meses.

A falta de informações sobre o paradeiro dos autores do ataque fez com que os seguranças da loja recomendassem aos clientes que permanecessem no local por algumas horas.

"O cara levou a gente para um lugar perto da saída de emergência, indicou que se alguém entrasse na loja pela porta principal era para gente sair por aquela saída de trás. A cada dez minutos, ele vinha para passar alguma informação. Chegou a dizer que teríamos que passar a noite ali", contou Sheyla que, no entanto, resolveu ir, "por conta e risco", para casa, distante 3 km do local.

Helene Pietz, que vive em Munique desde novembro de 2013, diz que desde os atentados de Paris o medo cresceu na cidade - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Helene Pietz diz que desde os atentados de Paris o medo cresceu na cidade
Imagem: Arquivo Pessoal
A incomum tensão causada pelo ataque aos moradores da cidade alemã, acostumados com um ritmo mais pacato, no entanto, já podia ser sentida há algum tempo.

"Nós que vivemos aqui na Europa já estamos com um certo medo por conta desse alto número de ataques. Então eu acreditava numa possibilidade [de a cidade ser alvo de ataques], sim", afirmou Rafael Piva, estudante de 23 anos.

Estagiário em uma empresa de engenharia elétrica há nove meses, Piva conta que já tinha a sensação de que novos atentados pudessem ocorrer em locais situados fora dos grandes centros europeus. "Antes, eu achava que na Alemanha, Berlim seria o alvo, mas como vimos também em Nice, na França, e até mesmo aqui na Alemanha, na semana passada, no trem em Würzburg, pensei, então, que Munique seria claro um alvo bem possível".

Piva conta que, desde que chegou à cidade, percebeu uma mudança grande em relação à preocupação com a segurança, por parte das autoridades. "Eu cheguei aqui antes do ataque em Paris. Desde então, já percebi uma mudança grande com relação à segurança, principalmente nas principais estações de trem."

Joyce Almeida, modelo de 25 anos, que vive em Munique desde agosto de 2015, concorda que, depois dos atentados na França, "ninguém mais se sente 100% seguro". Para ela, há um grande movimento solidário ocorrendo na cidade, logo após o atentado: moradores estão recebendo pessoas que estão longe de suas casas e não tem como voltar para seus lares. "Depois que cheguei em casa e soube do atentado, eu não tive coragem de ir para fora de casa. O aviso é para ficar em casa. O clima de terror é inevitável."

22.jul.2016 - Rafael Piva, estudante de 23 anos, conta sobre medo em Munique após atentado - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
"Nós que vivemos aqui na Europa já estamos com um certo medo", diz Rafael Piva
Imagem: Arquivo Pessoal

A modelo acredita que a rotina dos habitantes de Munique deverá mudar. "A partir de agora, temos que tomar alguns cuidados. Não andar muito na região central da cidade. Marienplatz é um lugar muito conhecido aqui no centro, cheio de turistas. Acho que todo lugar que chame muita atenção, é bom evitar. Nunca se sabe. O clima de segurança mudou completamente".

Engenheira de suporte na Microsoft, Helene Pietz, de 32 anos, vive na cidade desde novembro de 2013. Ela também acha que, a despeito da tranquilidade da cidade de 1,3 milhões de habitantes, "já estava com medo que algo assim como o que aconteceu hoje pudesse acontecer". Para Helene, "desde os últimos acontecimentos, em Paris e Istambul, o medo vem crescendo aqui".

"Fiquei sabendo [do atentado] pelo rádio quando já estava em casa, pois hoje, por sorte, saí mais cedo do trabalho. Meu trem passa exatamente na região onde ocorreu o atendado. Muitas pessoas não têm e não tiveram como voltar para casa pois os transportes públicos não estão circulando, então os moradores se solidarizaram e criaram a hashtag #opendoors no Twitter para oferecer abrigo para quem não tem como voltar para casa."

22.jul.2016 - Sheyla Krodel, de 29 anos, vive em Munique há 8 meses - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Sheyla Krodel ficou horas dentro de uma loja no centro da cidade
Imagem: Arquivo Pessoal

Ela conta, também, que "a polícia está pedindo para as pessoas evitarem lugares públicos e ficarem em casa. Táxis não estão circulando também. Clubes noturnos não vão funcionar hoje. Várias estações de trem foram evacuadas. Aqui perto de casa tem bastante ambulância e carro de polícia passando. Helicópteros também estão sobrevoando a cidade. Munique está sob alerta".

Com os suspeitos ainda à solta, "fica esse medo no ar", diz Helene. "Eu mesmo só penso como vai ser segunda-feira, quando tiver que pegar o trem para o trabalho". Para ela, há um clima de tensão elevado, e uma insegurança que em nada faz lembrar a "calmaria" de Munique de outros tempos. Para ela, já passou da hora de "as pessoas amarem mais e odiarem menos".