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Morre aos 93 anos o ex-premiê israelense Shimon Peres

Oded Balilty/AP
Imagem: Oded Balilty/AP

27/09/2016 23h08

O ex-primeiro-ministro de Israel e Prêmio Nobel da Paz Shimon Peres morreu aos 93 anos nesta quarta-feira (28, hora local), após ter sofrido um AVC em 13 de setembro. Ele já havia tido dois problemas cardíacos no último mês de janeiro, passando por uma cirurgia para desobstruir uma artéria.

O israelense havia sofrido em janeiro passado dois alertas cardíacos em apenas dez dias. Foi hospitalizado em 14 de janeiro após um pequeno acidente cardiovascular, que exigiu a implantação de um cateter para alargar uma artéria. Saiu do hospital cinco dias depois, mas retornou posteriormente devido a uma arritmia.

Peres era o último sobrevivente da geração dos fundadores do Estado de Israel e foi um dos participantes nos Acordos de Oslo nos anos 1990, que lhe rendeu o prêmio Nobel da Paz em 1994 ao lado do então premiê israelense, Yitzhak Rabin, e do líder palestino Yasser Arafat.

Nascido na antiga cidade polonesa de Wiszniew, hoje a bielorrussa Vishnyeva, Peres se mudou para Tel Aviv, então na Palestina, com 11 anos. Mais velho, trabalhou em comunidades agrícolas de judeus, conhecidas como 'kibbutz', e integrou a juventude do movimento trabalhista, de tendências socialistas.

Cada vez mais envolvido com a política, Peres ingressou no Haganah, que se tornaria as Forças Armadas de Israel com a criação do Estado judeu, em 1948. No novo governo israelense, passaria a ser um dos nomes mais importantes do Ministério da Defesa, e em 1959 foi eleito pela primeira vez para o Knesset, o Parlamento israelense.

Peça central do Partido Trabalhista, Peres comandou o Ministério dos Transportes antes de se tornar ministro da Defesa na primeira gestão do premiê Yitzhak Rabin (1974-1977), quando defendeu a implantação das primeiras colônias na Cisjordânia ocupada. Os assentamentos se multiplicariam ao longo do tempo e virariam um obstáculo a um novo acordo de paz entre israelenses e palestinos.

O político tentou vencer as eleições gerais como líder trabalhista cinco vezes entre 1977 e 1996, mas não obteve êxito. Mesmo assim, foi primeiro-ministro em duas ocasiões: entre 1984 e 1986, quando os trabalhistas se uniram ao rival Likud, e entre 1995 e 1996, substituindo Yitzhak Rabin, assassinado por um fanático israelense.

Na segunda gestão de Rabin (1992-1995), Peres, então ministro das Relações Exteriores, se uniou ao premiê e ao líder da Organização para a Liberação da Palestina, Yasser Arafat, para assinar os Acordos de Oslo. Israel se comprometeu a desocupar militarmente a faixa de Gaza e a Cisjordânia, além de reconhecer a OLP, agora Autoridade Palestina, como administradora transitória dos territórios palestinos.

Apesar do recebimento do Nobel da Paz, os três líderes não conseguiram avançar além disso. A atuação de extremistas de ambos os lados, insatisfeitos com o acordo, e a política de assentamentos do sucessor de Peres, Benjamin Netanyahu, nos territórios palestinos impediram uma transição de fato para que as bases políticas do tratado fossem atingidas.

Peres assumiria mais uma vez o cargo de Ministro das Relações Exteriores, dessa vez durante o governo de Ariel Sharon, entre 2001 e 2002, e posteriormente serviria como presidente, função que é em maior parte cerimonial em Israel, de 2007 a 2014, antes de deixar definitivamente o governo.

Aos 93 anos, o ex-premiê ainda era uma figura ativa em Israel, através de seu Centro Peres para a Paz, que promove a convivência entre judeus e árabes. Ele dizia que o segredo de sua longevidade era fazer exercício diariamente, comer pouco e beber um ou dois copos de um bom vinho.

Entre suas duas internações no hospital em janeiro, afirmou que tinha vontade de "voltar ao trabalho" e "continuar servindo ao nosso belo país que tanto amo".

A morte de Peres coincide com uma etapa sombria no processo de paz entre israelenses e palestinos, pelo qual o político tanto lutou: não há perspectiva de solução à vista e a impressão de que os Acordos de Oslo estão sepultados ganha força.