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Após Trump falar com Taiwan, governo chinês reforça princípio de uma 'única China'

O presidente eleito dos EUA Donald Trump e a presidente de Taiwan Tsai Ing-wen - Evan Vucci e Chinag Ying-ying/ AP
O presidente eleito dos EUA Donald Trump e a presidente de Taiwan Tsai Ing-wen Imagem: Evan Vucci e Chinag Ying-ying/ AP

No UOL, em São Paulo

05/12/2016 10h05

O governo chinês disse nesta segunda-feira (5) que a única maneira de manter a atual cooperação entre os EUA e a China é se Washington respeitar o princípio de uma "única China".

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Lu Kang, disse que acredita que os EUA manterão seu compromisso com esse princípio, pelo qual o único governo chinês reconhecido pelo governo americano é o de Pequim, o que afasta Washington das aspirações independentistas de Taiwan. "Somente assim podemos garantir a continuidade do desenvolvimento da cooperação de benefício mútuo entre ambas as partes", disse Lu em entrevista à imprensa, após o recente contato telefônico de Trump com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen.

A conversa com Tsai Ing-wen foi a primeira de um presidente ou presidente eleito norte-americano a um líder taiwanês desde que o então presidente Jimmy Carter reconheceu Taiwan como parte de "uma China" em 1979. Pequim vê o território como uma província renegada.

Lu Kang não disse com todas as letras para quem a China apresentou "representações severas" a respeito do telefonema de Trump, repetindo um comunicado do final de semana segundo o qual a queixa foi encaminhada ao "lado relevante" nos EUA.

"O mundo inteiro conhece a posição do governo chinês sobre a questão de Taiwan. Acho que o presidente eleito Trump e sua equipe também a entendem", disse Lu em um boletim diário à imprensa.

"O lado chinês em Pequim e Washington apresentou representações solenes ao lado relevante nos EUA. O mundo entende muito bem a posição solene da China. O lado dos EUA, incluindo a equipe do presidente eleito Trump, entende muito bem a posição solene da China nesta questão".

A conversa telefônica de Trump com Tsai Ing-wen "foi apenas um telefonema de cortesia", disse no domingo o vice-presidente eleito, Mike Pence. Ele disse que a presidente de Taiwan desejava apenas felicitar Trump por sua vitória.

O jornal 'Washington Post', no entanto, informou que a ligação havia sido analisada durante semanas, com a intenção de apontar uma grande mudança na política de Washington em relação a Taiwan e China. O jornal citou fontes envolvidas na ligação.

A busca de melhores laços com os Estados Unidos não vai contra o compromisso de paz e estabilidade nas relações com a China, disse hoje em uma entrevista improvisada à imprensa a ministra do Conselho de Assuntos da China Continental (CACC) de Taiwan, Chang Hsiao-yueh, antes de participar de um comitê parlamentar.

O governo de Taiwan não tem a mais mínima intenção de voltar "ao caminho anterior de antagonismo" com a China e não se unirá a um país para atacar outro, acrescentou Chang, em referência ao fato de que a ilha não voltará à política de enfrentamento com a China, como durante a presidência de Chen Shui-bian (2000-2008), e que não vai colaborar com os Estados Unidos contra os interesses da China.

O telefonema de felicitação da presidente de Taiwan a Trump não deve ser visto pela China como algo incomum, disse Chang.

Trump, que durante a campanha rotulou a China como manipuladora do câmbio, voltou a usar uma retórica dura no domingo.

"A China nos perguntou se estava tudo bem desvalorizar a moeda (tornando difícil para nossas empresas competirem), taxar pesadamente nossos produtos que entram em seu país (os EUA não os taxam) ou construir um imenso complexo militar no meio do Mar do Sul da China? Acho que não!", tuitou o presidente eleito.

China, Taiwan, Filipinas, Vietnã, Malásia e Brunei reivindicam partes ou a totalidade do Mar do Sul da China, que é rico em fontes energéticas e pelo qual trilhões de dólares de remessas navegam anualmente.