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Como o atentado contra o chanceler russo pode afetar a relação entre Rússia e Turquia?

Turquia diz que não deixará que ataque contra embaixador russo prejudique laços - Burhan Ozbilici/ AP
Turquia diz que não deixará que ataque contra embaixador russo prejudique laços Imagem: Burhan Ozbilici/ AP

Do UOL, em São Paulo

19/12/2016 20h25

Rivais históricos, Rússia e Turquia já protagonizaram diversos episódios de tensão diplomática. O atentado contra o embaixador russo, Andrei Karlovneta, nesta segunda-feira (19) em Ancara, capital turca, aconteceu, no entanto, em um momento em que as nações estavam se aproximando.

Em lados opostos no conflito da Síria, os governos da Turquia e Rússia estavam colaborando, nos últimos dias, na operação de evacuação de civis da cidade de Aleppo, no norte da Síria.

Para os especialistas em relações internacionais ouvidos pelo UOL, a relação entre Turquia e Rússia não deverá ser afetada radicalmente, porque tudo indica que o assassinato foi um ato sem relação com o governo. Contudo, se o assassinato do chanceler russo tivesse acontecido há seis meses, o cenário seria diferente.

"Essa rivalidade entre os países chegou ao ápice quando a Turquia derrubou um caça russo", analisa o professor de Relações Internacionais da UnB (Universidade de Brasília) Juliano da Silva Cortinhas.

Em 24 novembro de 2015, a aviação turca derrubou um avião militar russo perto da fronteira com a Síria. Segundo o governo da Turquia, o avião havia violado o seu espaço aéreo. Após o ataque, o presidente russo, Vladimir Putin, disse que o ato era uma "punhalada pelas costas".

Em reação ao ataque, o governo russo decretou sanções econômicas contra a Turquia, como a proibição de empregar turcos em empresas russas e a interdição das importações de certas mercadorias.

Relação estava amistosa

Até o atentado desta segunda-feira, a tensão entre os países estava sob controle para os órgãos internacionais de segurança.

Segundo Cortinhas, a "amizade" entre as nações foi retomada em junho deste ano, após o governo da Turquia ter sofrido uma tentativa de golpe de Estado. "A Rússia se mostrou solidária ao presidente turco Recep Tayyip Erdogan", explica o professor.

Com isso, a relação entre Turquia e Rússia não deverá ser afetada radicalmente, porque tudo indica que o assassinato foi um ato terrorista. 

"A Rússia não vai entrar em conflito aberto contra a Turquia nem deve romper relações diplomáticas", diz o professor de Relações Internacionais da USP, Feliciano Sá Guimarães.

De acordo com Guimarães, a preocupação principal do governo russo é ampliar o domínio do presidente sírio Bashar al-Assad sobre o território do país. Putin deverá manter seus esforços bélicos direcionados a esse propósito. 

15.dez.2016 -Sírios que foram evacuados acenam ao chegar em posto de controle Khan al- Aassal, na região oeste de Aleppo - Omar haj kadour/ AFP - Omar haj kadour/ AFP
Sírios que foram evacuados acenam ao chegar em posto de controle Khan al- Aassal, na região oeste de Aleppo
Imagem: Omar haj kadour/ AFP

Ambos os professores também dizem que o acordo para a retirada de civis de Aleppo deverá ser mantido. 

Histórico do conflito na Síria

O conflito armado que começou com protestos contra o presidente Basha al-Assad que cresceram até dar origem a uma guerra civil total. Mais de 11 milhões de pessoas tiveram que deixar suas casas, em meio à batalha entre forças leais ao governo e oposicionistas - e também sob a ameaça de militantes radicais do Estado Islâmico.
 
Os protestos pró-democracia começaram em março de 2011, na cidade de Daraa, após a prisão e tortura de adolescentes que haviam pintado slogans revolucionários no muro de uma escola. Forças de segurança mataram os manifestantes, o que alimentou a insurgência por todo o país - em julho daquele ano, centenas de milhares tomavam as ruas.
 
A violência se intensificou e o país entrou em guerra civil quando brigadas rebeldes foram formadas para enfrentar forças do governo pelo controle de cidades e vilas. A batalha chegou à capital, Damasco, e a Aleppo, segunda cidade do país, em 2012.
 
O conflito hoje é mais do que uma disputa entre grupos pró e anti-al-Assad. Adquiriu contornos sectários, jogando a maioria sunita contra o ramo xiita alauita de al-Assad. E o avanço do EI deu uma nova dimensão à guerra.
 
O EI se aproveitou do caos e tomou controle de grandes áreas na Síria e no Iraque, onde proclamou a criação de um "califado" em junho de 2014. Seus integrantes estão envolvidos numa "guerra dentro da guerra" na Síria, enfrentando rebeldes e rivais jihadistas da Frente al-Nusra, ligada à Al-Qaeda, bem como o governo e forças curdas.
 
Em setembro de 2014, uma coalizão liderada pelos EUA lançou ataques aéreos na Síria em tentativa de enfraquecer o EI. Mas a coalizão evitou ataques que poderiam beneficiar as forças de Assad. Em 2015, a Rússia iniciou campanha aérea alvejando terroristas na Síria, mas ativistas da oposição dizem que os ataques têm matado civis e rebeldes apoiados pelo Ocidente.
 
Há evidências de que todas as partes cometeram crimes de guerra - como assassinato, tortura, estupro e desaparecimentos forçados. Também foram acusadas de causar sofrimento civil, em bloqueios que impedem fluxo de alimentos e serviços de saúde, como tática de confronto. (Com informações da BBC.) 

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