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Trump admite que Rússia pode ter hackeado Hillary e democratas

Do UOL, em São Paulo

11/01/2017 14h57Atualizada em 11/01/2017 19h03

O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, admitiu nesta quarta-feira (11) em sua primeira entrevista coletiva desde que venceu a eleição, em novembro, que a Rússia pode ter hackeado a campanha presidencial de Hillary Clinton. Em comentários anteriores, Trump havia dito não acreditar que o escândalo de ataques aos sistemas democratas havia sido comandado pelos russos.

Trump também falou aos jornalistas sobre o suposto dossiê russo que a inteligência americana teria sobre fatos que comprometeriam Trump. Ele confirmou ter tido acesso às informações, as quais chamou de mentirosas, e criticou a publicação do conteúdo do dossiê, divulgada no site "BuzzFeed".

"Quanto ao hacking, creio que foi a Rússia, mas acho que também somos hackeados por outros países e outras pessoas", disse Trump, que em seguida afirmou que o sistema de segurança democrata era "muito ruim". Segundo ele, os Estados Unidos terá sua segurança de rede reforçada na nova administração.

Na sequência, questionado sobre o dossiê, Trump citou a negativa de Putin e do Kremlin sobre "as notícias falsas" e sinalizou novamente que os russos podem ter sido os protagonistas da invasão ao e-mail de Hillary.

"Putin e a Rússia soltaram um comunicado hoje dizendo que isso era notícia falsa. Eu respeito por ele [Putin] ter dito isso. Se eles tivessem algo [informação] sobre mim, eles teriam divulgado, como fizeram com Hillary. Veja, hackear é uma coisa ruim, mas veja o que aprendemos com isso: que Hillary Clinton conseguiu receber [antecipadamente] as questões [que seriam feitas a ela] em um debate, e não revelou isso? Podem imaginar o que aconteceria se Donald Trump recebesse as questões do debate? Seria a maior notícia da face da Terra."

Em seu pronunciamento no início da entrevista, Trump se justificou pelo longo período sem preparar coletivas de imprensa e citou a publicação do dossiê russo. "Paramos de conceder [coletivas] por causa das notícias inexatas publicadas. Mas quero agradecer a todos os veículos de imprensa aqui hoje, porque eles viram aquele nonsense [e não publicaram] --que talvez tenha sido vazado pelas organizações de inteligência, o que seria uma mancha na carreira deles, porque isso nunca deveria ter sido escrito. Ou divulgado."

O assunto voltou a ser questionado durante a coletiva, com Trump se referindo ao dossiê como "lixo", "mentira" e "desgraça". Ele também criticou duramente o "BuzzFeed" pela publicação. "Acho que é uma pilha de lixo escrito, e eles vão sofrer as consequências. Já estão sofrendo."

Em seguida, Trump não permitiu uma pergunta do jornalista Jim Acosta, da CNN, dizendo que a emissora publica "notícias falsas". Os dois bateram boca por alguns segundos até Acosta desistir de fazer a pergunta.

A CNN foi a primeira emissora a revelar que a inteligência americana tinha em mãos o dossiê russo, mas não divulgou o conteúdo do mesmo, que depois foi publicado pelo "BuzzFeed".

Ligação com a Rússia

A suposta ligação de Trump com os russos apareceu em outros momentos da entrevista coletiva, com o presidente eleito dizendo, por exemplo, que ter a simpatia de Putin é uma vantagem. "Se o Putin gosta do Donald Trump, considere isso uma vantagem, não uma desvantagem, porque tínhamos um péssimo relacionamento com a Rússia. E a Rússia pode nos ajudar a combater o Estado Islâmico."

"Não sei se vou me dar bem com Putin. Pode ser, mas existe uma chance de isso não acontecer. Mas de qualquer maneira: alguém realmente acredita que a Hillary seria mais dura com Putin do que eu? Dá um tempo", disse.

Ainda sobre a Rússia, Trump afirmou não ter qualquer "acordo ou negócio" com o país.

Muro com o México

Questionado sobre quando iniciará a construção do muro na fronteira com o México, Trump disse que quer fazê-lo o quanto antes, e não esperar um ano e meia para começar a obra. Segundo ele, haverá uma negociação com o país vizinho --Trump afirmou que o México pagará pelo muro de alguma forma, "seja através de um imposto ou por meio de um pagamento".

Em seguida, aliviou as críticas ao México elogiando o governo do país. "O México tem sido muito bom. Respeito o governo mexicano e as pessoas. Não culpo os presidentes ou os mexicanos por tirarem vantagem dos Estados Unidos, mas isso não deveria ter acontecido."

Economia e conflito de interesses

Trump disse que seria "o maior produtor de empregos que Deus já criou" e afirmou que buscará fazer com que as empresas norte-americanas produzam dentro do país.

Boa parte da conversa foi dedicada ao tema de conflito de interesses por causa de sua atuação como empresário. Trump, amparado por uma advogada, anunciou que não teria mais qualquer envolvimento em seus impérios de negócios e transferiu todos os ativos para um trust, além de ter colocado seus dois filhos no controle das empresas.

Trump opera uma variedade de resorts de golfe e hotéis em todo o mundo. A advogada anunciou que todos os lucros gerados nos hotéis de Trump por governos estrangeiros serão doados para o Tesouro dos EUA. (Com agências internacionais)