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Em meio a denúncias de golpe, Venezuela tem prisões em série de políticos anti-Maduro

O general da reserva venezuelano Raúl Baduel, um dos detidos - Juan Barreto/AFP
O general da reserva venezuelano Raúl Baduel, um dos detidos Imagem: Juan Barreto/AFP

Em Caracas

12/01/2017 20h43

O governo da Venezuela acusou nesta quinta-feira (12) Lilian Tintori, mulher do líder opositor Leopoldo López, de planejar um golpe de Estado contra o presidente Nicolás Maduro, em um movimento que indica o aumento da repressão.

O ministro do Interior e Justiça, general Néstor Reverol, divulgou uma conversa telefônica entre duas pessoas, identificadas como Tintori e o deputado suplente Gilber Caro, detido na véspera com um fuzil e explosivos, segundo o governo.

"Descobrimos nos últimos dias um plano terrorista desestabilizador (...) arquitetado por membros da extrema direita", afirmou o ministro.

Segundo o governo, o plano previa atos de violência contra o palácio presidencial de Miraflores para resgatar López, condenado em setembro de 2015 a quase 14 anos de prisão por incitar à violência durante protestos contra Maduro que deixaram 43 mortos em 2014.

A mulher de López disse que conversou por telefone com Caro várias vezes sobre uma passeata da oposição até o Miraflores, em outubro passado, que acabou suspensa devido ao início do diálogo com o governo.

"Leopoldo jamais vai fugir. É mentira que haja um golpe. Queremos uma saída para este desastre de forma constitucional, pacífica e eleitoral. Não acreditamos na violência ou temos armas", afirmou Tintori em entrevista coletiva.

Reverol informou ainda a detenção do general reformado Raúl Baduel, aliado do finado presidente Hugo Chávez (1999-2013) e agora crítico de seu governo, que estava em liberdade condicional.

O ministro acusou Baduel de também estar envolvido em manobras desestabilizadoras.

Dois vereadores da oposição foram igualmente detidos nas últimas horas sob as mesmas acusações.

Reverol destacou que estas ações fazem parte de um trabalho de "comando anti-golpe" ativado por Maduro na terça-feira passada, liderado pelo vice-presidente, Tareck El Aissami.

Segundo o general, Caro integra a estrutura de segurança de Tintori e é "homem de confiança" de López.

Caro já foi condenado à prisão duas vezes: a 20 anos em 1985, por homicídio, e a 15 anos em 1993, por tráfico de drogas.

"Com Walter Méndez, chefe da segurança de Tintori, Caro organizava uma estrutura de choque integrada por células paramilitares colombianas para cometer atos terroristas", declarou o ministro.

Mecanismo de repressão

A oposição afirma que a nomeação de Tareck El Aissami como vice-presidente foi o sinal para deflagar o aumento da "repressão" na Venezuela, onde segundo a MUD há uma centena de "presos políticos".

O major da reserva Clíver Alcalá, antigo aliado de Chávez mas adversário de Maduro, comparou o "comando anti-golpe" às Operações de Libertação do Povo (OLP), ofensivas do governo contra a criminalidade que dispararam as denúncias de violações dos direitos humanos.

"O comando anti-golpe é a OLP para a política, para os que pensam de forma diferente, com o que Maduro busca se perpetuar no poder", disse Alcalá à AFP.

Apesar da Força Armada manifestar sua "lealdade absoluta" a Maduro, Alcalá recordou que os militares "não são uma exceção dentro do descontentamento generalizado" na Venezuela.

Alcalá avalia que Maduro busca "bloquear" qualquer eleição no país diante de sua baixíssima popularidade. Para 2017 estão previstas eleições de governadores, que deveriam ter ocorrido em 2016 mas foram adiadas.