Topo

"Obama restabeleceu dignidade ao cargo de presidente", afirma escritor sobre legado de líder americano

Obama encerra discurso de legado com frase que marcou campanha de 2008

UOL Notícias

Talita Marchao

Do UOL, em São Paulo

18/01/2017 04h00

Barack Obama deixa o cargo após oito anos como presidente dos EUA. Pouco se sabe sobre os seus planos para o futuro --tirar férias, ajudar Chicago, seu berço político, a enfrentar seus problemas sociais e econômicos, ou até a reestruturação do Partido Democrata, enfraquecido após a derrota na eleição. Mas a herança que o primeiro presidente negro dos EUA deixa é o fato de ter alterado para sempre a ideia de quem pode ser presidente, abrindo as portas para a possibilidade de que qualquer pessoa qualificada seja eleita.

A opinião é do escritor americano Michael D'Antonio, autor de "The Legacy of Barack Obama -A Consequential President" (O Legado de Barack Obama –Um Presidente Consequente, em tradução livre, não lançado no Brasil).

"Sua conduta como presidente permitiu que a América e o mundo reconhecessem que os níveis mais altos de realização podem ser alcançados por qualquer pessoa, não apenas pelos brancos, homens europeus-americanos. A maioria destas mudanças não pode ser desfeita por Donald Trump, e não acho que ele queira desfazê-los", disse D’Antonio em entrevista ao UOL

"A falta de escândalos em sua administração restabeleceu dignidade ao cargo de presidente", disse o escritor.

"Sua autenticidade emocional, incluindo a afeição por sua mulher, Michelle Obama, e tristeza evidente em momentos de tragédia, mostraram que você não tem que ser um macho-alfa em todas as situações para liderar", completou.

Na próxima sexta-feira (20), Obama transmite o cargo ao republicano Donald Trump, eleito com a promessa de acabar com muitas das medidas adotadas por Obama durante os oito anos.

O democrata deixa o posto com um país politicamente dividido: a maioria dos eleitores votaram em Hillary Clinton, assim como as grandes cidades; Trump ganhou no Colégio Eleitoral e no voto do interior do país.

Segundo o escritor, entre as conquistas relacionadas aos direitos civis que estão em seu legado está o apoio à igualdade no casamento e outras áreas de vida para os americanos gays e lésbicas.

"Outro ponto é o esforço para igualar a condenação de pessoas condenadas por cocaína, uma droga associada a brancos, e crack, que é mais associado aos negros, promovendo a igualdade no sistema de justiça", analisa D’Antonio, lembrando ainda que seus programas de educação melhoraram o status de crianças de minorias em de periferias.

Em 8 anos, Barack Obama soltou a voz e transformou a Casa Branca em karaokê

UOL Entretenimento

Autor de uma das biografias do presidente eleito dos EUA, Donald Trump, D'Antonio aposta que Trump deve redirecionar a política externa norte-americana e a abordagem do país em relação à segurança, e assim prejudicar o trabalho que Obama fez em seus oito anos para assegurar ao mundo que os EUA estão dispostos a tratar os outros com justiça.

"O país ganhou os olhos do mundo muçulmano por causa do alcance de Obama, e Trump poderia alienar os muçulmanos e inflamar sentimentos antiamericanos. Se ele se aproximar de Putin, também pode alienar os parceiros da Otan", avalia o escritor.

Para ele, apesar de Trump prometer desmantelar o programa de saúde de Obama, o presidente eleito mas deve descobrir que isso é mais fácil de falar do que de fazer.

"Uma vez que, como todos os políticos, ele estará preocupado em ser reeleito, pode ficar relutante em tirar benefícios de que as pessoas desfrutam agora", diz.

"O plano de Trump de estimular a economia por meio de gastos com infraestrutura deve beneficiar os trabalhadores e as comunidades locais, mas se ele continuar com uma guerra comercial contra a China e outros países, os benefícios de qualquer estímulo poderão ser reduzidos pelo aumento dos preços dos produtos importados pela América", acredita o biógrafo.

"Trump está prestes a descobrir que governar é muito mais difícil do que fazer campanha."