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Por que a causa da morte de Kim Jong-nam é um enigma para médicos legistas?

Imagem de câmera de segurança mostra Kim Jong-nam (de terno claro) falando com seguranças após ter sofrido ataque, no aeroporto internacional de Kuala Lumpur, na Malásia - Fuji TV via AP
Imagem de câmera de segurança mostra Kim Jong-nam (de terno claro) falando com seguranças após ter sofrido ataque, no aeroporto internacional de Kuala Lumpur, na Malásia Imagem: Fuji TV via AP

Do UOL, em São Paulo

21/02/2017 12h22

Determinar qual veneno foi responsável pela morte de Kim Jong-nam, o meio-irmão do líder norte-coreano Kim Jong-un, em um aeroporto movimentado tem se mostrado difícil para as autoridades da Malásia. Os resultados da autópsia ainda não foram concluídos.

Jong-nam não sofreu um ataque cardíaco e não tem marcas de perfuração no corpo, como a de uma agulha, disse Noor Hisham Abdullah, vice-ministro da Saúde, nesta terça-feira (21). Abdullah não descarta a hipótese de envenenamento como uma possível causa da morte. "Nós temos que confirmar com relatórios laboratoriais antes de fazer qualquer comentário conclusivo", disse.

Abdullah acrescentou que amostras médicas foram enviadas para especialistas para análise. No entanto, Rahmat Awang, diretor do Centro Nacional de Tóxicos da Malásia, em Penang, disse que ele ainda não recebeu as amostras. Awang disse que, em casos mais complexos, amostras são enviadas para ele e para laboratórios no exterior.

Identificar uma amostra de veneno é particularmente desafiador, especialmente se uma amostra mínima foi usada e ela não penetrou nas células de gordura do tecido da vítima. Se a toxina apenas entrou na corrente sanguínea, ela pode deixar o corpo rapidamente. E se a substância for encontrada, ela tem que combinar com os sintomas apresentados por Kim Jong-nam antes de sua morte.

Quanto mais específico é o veneno, mais difícil é identificá-lo.

"“Nosso laboratório, por exemplo, identifica os elementos químicos tradicionais", disse Awang. "Se a substância envolvida é uma que nós não observamos com frequência, a tendência é que nós não sejamos capaz de detectá-la".

Laboratórios com equipamentos mais sofisticados estão no Japão e no FBI, nos EUA.

O caso tem provocado perplexidade entre os toxicologistas forenses que estudam assassinato por envenenamento. Eles dizem que o ataque ao aeroporto é um dos casos mais bizarros já relatados. Eles se perguntam como duas mulheres puderam escapar sem ferimentos após manipular um agente tão potente a ponto de matar Kim Jong-nam antes que ele chegasse ao hospital.

Algum tipo de agente nervoso foi sugerido como um possível veneno usado. Um forte opioide poderia ser liquefeito e teria capacidade de incapacitar a vítima imediatamente. No entanto, câmeras de segurança do aeroporto mostram Jong-nam caminhando calmamente até o posto de saúde do aeroporto.

Forte vigilância

O hospital de Kuala Lumpur em que se encontra o corpo de Kim Jong-nam está sob vigilância, em meio aos boatos sobre a possível chegada do filho da vítima para reclamar o corpo.

O corpo de Kim Jong-nNam, assassinado na segunda-feira da semana passada no aeroporto de Kuala Lumpur, está no centro de uma crise diplomática entre Malásia e Coreia do Norte.

Pyongyang insiste que Kuala Lumpur deve entregar o corpo da vítima e expressou oposição a uma autópsia para determinar a causa do falecimento.

Mas o governo da Malásia rejeitou o pedido e insistiu que o corpo deve permanecer no necrotério até que um membro da família o identifique, depois de fornecer uma amostra de DNA.

Fontes do serviço secreto e a imprensa malaia afirmaram que o filho de Kim Jong-nam, Kim Han-sol, teria desembarcado na segunda-feira à noite em Kuala Lumpur, procedente de Macau.

Kim Jong-un (esq.) e Kim Jong-nam - Wong Maye-E e Shizuo Kambayashi/ AP - Wong Maye-E e Shizuo Kambayashi/ AP
Kim Jong-un (esq.) e Kim Jong-nam
Imagem: Wong Maye-E e Shizuo Kambayashi/ AP

Na manhã desta terça-feira, um comboio de quatro veículos entrou no complexo do hospital, escoltado por quase 30 homens das forças especiais malaias mobilizados para vigiar a área. Algumas horas depois, os agentes deixaram o local. Um veículo da polícia saiu do local às 4h locais (17h de Brasília, segunda-feira).

Nenhum integrante da família reclamou o corpo, informou Noor Hisham Abdullah.

Kim Jong-nam, considerado por um tempo o sucessor do regime norte-coreano, caiu em desgraça quando em 2001 protagonizou um incidente embaraçoso para o regime comunista.

Foi detido no aeroporto de Tóquio com um passaporte falso da República Dominicana. Na época, afirmou que queria visitar o parque de diversões Disneyland.

Desde então, viveu exilado com sua família em Macau, Cingapura ou China. Viajou em múltiplas ocasiões a Bancoc, Moscou e Europa.

Quando seu meio-irmão chegou ao poder, em 2011, expressou dúvidas sobre sua capacidade para governar. Os anúncios de expurgos, execuções e desaparecimentos - alguns confirmados, outros não - se multiplicaram desde a chegada ao poder de Kim Jong-un.