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Vítima de ataque com arma química que matou Kim Jong-nam foi salva pela jaqueta

20.mar.1995 - Passageiros afetados pelo gás sarin no metrô de Tóquio são levados para o hospital. A mesma seita que realizou esse ataque usou o agente VX, que seria a causa da morte de Kim Jong-nam, em outro atentado no Japão meses antes - Chikumo Chiaki/ AP
20.mar.1995 - Passageiros afetados pelo gás sarin no metrô de Tóquio são levados para o hospital. A mesma seita que realizou esse ataque usou o agente VX, que seria a causa da morte de Kim Jong-nam, em outro atentado no Japão meses antes Imagem: Chikumo Chiaki/ AP

Do UOL, em São Paulo

24/02/2017 12h47

O agente nervoso VX, que foi encontrado no corpo de Kim Jong-nam, já foi usado em um ataque no Japão. O japonês Hiroyuki Nagaoka foi uma das vítimas e sobreviveu graças à jaqueta que usava. A morte do meio-irmão do líder norte-coreano Kim Jong-un trouxe a experiência do ataque de volta à memória de Nagaoka.

Ele estava caminhando na calçada na região onde mora em Tóquio, em janeiro de 1995, quando um membro da seita Aum Shinrikyo, a mesma que meses depois iria promover o ataque ao metrô de Tóquio com gás sarin, espirrou o agente VX na parte de trás de seu pescoço. Muito do veneno foi bloqueado pela gola da jaqueta.

Nagaoka foi atacado porque era um oponente à seita. Membros da seita fizeram outras duas vítimas com a arma química. Uma delas, suspeito de ser informante da polícia, ficou 10 dias em coma e morreu.

Nagaoka seguiu até sua casa, mas cerca de meia hora depois do ataque, tudo começou a ficar escuro, um efeito da toxina que afeta a pupila e deixa a visão turva. Em seguida, ele começou a se sentir "quente por dentro" e a suar muito. Por isso, tirou as roupas.

Sua mulher disse que Nagaoka "caía de quatro como se fosse um animal", torcendo e arranhando o pescoço e o peito antes de rolar de dor e perder a consciência.

Ele foi levado ao hospital e permaneceu inconsciente por vários dias.

"Fui salvo pela gola da jaqueta que estava usando", disse à emissora japonesa NHK.

De acordo com os documentos da Justiça, dois químicos treinados tinham se juntado à seita para produzir o agente VX em um laboratório personalizado em 1994. Inicialmente, eles queriam produzir um quilo do produto, mas só conseguiram fazer cerca de 70 gramas.

Eles teriam um antídoto, mas não está claro pelos documentos da Justiça se algum integrante da seita foi afetado pela exposição ao agente VX.

Mais de 20 anos depois do ataque, Nagaoka ainda sofre com o entorpecimento do lado direito de seu corpo e usa um tubo de oxigênio inserido em suas narinas para ajudar na respiração.

Ao ver o vídeo com imagens das câmeras de segurança do aeroporto de Kuala Lumpur, Nagaoka disse que Kim Jong-nam parecia se mover cada vez mais lentamente. Por isso, Nagaoka achou que o norte-coreano poderia ter sido vítima do agente VX.

A polícia da Malásia afirmou que traços do VX foram identificados em um relatório preliminar de análise forense laboratorial conduzido com base em amostras coletadas no rosto e nos olhos da vítima.

Segundo relatos das testemunhas, duas mulheres aspergiram um líquido -- que pode ter sido o VX em forma líquida -- nos olhos de Kim Jong-nam.

Nagaoka também notou que Kim Jong-nam tinha marcas de suor na foto que viu da vítima sentada em uma cadeira. Por isso, o japonês acredita que Jong-nam deve ter suado muito, assim como ocorreu com ele.

O VX é uma arma química de cor amarela alaranjada, sem sabor e sem odor, produzida inicialmente na década de 1950. Quando é inalada ou absorvida pela pele, ela perturba o funcionamento do sistema nervoso e provoca constrição e o aumento das secreções na garganta, gerando dificuldade em respirar. Fluidos jorram do corpo, incluindo suor, urinação e defecação involuntárias, frequentemente seguida por convulsões, paralisia e morte.

Um antídoto, atropina, pode ser injetado após a exposição ao VX, sendo levado por médicos em zonas de guerra onde existe suspeita de uso de armas de destruição em massa.