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Presidente turco acusa Holanda por massacre e vê "fascismo desenfreado" na Europa

14.mar.2017 - O presidente turco Recep Tayyip Erdogan faz discurso para trabalhadores do setor de saúde em seu palácio, em Ancara - Murat Cetinmuhurdar/ Imprensa da Presidência turca via AP
14.mar.2017 - O presidente turco Recep Tayyip Erdogan faz discurso para trabalhadores do setor de saúde em seu palácio, em Ancara Imagem: Murat Cetinmuhurdar/ Imprensa da Presidência turca via AP

Do UOL, em São Paulo

15/03/2017 10h11

O presidente turco Recep Tayyip Erdogan acusou nesta quarta-feira (15) a Holanda de ter "massacrado mais de 8.000 bósnios muçulmanos em Srebrenica", em um novo ataque na crise diplomática entre Ancara e Haia.

"Não têm nada a ver com a civilização nem com o mundo moderno. Foram eles que massacraram mais de 8.000 bósnios muçulmanos na Bósnia Herzegovina, na matança de Srebrenica", afirmou Erdogan.

Erdogan também afirmou haver "um espírito de fascismo desenfreado na Europa", onde vários países impediram os comícios eleitorais de seus partidários. "O espírito de fascismo está desenfreado nas ruas da Europa", disse.

O massacre de Srebrenica já havia sido citado por Erdogan em discurso na terça-feira (14). "Conhecemos a Holanda e os holandeses pela matança de Srebrenica. Sabemos como é sua moral", está "quebrada pelos 8.000 bósnios que foram massacrados", disse.

"Ninguém deve nos dar lições de civilização", acrescentou.

Ancara suspendeu as relações "de mais alto nível" com Haia e bloqueou a volta à Turquia do embaixador holandês, em resposta à decisão do governo do primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, de impedir a entrada na Holanda de ministros turcos que iriam participar de comícios políticos - anulados pelas autoridades locais - a favor de Erdogan.

O presidente turco classificou esta medida de "vestígio" do nazismo e criticou Haia, assim como a chanceler Angela Merkel e a União Europeia que saíram em sua defesa.

"O tom de Erdogan é cada vez mais histérico", disse reagiu naa terça o premiê Rutte. "É incomum e inaceitável", acrescentou.

Rutte considerou como uma "falsificação nauseante da História" as críticas em relação a Srebrenica.

Cerca de 8.000 homens e meninos muçulmanos foram assassinados pelas forças sérvias da Bósnia no enclave de Srebrenica em apenas alguns dias, em julho de 1995, a pior matança cometida na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Os Capacetes Azuis holandeses, enviados sob mandato da ONU para defender o enclave, não conseguiram impedir a matança.

Erdogan também acusou Haia de "terrorismo de Estado" por ter impedido a entrada de seus ministros no país.

"O terrorismo de Estado da Holanda no sábado prejudicou principalmente a Europa e a União Europeia", afirmou Erdogan no discurso em que pediu que os eleitores votem 'sim' no referendo de 16 de abril para dar uma resposta aos "inimigos" da Turquia.

"Vamos trabalhar mais" em medidas contra a Holanda, disse Erdogan.

O vice-primeiro-ministro turco, Numan Kurtulmus, disse pouco depois que as represálias poderiam incluir sanções econômicas.

"Começamos com sanções políticas, mas as sanções econômicas podem chegar", afirmou à emissora CNN Türk.

Naa terça, Ancara também criticou uma declaração da União Europeia (UE), que pediu ao país que "evite declarações excessivas" em sua crise diplomática. Mas o Ministério das Relações Exteriores turco respondeu que "a declaração irrefletida da UE não tem valor".

O porta-voz do Departamento de Estado americano, Mark Toner, pediu na terça-feira a Ancara e Haia que "evitem uma escalada retórica e trabalhem juntos para resolver a situação".

A Holanda decidiu anular os comícios turcos a alguns dias das eleições legislativas desta quarta, nas quais o atual premiê Rutte enfrenta o representante da extrema-direita Geert Wilders.

Em meio a essa crise, o estado federado alemão de Sarre anunciou que proibirá qualquer dirigente político estrangeiro organizar comícios em seu território.

A Turquia realizará em 16 de abril um referendo sobre uma reforma constitucional que concede maiores poderes à figura presidencial.

Para obter maior apoio na consulta, os ministros turcos planejaram viagens por toda a Europa para incentivar os eleitores turcos em outros países.

Na Alemanha, residem cerca de 1,4 milhão de turcos com direito a voto, enquanto que, na Holanda, são outros 250.000, segundo cifras oficiais de novembro de 2015.