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Familiares desesperados tentam encontrar parentes após deslizamento de terra na Colômbia

Exército colombiano ajuda vítimas do deslizamento em Mocoa - Xinhua/Cortesía Ejército/COLPRENSA
Exército colombiano ajuda vítimas do deslizamento em Mocoa Imagem: Xinhua/Cortesía Ejército/COLPRENSA

Do UOL, em São Paulo

02/04/2017 14h16

Famílias desesperadas e equipes de resgate procuram neste domingo (2) centenas de desaparecidos devido ao transbordamento de três rios e deslizamento de terra em Mocoa, uma cidade de 40 mil pessoas na selva colombiana na fronteira com Equador e Peru.

A tragédia matou ao menos 200 pessoas e ocorreu no sábado à noite, entre 23 horas e uma da manhã, e muitas pessoas estavam dormindo foram atingidas pela enxurrada.

"Eu quero saber algo sobre elas, se elas estão feridas ou se estão mortas, que Deus tenha piedade...", disse à Reuters María Lilia Tisoy, chorando enquanto procurava sua neta e duas filhas, uma delas grávida, no que restou de sua casa.

Dezenas de crianças que não conseguiram encontrar seus pais foram levadas para abrigos por serviços sociais, enquanto as autoridades tentavam restaurar a energia e água.

Sob um céu nublado, mas sem chuva, pessoas caminhavam entre barcos, pedras, galhos de árvore e escombros em busca de entes queridos, ou para tentar recuperar seus pertences.
 
2.abr.2017 - Homem fala no celular em meio aos destroços provocados pelo deslizamento de terra em Mocoa, na Colômbia - Luis Robayo/AFP - Luis Robayo/AFP
Homem fala no celular em meio aos destroços
Imagem: Luis Robayo/AFP
 
A maior parte dos 17 bairros atingidos é pobre e com a população deslocada pelo conflito armado de meio século que atinge a Colômbia, de acordo com testemunhas.

Marta Ceballos, uma vendedora ambulante de 44 anos, perdeu tudo na catástrofe, mas comemora o fato de ela e sua família estarem vivas.

"Bendito Deus, não quero nem lembrar disso. Ver como alguns gritavam, outros choravam, corriam, de carro, de moto, e como a terra ia envolvendo a todos. Foi muito, muito duro", contou à AFP sobre o caos criado pelo deslizamento.

"Estava chovendo, e chove toda noite. Amanheceu e continuou chovendo", acrescentou a mulher, também vítima do deslocamento forçado pela violência.

Para este domingo, são anunciadas na região "chuvas rápidas, ou chuviscos", que, aos poucos, deverão diminuir de intensidade.

"Estima-se uma diminuição das precipitações para segunda e terça-feira da próxima semana", indicou o Instituto de Hidrologia, Meteorologia e Estudos Ambientais da Colômbia (Ideam), citado pela Presidência.

2.abr.2017 - Bombeiro procura por vítimas dentro de uma casa que foi invadida pela lama após deslizamento de terras em Mocoa, na Colômbia - AFP - AFP
Bombeiro procura por vítimas dentro de uma casa que foi invadida pela lama
Imagem: AFP

Papa 'profundamente penalizado'

"Hoje viajo novamente a Mocoa para garantir a máxima atenção, no menor tempo possível, para atender às necessidades dos atingidos", tuitou o presidente Juan Manuel Santos, que, neste domingo, é esperado no local com funcionários do alto escalão, após liderar, no sábado, os trabalhos de ajuda e reconstrução.

Em sua conta no Twitter, o presidente disse que avançava no restabelecimento das estradas, e falou sobre o apoio humanitário enviado para a remota localidade, onde ao menos duas pontes foram destruídas, segundo o Exército.

Além disso, agradeceu ao Papa Francisco por dar sua "voz de alento". "Lamento profundamente a tragédia que atingiu a Colômbia", disse Francisco durante uma missa em Carpi, no norte da Itália.

"Rezo pelas vítimas, e quero garantir minha proximidade daqueles que choram pelos desaparecidos", acrescentou o pontífice, que tem uma visita à Colômbia prevista para setembro.

Em nota, o governo brasileiro manifestou "profundo pesar pelas perdas humanas e materiais" provocadas pelas fortes chuvas na Colômbia e expressou sua solidariedade.

Os vizinhos Equador, Venezuela e Peru expressaram sua solidariedade à Colômbia, assim como a ONU e a União Europeia.

"Não há energia"

Mocoa continua sem energia elétrica e água corrente, serviços que o governo tenta restabelecer o quanto antes e cuja falta é amenizada por toneladas de equipamentos levados à área.

"Não há energia. Não temos água. Nada", assegurou à Blu Radio Rocío Hernández, enquanto carregava seu bebê para subir, no sábado, uma montanha, para se refugiar e passar a noite em um albergue.

Essa jovem mãe solteira teve que sair correndo no meio da noite, debaixo de chuva, e o medo de que um deslizamento de terra se repita ainda a persegue.

Este deslizamento supera o último grande desastre natural na Colômbia, que ocorreu em Salgar, a 100 km de Medellín, e deixou 92 mortos em maio de 2015.

A "natureza e a magnitude do evento, a catástrofe, a tragédia, é tremenda", disse à AFP Martín Santiago, chefe da ONU para a Colômbia.

Ele destacou como o ocorrido em Mocoa mostra que as mudanças climáticas estão gerando episódios mais extremos. "Vemos os resultados tremendos do ponto de vista da intensidade, da frequência e da magnitude destes efeitos naturais", assinalou.

As fortes chuvas na América do Sul não atingiram somente a Colômbia. O Peru vem sendo afetado desde o início do ano por chuvas e deslizamentos de terra que, até o momento, deixaram 101 mortos e mais de 1 milhão de danificados. No Equador, foram registradas 21 mortes desde janeiro, com 9.409 famílias atingidas. (Com agências internacionais)