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Rússia indica veto a investigação sobre ataque químico na Síria e mantém apoio a Assad

4.abr.2017 - Médico sírio foge para se proteger de um bombardeio que atingiu um hospital de Khan Sheikhun, dominada por rebeldes na província de Idlib, no norte da Síria - AFP PHOTO / Omar haj kadour - AFP PHOTO / Omar haj kadour
Médico sírio foge para se proteger de um bombardeio que atingiu hospital de Khan Sheikhun
Imagem: AFP PHOTO / Omar haj kadour

Do UOL, em São Paulo

05/04/2017 11h07

A resolução proposta no Conselho de Segurança da ONU sobre o suposto ataque com armas químicas na Síria é "inaceitável" para a Rússia, disse uma porta-voz do Ministério de Relações Exteriores russo, nesta quarta-feira (5). Pelo menos 72 pessoas morreram no bombardeio de terça-feira (4).

"O texto apresentado é categoricamente inaceitável. Seu defeito está em antecipar os resultados da investigação e repentinamente apontar culpados", declarou Maria Zakharova, porta-voz da Chancelaria russa, em entrevista coletiva.

Estados Unidos, França e Reino Unido apresentaram o esboço de um comunicado do Conselho de Segurança da ONU condenado o ataque e cobrando uma investigação. A Rússia tem o poder de vetá-lo, como tem feito em todas as resoluções anteriores contrárias ao regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, seu aliado.

A diplomata afirmou que o projeto tem "um claro caráter anti-sírio" e ressaltou que "seu objetivo é dificultar e fazer praticamente impossível avançar no processo de negociação" para a resolução do conflito no país árabe. "O projeto foi preparado o mais rápido possível. Se caracteriza por sua negligência. Colocar no Conselho de Segurança esse texto é simplesmente indecente", disse.

4.abr.2017 - Bebê é atendido em hospital de Khan Sheikhoun, no norte da Síria, após um suposto bombardeio químico - AFP PHOTO / Mohamed al-Bakour - AFP PHOTO / Mohamed al-Bakour
Bebê é atendido em hospital de Khan Sheikhoun após um suposto bombardeio químico
Imagem: AFP PHOTO / Mohamed al-Bakour

Zakharova acusou Estados Unidos, França e Reino Unido de se basearem em informações falsas para propor a resolução, e colocou em dúvida a veracidade dos vídeos sobre o ataque publicados por veículos de comunicação ocidentais.

"As resoluções aprovadas anteriormente são totalmente suficientes para a investigação desse incidente. Se algum dos membros do Conselho de Segurança acredita ser desejável, necessária e oportuna uma nova resolução, deve ser totalmente diferente", disse.

Ao mesmo tempo, a porta-voz pediu que seja permitido o acesso dos especialistas da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) ao local do ataque na província de Idlib. "Com uma condição indispensável: a composição de dita missão de investigação deve ser submetida ao Conselho de Segurança da ONU e deve ter um caráter geográfico equilibrado", disse Zakharova, em alusão à procedência dos membros da missão.

A diplomata reconheceu que é necessário realizar "uma investigação completa a fim de esclarecer o que realmente aconteceu e quem deve ser responsabilizado". "Também seria preciso condenar qualquer uso de armas químicas", acrescentou.

Mais cedo, o Exército da Rússia alegou ter informações "completamente confiáveis e objetivas" que a aviação síria bombardeou um "armazém terrorista" com "substâncias tóxicas". De acordo com a tese de Moscou, ao explodir o depósito, as substâncias teriam se disseminado pela região.

Além disso, o governo russo afirmou que seguirá ao lado do regime sírio. "A Rússia e suas Forças Armadas mantêm o apoio às operações antiterroristas para a libertação do país que são conduzidas pelo exército da Síria", disse nesta quarta Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, a veículos de comunicação locais.

Quanto à possibilidade que o Conselho de Segurança da ONU realize uma votação sobre esse incidente, Peskov disse que "a Rússia apresentará de maneira argumentada os dados que foram compilados por seu Ministério de Defesa".

Outro aliado de Assad, o Irã condenou a utilização de armas químicas na Síria, mas também sugeriu que o suposto ataque químico ocorrido na terça-feira está relacionado a "grupos terroristas". "O Irã condena com força qualquer uso de armas químicas sem importar quem é o responsável e quem são as vítimas", disse o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Bahram Ghasemi, ressaltando a necessidade de que "ocorra um desarmamento do arsenal químico nas mãos de grupos terroristas".

Pedido de investigação

Segundo a agência AFP, o texto "condena, nos termos mais firmes, o uso de armas químicas" na Síria e pede ao regime de Assad que entregue planos de voo, diários de voo e outras informações sobre suas operações militares no dia do ataque. O documento solicita ainda a Damasco que entregue aos investigadores da ONU os nomes de todos os comandantes de esquadrões de helicópteros, e que permita sua reunião com militares de alta patente no prazo de cinco dias.

A Síria também deverá permitir que equipes da ONU e da OPAQ (Organização para a Proibição de Armas Químicas) visitem as bases áreas a partir das quais podem ter partido as aeronaves que lançaram o ataque químico. O projeto prevê a adoção das medidas estabelecidas no capítulo VII da Carta das Nações Unidas, que inclui sanções.

Ao mesmo tempo, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que "os horríveis acontecimentos de ontem demonstram, infelizmente, que os crimes de guerra continuam na Síria e que o direito internacional humanitário é violado frequentemente". O português concedeu entrevista ao chegar a Bruxelas, onde acontece uma conferência sobre o conflito sírio.

Convulsão

As vítimas começaram a sofrer convulsões quando estavam em suas casas ou nas ruas no momento do bombardeio, que aconteceu às 7h de terça-feira (1h de Brasília) em Khan Sheikhun, pequena cidade da província rebelde de Idlib, noroeste do país. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou nesta quarta-feira que há "sinais compatíveis com uma exposição (...) a agentes neurotóxicos".

A informação confirma o que foi constatado pelos médicos em Idlib, de que os sintomas dos pacientes são similares aos produzidos em vítimas de um ataque químico: pupilas dilatadas, convulsões e espuma saindo pela boca.