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Porta-voz diz ter decepcionado Trump após dizer que Hitler não usou armas químicas

12.abr.2017 - Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca, concede entrevista em Washington - AFP PHOTO / SAUL LOEB
12.abr.2017 - Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca, concede entrevista em Washington Imagem: AFP PHOTO / SAUL LOEB

Do UOL, em São Paulo

12/04/2017 11h08

O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, pediu novamente desculpas nesta quarta-feira (12) por ter dito, na terça, que Adolf Hitler não usou armas químicas durante o Holocausto --o ditador nazista matou milhares de judeus em campos de concentração usando câmaras de gás. A gafe gerou reclamações de diversas entidades pelo mundo, e o porta-voz disse ter decepcionado o presidente Donald Trump.

Spicer fez a referência durante sua entrevista diária aos jornalistas, enquanto abordava o suposto ataque químico ocorrido na semana passada na Síria, pelo qual Washington responsabiliza o regime de Bashar al-Assad. Depois, se retratou e pediu desculpas.

Nesta quinta, durante um evento em Washington, ele reconheceu a gravidade do erro. "Cometer essa gafe em uma semana sagrada, para cristãos e judeus, é indesculpável e repreensível.  É doloroso, para mim, saber que eu fiz algo assim, obviamente não era minha intenção. Peço perdão. Não deveria ter feito essa comparação, não se pode comparar atrocidades", disse.

Segundo Spicer, sua gafe também ofuscou o trabalho de Donald Trump, que recentemente determinou um ataque a uma base aérea do regime de Bashar al-Assad e conduziu uma reunião com o presidente da China, Xi Jinping, na Flórida.

"O presidente teve duas ótimas semanas, depois de tomar uma ação decisiva sobre a Síria e progredir [nas conversas] com o presidente Xi. E o trabalho de porta-voz é ajudar a amplificar os feitos do presidente. Quando você desvia [a atenção] disso, e o efeito é oposto, é desapontador. Decepcionei o presidente. Não foi um bom dia para mim, tanto profissionalmente quanto pessoalmente", acrescentou.

"Hitler não se rebaixou ao ponto de usar armas químicas"

A frase surgiu durante a entrevista coletiva, quando Spicer tentou usar Hitler de exemplo para tentar destacar a gravidade de um ataque químico. "Nós não usamos armas químicas na Segunda Guerra Mundial", disse Spicer, acrescentando que "alguém tão desprezível como Hitler não se rebaixou ao ponto de usar armas químicas". 

Minutos depois, Spicer defendeu suas declarações, tentando diferenciar as ações de Hitler do recente ataque com gás tóxico no norte da Síria, que deixou mais de 80 mortos. Segundo o Ministério da Saúde turco, gás sarin foi usado. "Acho que quando se trata de gás sarin, ele [Hitler] não usava gás contra seu próprio povo da maneira como Assad está fazendo", disse Spicer.

Após o pronunciamento à imprensa, Spicer enviou um comunicado a repórteres se retratando. "De maneira alguma eu estava tentando atenuar a natureza horrenda do Holocausto", escreveu. "Eu estava tentando traçar uma distinção com a tática de usar aviões para jogar armas químicas e centros populacionais. Qualquer ataque a pessoas inocentes é repreensível e imperdoável." 

Apesar de nunca ter utilizado armas químicas no campo de batalha durante a Segunda Guerra, Hitler utilizou gases letais para exterminar milhões de judeus em câmaras de gás. Estima-se que o regime nazista tenha executado até 6 mil judeus por dia somente no campo de concentração de Auschwitz.

Os comentários sobre Hitler logo causaram repercussão na comunidade judaica nos EUA. O Centro Anne Frank por Respeito Mútuo, em Nova York, pediu que o presidente Donald Trump demita Spicer."Spicer se envolveu na negação do Holocausto, a formas mais ofensiva de 'fake news' que se pode imaginar", disse Steven Goldstein, diretor-executivo da instituição.

Esta não é a primeira vez que o governo Trump é criticado por declarações relacionadas ao Holocausto e ao antissemitismo. No Dia Internacional da Lembrança ao Holocausto, em 27 de janeiro, a Casa Branca emitiu um comunicado sem fazer qualquer referência aos judeus.