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Sabia que o presidente podia demitir "sem motivo", diz ex-diretor do FBI

O ex-diretor do FBI James Comey e o presidente dos EUA, Donald Trump - Jonathan Ernst e Kevin Lamarque/ Reuters
O ex-diretor do FBI James Comey e o presidente dos EUA, Donald Trump Imagem: Jonathan Ernst e Kevin Lamarque/ Reuters

Do UOL, em São Paulo

11/05/2017 12h26

Em sua carta de despedida, o ex-diretor do FBI James Comey, dispensado por Donald Trump na noite de terça-feira (9), afirmou que o chefe da polícia federal americana pode ser demitido pelo presidente dos Estados Unidos "por qualquer motivo, ou sem nenhum motivo". Comey, que evitou entrevistas após a polêmica demissão, escreveu a carta para seus ex-subordinados do FBI.

"Sempre acreditei que um presidente pode demitir o diretor do FBI por qualquer motivo, ou por motivo nenhum. Não gastarei meu tempo falando sobre como a decisão foi tomada e espero que vocês também não façam isso. Foi decidido, e eu ficarei bem, apesar de saber que sentirei falta de vocês e dessa missão", escreveu Comey, que também elogiou o FBI e seus membros. "É muito difícil deixar um grupo de pessoas que estão comprometidas apenas em fazer a coisa certa."

Comey comandava a investigação do FBI sobre um suposto complô entre o comitê de campanha de Trump no ano passado e a Rússia para interferir no resultado das eleições a favor do candidato republicano. A demissão do diretor foi vista por muitos como uma forma de Trump enfraquecer a investigação, e políticos e jornalistas lembraram do escândalo Watergate, que motivou a renúncia do presidente Richard Nixon em 1974.

A justificativa para a dispensa virou tema de debate entre a Casa Branca e os críticos da decisão. Num primeiro momento, o governo Trump disse que ela era motivada pela maneira como Comey lidou com a investigação do FBI sobre os e-mails de Hillary Clinton pouco antes da eleição de 2016 --Comey reabriu o caso dias antes do pleito, e democratas, incluindo a própria Hillary, o acusaram de ter interferido diretamente no resultado vitorioso de Trump.

Na quarta (10), Trump disse que demitiu Comey "porque ele não estava fazendo um bom trabalho". Mais tarde, no Twitter, Trump disse que "Comey perdeu a confiança de quase todo mundo em Washington, tanto de republicanos quanto de democratas". "Quando as coisas se acalmarem, vão me agradecer", completou, chamando de "hipócritas" os democratas que haviam pedido a demissão no ano passado e agora criticam o presidente.

Trump queria que FBI priorizasse investigação sobre vazamentos, diz jornal

Segundo o jornal "Washington Post", Donald Trump queria que o FBI estabelecesse como prioridade a investigação de vazamentos para a imprensa sobre a apuração do suposto conluio entre os russos e a campanha de Trump.

De acordo com a publicação, citando fontes da Casa Branca, Trump considerou que Comey, ouvido pelo Congresso algumas vezes sobre o caso, chamava mais a atenção para a investigação sobre o suposto complô, um assunto que incomoda o presidente --Trump nega enfaticamente as acusações. Segundo as fontes ouvidas pelo jornal, Comey usava o caso Rússia-Trump para se tornar um "mártir".

Outros fatores contribuíram, segundo o jornal. Trump também havia se irritado pelo fato de Comey não o apoiar quando o presidente disse, sem provas, que seu gabinete na Trump Tower havia sido grampeado a mando de Barack Obama na época da eleição.

De acordo com o "Washington Post", Trump decidiu demitir Comey ainda no fim de semana e pediu ao procurador-geral, Jeff Sessions, e ao vice-procurador-geral, Rod Rosenstein, que escrevessem por escrito os motivos para a recomendação da demissão de Comey. Eles obedeceram e escreveram o texto que embasou a demissão, mas Rosenstein teria ameaçado se demitir após ter sido colocado pela Casa Branca como o pivô para o pedido da dispensa do diretor do FBI.

Já a agência Reuters diz que Trump, Sessions, e Rosenstein queriam saber o conteúdo do discurso de Comey ao Congresso, em uma audiência em 3 de maio, sobre a postura do diretor do FBI ao lidar com a investigação do uso de um servidor privado de e-mail por Hillary Clinton. Quando Comey se recusou, Trump e seus assessores consideraram isto um ato de insubordinação.

Segundo o site norte-americano "Politico", a demissão também teve ligação com a postura de Comey na audiência ao Congresso. Uma fonte da Casa Branca teria dito que Trump considerava que o diretor do FBI defendeu Hillary Clinton diante dos parlamentares.

O "Politico" também cita a insatisfação de Trump sobre a investigação do suposto conluio com a Rússia, a falta de apoio na acusação de grampo a Obama e diz que o presidente percebeu que não poderia controlar o diretor do FBI.