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Jornalista veterano é o 5º assassinado no México neste ano

Ríodoce/Reprodução
Imagem: Ríodoce/Reprodução

15/05/2017 16h57

O jornalista mexicano Javier Valdez, colaborador da AFP no Estado de Sinaloa, repórter do jornal "La Jornada" e co-fundador do semanário "Ríodoce", foi assassinado nesta segunda-feira (15) na cidade de Culiacán, informou uma fonte da Procuradoria.

Valdez, 50, era especializado na cobertura do narcotráfico e do crime organizado no país.

"Ocorreu nos arredores das instalações do Ríodoce [...]. Foi morto a tiros", disse a mesma fonte, acrescentando que "acabou de acontecer e somente agora a equipe de perícia está no local".

Trata-se do quinto jornalista morto no México desde o início de 2017.

"Estamos horrorizados com esta tragédia e enviamos nossas condolências à família e aos amigos", reagiu a diretora de informação da AFP, Michele Leridon.

"Solicitamos às autoridades mexicanas que esclareçam este assassinato covarde. Há anos, com extrema coragem, Javier investigava os cartéis da droga, sem desconhecer o perigo que representava para a sua vida", destacou Leridon.

No ano passado, Valdez publicou o livro "Narcoperiodismo, la prensa en medio del crimen y la denuncia" ("Narcojornalismo, a imprensa em meio ao crime e à denúncia", em tradução livre) e já escreveu vários outros títulos de investigação sobre o crime organizado.

Cuidados com tudo e com todos

"Em Culiacán, Sinaloa, é um perigo estar vivo, e fazer jornalismo é caminhar sobre uma invisível linha marcada pelos bandidos que estão narcotráfico e no governo. Deve-se ter cuidado com tudo e com todos", havia declarado o jornalista em um discurso feito em 2011, ao receber o Prêmio Internacional da Liberdade de Imprensa do Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ, na sigla em inglês).

"Ser jornalista é como fazer parte de uma lista negra. Eles vão decidir, mesmo que você tenha blindagem e escoltas, o dia em que vão te matar", comentou Valdez em uma das apresentações de seu último livro, "Narcoperiodismo, la prensa en medio del crimen y la denuncia" ("Narcojornalismo, a imprensa em meio ao crime e à denúncia", em tradução livre).

No entanto, o procurador-geral de Sinaloa, Juan José Ríos, garantiu que não se sabia de ameaças ao jornalista.

"De Javier não havíamos tido nenhuma indicação (de ameaça)", declarou à imprensa.

Rafael Valdez, irmão do jornalista, contou à AFP que o repórter não comentou se estava investigando alguma coisa que o colocasse em risco.

"Era muito reservado sobre seu trabalho, nunca comentava nada para não comprometer ninguém", disse.

"Várias vezes o questionei se tinha medo. Me disse que sim, que era um ser humano. Dizia, então, por que arriscava sua vida e ele respondia: '(o jornalismo é) algo de que gosto, que alguém tem que fazer. É preciso lutar para mudar as coisas'", lembrou seu irmão, totalmente arrasado.

O Estado de Sinaloa é base para o cartel chefiado por Joaquin “El Chapo” Guzman, que está atualmente preso em Nova York. 

De acordo com a ONG Repórteres Sem Fronteiras, o México é o terceiro país mais perigoso para se trabalhar como jornalista, depois de Síria e Afeganistão.

Segundo o CPJ, 40 jornalistas foram mortos no México por motivos ligados a seu trabalho desde 1992. Outros 50 foram mortos em circunstâncias não esclarecidas. (Com agências internacionais)