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Conservadores perdem maioria absoluta no Parlamento britânico, diz boca de urna

Votos são contados em Hastings, na Inglaterra - Kevin Coombs/Reuters
Votos são contados em Hastings, na Inglaterra Imagem: Kevin Coombs/Reuters

Do UOL, em São Paulo

08/06/2017 18h18Atualizada em 08/06/2017 23h57

Pesquisas de boca de urna apontam que os Conservadores, da primeira-ministra britânica, Theresa May, ainda são o maior partido no Parlamento, com 314 cadeiras, mas perderam 17 assentos nas eleições realizadas nesta quinta-feira (8). Se esses dados se confirmarem, a premiê terá perdido a maioria absoluta em sua tentativa de se fortalecer para as negociações do Brexit.

Os números divulgados pelas redes de televisão BBC, ITV e Sky após o fechamento das urnas mostram ainda que o Partido Trabalhista ganhou 34 assentos, somando 266 no total. Já os Liberais Democratas obtiveram 14 vagas. A Câmara Baixa do Parlamento britânico tem 650 assentos - são necessários 326 para a maioria.

Apesar de os Conservadores terem, em números, vencido as eleições, os resultados, se confirmados, representam uma derrota para premiê. Ela havia convocado as eleições três anos antes do previsto para se posicionar mais fortemente em relação à União Europeia em torno da dura negociação que tem pela frente sobre a saída do país do bloco.

A primeira-ministra britânica se manifestou dizendo que os conservadores manterão a "estabilidade necessária" na Grã-Bretanha, apesar do revés eleitoral sofrido por seu partido nas legislativas. "O país precisa de um período de estabilidade e qualquer que sejam os resultados, o Partido Conservador garantirá que possamos cumprir esta tarefa de garantir a estabilidade", disse May após ser reeleita na circunscrição de Maidenhead, na região de Londres.

Já o líder trabalhista Jeremy Corbyn declarou que Theresa May deve renunciar após o resultado, que aponta um retrocesso de seu partido. "[May] perdeu cadeiras conservadoras, perdeu votos, perdeu apoio e perdeu confiança. Eu digo que isto é o suficiente para partir", disse Corbyn após ser reeleito na circunscrição de Islington North, no centro de Londres.

O ex-ministro conservador George Osborne disse que as previsões da boca de urna seriam "completamente catastróficas" para ela e seu partido. "É cedo ainda. É uma pesquisa. Se a pesquisa for remotamente precisa, isso é completamente catastrófico para os conservadores e para Theresa May", disse Osborne à rede ITV News.

"É difícil ver agora, caso estes números estejam certos, como eles montariam a coalizão para [May] permanecer no cargo? Mas, igualmente, é bem difícil olhar para esses números para ver como os trabalhistas pode montar uma coalizão."

O Partido Liberal-Democrata disse não entrará em "pactos, acordos nem coalizão" com outras legendas para ajudar a formar um governo após as eleições de quinta-feira, informou a Sky News, citando uma fonte sênior do partido.

Libra após anúncio da boca de urna no Reino Unido - Twitter/Reprodução - Twitter/Reprodução
Libra após anúncio da boca de urna no Reino Unido
Imagem: Twitter/Reprodução

Após o anúncio, a libra esterlina chegou a registrar queda de quase 2%, refletindo a atual desvalorização da moeda e as incertezas que rondam a economia do Reino Unido diante do "Brexit". 

Parlamento dividido

O Parlamento sem maioria clara é um fenômeno descrito no país como "hung Parliament" - nenhum partido tem maioria clara, o que significa que nenhum partido tem mais da metade dos parlamentares na Câmara dos Comuns.

Se o resultado for mantido, Theresa May ainda poderia formar um governo minoritário sem acordos com outros partidos, e tentar formar maiorias apenas em favor de projetos individuais de leis, à medida que esses aparecerem.

May anunciou em 18 de abril o adiantamento das eleições, inicialmente previstas para 2020, e o fez argumentando que queria fortalecer a sua posição antes das negociações de separação com Bruxelas ampliando a sua maioria absoluta, que era de 17 deputados.

As negociações substanciais sobre o "Brexit" deverão começar no próximo dia 19 de junho, quase três meses depois de Londres ter ativado o Artigo 50 do Tratado de Lisboa, que estabelece dois anos de conversas sobre a retirada de um país comunitário.

Quando o Parlamento foi dissolvido no início de maio, May levava sobre os trabalhistas de Jeremy Corbyn uma vantagem de quase 20 pontos nas pesquisas de intenção de voto, mas nas últimas semanas a principal legenda da oposição britânica conseguiu estreitar consideravelmente essa distância.

Cautela entre rivais

O ministro da Defesa do Reino Unido, Michael Fallon, e o porta-voz de Economia do Partido Trabalhista, John McDonnel, mostraram cautela após a divulgação da boca de urna. "Isso é só uma projeção, acredito que isso ficou claro, não é um resultado. As pesquisas de boca de urna já foram equivocadas no passado. Em 2015, subestimaram nossos votos", disse Fallon à "BBC".

"Temos de esperar os resultados reais antes de poder interpretar isso de uma forma ou de outra", indicou o ministro.

McDonell concordou com o adversário e disse que todas as pesquisas devem ser interpretadas com "certo ceticismo". "No passado, as pesquisas se equivocaram", afirmou.]

Já os comentaristas políticos não foram tão cautelosos."Vamos ficar no mercado único!", comemorou Stephen Bush, da esquerdista "New Statesman".

"Foi a vingança do jovem sobre a geração mais velha", disse Matthew Parris, do "Evening Standard".

"Está se tornando cada vez mais claro que esse país ficou completamente fodido por aquele maldito referendo", afirmou o comentarista Robert Harris, em referência ao referendo do Brexit.

As urnas foram abertas às 7h (3h no horário de Brasília) com um rígido esquema de segurança nacional depois que militantes islâmicos mataram 30 pessoas em Manchester e em Londres há menos de duas semanas, levando a questão do combate à violência para o topo da agenda eleitoral nos últimos estágios da campanha.