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Residências russas apropriadas por Obama são mais um ponto de discussão entre Trump e Putin

Demanda por casas de campo complica encontro entre Trump e Putin - Don Emmert e Natalia Kolesnikova/ AFP
Demanda por casas de campo complica encontro entre Trump e Putin Imagem: Don Emmert e Natalia Kolesnikova/ AFP

Henry Meyer e Ilya Arkhipov

Da Bloomberg, em Moscou

04/07/2017 11h12

Além de grandes problemas globais, como a Síria, a Coreia do Norte e a Ucrânia, o Kremlin tem um assunto extremamente importante para tratar quando Vladimir Putin se reunir com Donald Trump nesta semana: o governo russo quer suas dachas de volta.

O governo Obama expropriou as casas de campo da embaixada russa nos arredores de Washington e Nova York no final do ano passado, em retaliação a ataques cibernéticos vinculados à eleição presidencial, acusando a Rússia de usá-los para "coletar informações". Rompendo com a tradição, Putin não retaliou, na esperança de estabelecer relações melhores com o governo Trump.

Agora, Moscou está ficando impaciente. O assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov, foi o mais recente nome do governo a jogar lenha na fogueira, dizendo aos repórteres na segunda-feira que a paciência da Rússia com a apropriação por parte dos Estados Unidos da propriedade diplomática "não é ilimitada" e que o país será obrigado a reagir se o assunto não for resolvido.

Vínculo político

No entanto, para o presidente dos EUA, que continua enfrentando investigações sobre a existência de um conluio entre os funcionários de sua campanha e o governo russo, o custo político interno dessa concessão seria enorme. O primeiro conselheiro de segurança nacional de Trump, Michael Flynn, foi forçado a pedir demissão por não ter dito ao vice-presidente Mike Pence que abordou a possibilidade de aliviar as sanções durante uma conversa com o embaixador da Rússia nos EUA.

O foco implacável da Rússia nesta questão aparentemente secundária destaca que em Moscou acredita-se que ele tem pouco a perder, porque Trump, de qualquer forma, não será capaz de conceder o alívio absoluto que o Kremlin desejava. Mas isso arrisca minar até mesmo um objetivo mais modesto de cooperação limitada, demonstrando que Moscou não entende o quanto a interferência russa na eleição presidencial do ano passado foi tóxica em Washington.

"Os russos querem levar o relacionamento para o que eles chamam de normalização e desarmar algumas das tensões, mas não foram criadas as bases para isso", disse Thomas Graham, ex-assessor sênior da Casa Branca durante o governo do ex-presidente George W. Bush. "Isso não aconteceu, em parte devido à resistência do establishment político e da política externa em Washington."

Os dois imóveis confiscados que estão no centro da disputa são uma antiga mansão do governador, perto de Oyster Bay, Long Island, e um complexo de uns 18 hectares no rio Corsica, em Maryland, que inclui uma mansão de estilo georgiano com uma piscina, uma quadra de tênis e uma sauna russa.

O assessor do Kremlin, Ushakov, foi inflexível quando perguntado se não seria melhor que a Rússia se concentrasse em prioridades maiores e deixasse o conflito das dachas para outro dia.

Putin levantará a questão na reunião com Trump porque "finalmente é hora de eximir a Rússia da necessidade de tomar medidas de retaliação", afirmou. Questões práticas como esta "também são importantes em um contexto bilateral".

*Com a colaboração de Nick Wadhams