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Míssil intercontinental era resolução de Ano-Novo de Kim Jong-un

Imagem divulgada pela agência oficial norte-coreana KCNA mostra Kim Jong-un (de terno) comemorando o sucesso do teste intercontinental em um local não divulgado - KCNA via AFP
Imagem divulgada pela agência oficial norte-coreana KCNA mostra Kim Jong-un (de terno) comemorando o sucesso do teste intercontinental em um local não divulgado Imagem: KCNA via AFP

Eric Talmadge

Da Associated Press

05/07/2017 12h46

Impedir que a Coreia do Norte obtivesse um míssil balístico intercontinental com ogiva nuclear foi durante muito tempo considerado um limite decisivo pelos Estados Unidos, mas ignorado pelo Norte por anos. O lançamento de seu míssil balístico intercontinental no dia 4 de julho foi só o passo mais recente em sua longa marcha na direção desse limite, que talvez venha a ser ultrapassado.

Mas embora o presidente americano Donald Trump parecesse ter sido pego de surpresa pelo lançamento, especulando no Twitter se o líder norte-coreano Kim Jong-un não teria nada melhor para fazer na vida, Kim e seu regime têm claramente enviado sinais sobre suas movimentações. E deixaram algo claro: eles não têm intenção nenhuma de recuar.

A Coreia do Norte diz ter o direito soberano de desenvolver um elemento dissuasivo nuclear confiável para aquilo que ela chama de política hostil de seus arqui-inimigos em Washington, e negou hostilmente qualquer pedido de abrir mão de armas nucleares e mísseis de longo alcance que são a "espada preciosa" de sua defesa nacional.

Os Estados Unidos não se deixaram convencer por esse argumento. E eles dizem que todas as opções serão consideradas.

A resolução de Ano Novo de Kim

Kim começou o ano prometendo publicamente lançar o primeiro míssil balístico intercontinental da Coreia do Norte.

Ele o fez em seu discurso anual de Ano Novo, uma fala de 30 minutos televisionada na qual elogiou seus cientistas por testarem com sucesso aquilo que, segundo a Coreia do Norte, seria sua primeira bomba de hidrogênio, o segundo de dois testes nucleares que o país conduziu em 2016, e depois disse que os preparativos para o lançamento de um míssil balístico intercontinental haviam "alcançado o estágio final".

Ele não disse explicitamente que havia um teste de míssil balístico intercontinental iminente. Mas ficou claro que ele estava lançando a possibilidade para ver quais seriam as reações.

Trump lhe deu uma quase que imediatamente.

"A Coreia do Norte acaba de declarar que está em seus estágios finais do desenvolvimento de uma arma nuclear capaz de alcançar partes dos Estados Unidos", ele tuitou no dia 3 de janeiro. "Isso não vai acontecer!"

Alguns dias depois, um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte declarou, através da mídia estatal, que um míssil balístico intercontinental seria "lançado a qualquer momento e em qualquer lugar determinado pelo mais alto comando" do país. O secretário de Defesa americano Ash Carter respondeu que os Estados Unidos abateriam qualquer míssil norte-coreano que parecesse ir na direção do território dos Estados Unidos ou de seus aliados.

"O mundo inteiro em breve será testemunha"

Segundo os norte-coreanos, março foi um mês de avanços para sua indústria doméstica de propulsão de foguetes.

A Coreia do Norte conduziu um teste em solo de um novo tipo de motor de alta propulsão que Kim exalta como sendo "um grande acontecimento de importância histórica" para a construção de foguetes e os esforços para desenvolver "armas estratégicas em estilo coreano".

O "mundo inteiro em breve será testemunha da importância memorável da grande vitória conquistada hoje", disse.

O teste veio enquanto o secretário de Estado americano Rex Tillerson estava em uma viagem pela Ásia e emitindo alguns dos alertas mais veementes dados por Washington para a Coreia do Norte desde que Trump assumiu a presidência. "Estamos explorando uma nova gama de medidas diplomáticas, econômicas e de segurança", ele disse. "Todas as opções serão consideradas".

A Coreia do Norte, irritada com os contínuos jogos de guerra dos Estados Unidos e da Coreia do Sul, também conduziu no dia 6 de março uma simulação que enviou uma saraivada de mísseis de alcance intermediário a menos de 200 km da costa do Japão. O Japão abriga dezenas de milhares de soldados americanos.

"A Coreia do Norte tem se comportado muito mal", tuitou Trump por volta dessa época. "Eles vêm 'provocando' os Estados Unidos há anos. A China não fez muito para ajudar!"

Mísseis no desfile

As tensões se elevaram em abril, quando imagens de satélite sugeriram que a Coreia do Norte estava se preparando para conduzir um teste nuclear subterrâneo.

Com a chegada de uma esquadra porta-aviões americana na região e outra "armada" a caminho, de acordo com Trump, ambos os lados trocaram ameaças de escalada para uma guerra.

 

O teste nunca aconteceu, mas a Coreia do Norte comemorou o 100º aniversário de nascimento do fundador da nação Kim Il-sung, avô de Kim Jong-un, com uma espetacular parada militar com um número jamais visto de mísseis, incluindo alguns que nunca haviam sido revelados para o público.

O final do desfile foi marcado pela exibição de dois cilindros camuflados em longos veículos transportadores. Tais cilindros são usados para lançamentos clandestinos e, embora não fosse possível ver o que quer que estivesse do lado de dentro, muitos especialistas acreditam que o tamanho sugeria que eles poderiam ser usados para carregar um míssil balístico intercontinental até então desconhecido.

A exibição criou um burburinho considerável entre especialistas, especulando que o lançamento efetivo do míssil balístico intercontinental poderia estar próximo.

Dando os toques finais

Cada vez mais preocupados com o ritmo acelerado dos lançamentos de mísseis pela Coreia do Norte, os Estados Unidos testaram no início de junho seu sistema de defesa de mísseis. Washington disse que foi um grande sucesso a ação que envolveu um interceptador sendo lançado a partir de uma base aérea na Califórnia "obliterando" um míssil de mentira que chegava sobre o Oceano Pacífico.

Os Estados Unidos têm cerca de 450 mísseis e cada um deles consegue viajar por cerca de 12.900 km, mas críticos do teste de US$ 244 milhões (cerca de R$ 810 milhões) disseram que não confirmavam que os Estados Unidos pudessem de fato interceptar um míssil balístico intercontinental norte-coreano disparado em condições de guerra. Somente quatro das nove tentativas de interceptação foram bem-sucedidas.

O teste aparentemente também não teve impacto nenhum sobre o cronograma de testes da Coreia do Norte.

Embora dessa vez não tenha emitido comentários oficiais --e não tenha havido tuítes de Trump-- o Norte conduziu mais um teste de motor no final do mês passado que os Estados Unidos supostamente identificaram como um provável míssil balístico intercontinental.

Àquela altura, não havia muitas dúvidas.

A Coreia do Norte estava agindo rapidamente para cumprir a promessa de Ano Novo de Kim, e a janela de oportunidade para detê-lo estava se fechando.

Entenda o programa de mísseis norte-coreano

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