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Sobe para 7 o número de mortos em confrontos durante greve de 48h na Venezuela

27.jul.2017 - Membros das forças de segurança da Venezuela miram arma durante greve e protesto em Caracas - Ueslei Marcelino/Reuters
27.jul.2017 - Membros das forças de segurança da Venezuela miram arma durante greve e protesto em Caracas Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Do UOL, em São Paulo

27/07/2017 20h17Atualizada em 28/07/2017 01h01

Subiu para sete o número de mortos em confrontos entre forças de segurança da Venezuela e manifestantes durante a greve mais recente liderada pela oposição para protestar contra uma eleição no domingo (30), que, segundo críticos, irá marcar o fim da democracia no país membro da Opep.

Muitas ruas continuavam com barricadas e desertas nesta quinta-feira (27), à medida que a greve entrou em seu segundo dia.

Diversas áreas rurais e bairros urbanos da classe operária estavam movimentados, no entanto, e a greve aparentava ter menor apoio do que uma greve de um dia realizada na semana passada. Com a Venezuela já repleta de lojas e fábricas fechadas, em meio a uma intensa recessão de quatro anos, a adesão de qualquer greve pode ser difícil de ser calculada e muitos venezuelanos disseram ter que continuar trabalhando para sobreviver.

As greves mais recentes foram realizadas para intensificar pressão sobre o impopular presidente Nicolás Maduro para acabar com seu plano para votação de domingo para uma Assembleia Constituinte, que terá poder de reescrever a Constituição e fechar o atual legislativo, liderado pela oposição.

Ao menos 108 pessoas morreram em agitações anti-governo que convulsionam o país sul-americano desde abril, quando a oposição iniciou protestos exigindo eleições livres e justas para acabar com quase duas décadas de governo socialista.

Em Barinas, Estado natal do ex-líder venezuelano Hugo Chávez, somente cerca de um terço dos negócios estavam fechados, de acordo com uma testemunha da Reuters, diferentemente da estimativa formal da oposição, de 92 por cento de participação nacional.

"Sou contrário ao governo e concordo que precisamos fazer tudo que podemos para sairmos desta bagunça, mas eu dependo do meu trabalho. Se eu não trabalhar, minha família não come", disse o barbeiro de 45 anos Ramón Álvarez em sua loja em Barinas.

Adversários dizem que o governista Partido Socialista quer consolidar uma ditadura com a votação de domingo. Houve ampla condenação internacional à votação, e os Estados Unidos anunciaram na quarta-feira sanções contra 13 autoridades e ex-autoridades por corrupção, danos à democracia e participação em repressão.

Autoridades do governo e candidatos para a Assembleia Constituinte terminaram campanhas nesta quinta-feira com um comício em Caracas com Maduro.

O líder de esquerda reiterou que a assembleia é a única maneira de levar paz à Venezuela, criticou ameaças de novas sanções do "imperador Donald Trump" e revidou acusações de que está se transformando em um tirano.

"Os suspeitos habituais saíram para dizer que Maduro se tornou louco", disse a apoiadores em Caracas. "É claro, eu era louco! Louco de paixão, louco de um desejo por paz."

27.jul.2017 - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, beija a bandeira venezuelana durante evento em Caracas - Carlos Garcias Rawlins/Reuters - Carlos Garcias Rawlins/Reuters
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, beija a bandeira venezuelana durante evento em Caracas
Imagem: Carlos Garcias Rawlins/Reuters

Protestos proibidos

Maduro proibiu a realização de manifestações populares no país entre esta sexta-feira (28) e a próxima terça (1º) por conta da eleição constituinte marcada para o domingo (30). 

Segundo o ministro do Interior venezuelano, Néstor Reverol, estão vetados, em todo o território nacional, qualquer "ação ou protesto" que possa "perturbar ou comprometer o desenvolvimento normal" da votação, que foi convocada por Maduro, mas é rechaçada pela oposição.  

Quem não respeitar a proibição estará sujeito a penas que vão de cinco a 10 anos de cadeia. Reverol ainda acrescentou que a eleição para a Assembleia Constituinte será garantida pelas Forças Armadas, por 140 mil policiais e pela Proteção Civil.  

Apesar do veto, a Mesa da Unidade Democrática (MUD), principal força de oposição ao chavismo, confirmou a realização de uma manifestação marcada para esta sexta-feira. "O regime anunciou que não se pode manifestar até terça. Responderemos com a tomada da Venezuela", diz uma mensagem da coalizão no Twitter.  

Iniciada no fim de março, após uma decisão do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) ter anulado as prerrogativas da Assembleia Nacional, a onda de protestos contra Maduro já deixou mais de 100 mortos no país.  

Em meio a uma situação que beira a guerra civil, o presidente decidiu convocar uma Constituinte para reescrever a Carta Magna da Venezuela, mas a oposição diz que a ideia é apenas de uma forma encontrada pelo mandatário de aumentar seu poder, já que hoje o Parlamento é controlado pelo antichavismo.