Topo

Aplausos e silêncio: como uma multidão reagiu no dia seguinte ao terror em Barcelona

UOL mostra como ficou região após atentado em Barcelona

UOL Notícias

João Henrique Marques

Colaboração para o UOL, em Barcelona

18/08/2017 08h38

A região das Ramblas, ponto turístico de Barcelona onde ocorreu o atentado terrorista, contou com uma multidão de pedestres no final da manhã desta sexta-feira (18), pouco antes de minuto de silêncio programado para o meio-dia (7h, no horário de Brasília).

Apesar do grande movimento, o silêncio respeitoso reinava no local. O cenário do ataque era restrito a pedestres e um grande policiamento era visível no local.

Ao meio-dia foi respeitado um minuto de silêncio em toda a Espanha pelas vítimas dos dois ataques extremistas registrados no país entre a tarde de quinta-feira e a madrugada desta sexta. Em Barcelona, a Praça da Catalunha foi ponto de encontro para a homenagem, com a presença do rei da Espanha, Filipe VI, e do presidente do governo, Mariano Rajoy. No local, a multidão presente gritou "no tinc por", que significa "não tenho medo", em catalão.

O atentado em Barcelona

UOL Notícias

Após o ato, o público que seguia pelas Ramblas começou a aplaudir diante do local onde as primeiras vítimas foram atingidas pela van.

Após os dois ataques, que no total fizeram 19 mortos, cinco deles supostos terroristas, e mais de 100 feridos (estima-se 126), Barcelona amanheceu com muitas ruas desertas e policiadas, informação de explosivos falsos (em Cambrils, conforme você pode ler mais abaixo) e com mais um suspeito atrás das grades. 

Segundo informou a uma emissora local de rádio o ministro do Interior do governo catalão, Joaquim Forn, um homem foi detido nesta sexta no município de Ripoll, a pouco mais de 100 quilômetros de Barcelona, por supostamente estar ligado aos atentados. Outros dois haviam sido presos durante o dia de ontem: um cidadão marroquino e outro de Melilla, enclave espanhol situado na África. Nenhum deles seria, no entanto, o motorista da van utilizada no primeiro e maior ataque, que ainda é procurado.

O chefe da polícia catalã, Josep Lluís Trapero, disse ao jornal espanhol "La Vanguardia" nesta manhã que não prevê que ocorra um novo ataque no país.

Nove horas depois do primeiro ataque, cinco supostos terroristas em um carro quebraram um bloqueio policial na cidade de Cambrils, 120 quilômetros ao sul de Barcelona, ainda dentro da comunidade autônoma da Catalunha. Atropelaram pedestres, deixando sete feridos, cinco deles ainda hospitalizados - um em estado crítico e dois em estado grave. Os autores da ação portavam armas e cinturões explosivos falsos, conforme a polícia informou pela manhã. Em confronto com os agentes policiais, quatro deles morreram no local e um quinto, no hospital.

Apesar de esta segunda ação ainda não ter sido reivindicada por nenhum grupo extremista, a polícia trabalha com a possibilidade de ela estar relacionada à primeira e também com a explosão de uma casa na quarta-feira (16) no município de Alcanar, a menos de 100 quilômetros de Cambrils. Na explosão da casa, uma pessoa morreu.

18.ago.2017 - Policiais armados patrulham rua deserta nas proximidades das Ramblas nesta sexta - Manu Fernandez/AP Photo - Manu Fernandez/AP Photo
Policiais armados patrulham rua deserta nas proximidades das Ramblas nesta sexta
Imagem: Manu Fernandez/AP Photo
O grupo jihadista EI (Estado Islâmico) assumiu a autoria da primeira ação, um atropelamento com uma van, às 16h50 no horário local (11h50 no Brasil), na mais turística das avenidas de Barcelona, conhecida como Ramblas. Ali, 13 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas, de diversas nacionalidades, 15 delas em estado gravíssimo. 

Em Barcelona

Local do atentado em Barcelona - Arte/UOL - Arte/UOL
Local do atentado em Barcelona
Imagem: Arte/UOL
No atentado da tarde, uma van de cor branca atravessou em zigue-zague e a toda velocidade por cerca de 500 metros nas Ramblas, onde, especialmente nessa época do ano, turistas espanhóis e estrangeiros costumam passear. Percorreu centenas de metros atropelando pessoas e gerando cenas de pânico.

Segundo o jornal espanhol La Vanguardia, entre as vítimas deste atropelamento estão menores de idade e pessoas da Espanha, França, Alemanha, Holanda, Argentina, Venezuela, Bélgica, Peru, Romênia, Irlanda, Cuba, Grécia, Macedônia, Reino Unido, Áustria, Paquistão, Taiwan, Canadá, Equador, Estados Unidos, Filipinas, Kwaiti, Turquia e China.

A van usada no atentado teria sido alugada por Driss Oukabir. Porém, segundo a imprensa catalã, um homem apresentou-se aos policiais afirmando que seria Driss Oukabir e que seus documentos teriam sido roubados. Ele seria um cidadão francês, que mora na Catalunha.

A área do ataque ficou isolada em um raio de 200 metros. As lojas ficaram fechadas e começaram a ser esvaziadas mais de uma hora depois do ataque. As autoridades da Catalunha fecharam as estações de metrô e trem nos arredores. A reportagem do UOL estava no local na hora do ataque.

Repórter do UOL relata tensão em praça logo após atentado

UOL Notícias

Um toque de recolher foi pedido para facilitar as buscas no local; a indicação é que as pessoas não transitem por Barcelona "a não ser que seja extremamente necessário. 

Nas últimas semanas, pichações com ameaças contra turistas apareceram em Barcelona, que atrai ao menos 11 milhões de visitantes por ano.

Las Ramblas é uma avenida de 1,2 quilômetros que atravessa o centro de Barcelona, desde a Praça da Catalunha até o monumento a Cristóvão Colombo, de frente para o mar. É a avenida mais popular de Barcelona, lugar onde historicamente a cidade comemora os triunfos do Barça. A via atravessa o coração da cidade e em seu entorno estão a sede dos poderes políticos, o governo catalão e o da cidade, espiritual, com a catedral e a grande igreja de Santa María del Mar, e financeiro, com as sedes do La Caixa ou da medieval Llotja del Mar, no final do passeio, perto do mar. Ela é dividida em cinco seções: Rambla de Canaletas, dos Estudos, de las Flores, dos Capuchinos (com a Boquería e o Liceu), e de Santa Mónica, desembocando ao mar

Em Cambrils

Os supostos terroristas de Cambrils estavam em um Audi A3, que ultrapassou uma barreira policial. 

"Do nada escutamos tiros - pam, pam, pam - e muitos gritos. Me joguei na praia e fiquei sem me mover. Você só pensa em fugir", disse à agência de notícias AFP Joan Marc Serra Salinas, um garçom de 21 anos que estava próximo ao local do ataque.

"Estávamos na zona portuária, havia um restaurante com uma orquestra. O veículo bateu no carro da polícia e depois capotou", revelou um francês de 49 anos, que não disse seu nome.

Os serviços de emergência da Catalunha pediram no Twitter para que as pessoas ficassem "em casa, seguras". O incidente ocorreu na rambla marítima de Cambrils, na província de Tarragona. 

18.ago.2017 - Policiais trabalham durante a madrugada no local do segundo ataque, em Cambrils - Lluis Gene/AFP Photo - Lluis Gene/AFP Photo
Policiais trabalham na madrugada desta sexta no local do segundo ataque, em Cambrils
Imagem: Lluis Gene/AFP Photo

A Espanha foi o alvo do pior atentado extremista na Europa em março de 2004, quando uma dezena de bombas explodiram nos trens nos arredores de Madri, deixando 191 mortos. Os ataques foram reivindicados por uma célula islamita radical em nome da Al-Qaeda.

Desde julho de 2016, veículos têm sido usados para atropelar multidões em uma série de ataques terroristas na Europa, deixando bem mais de 100 mortos em Nice, Berlim, Londres e Estocolmo.