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Maduro foi beneficiado por corrupção envolvendo Odebrecht, diz ex-procuradora-geral

A ex-procuradora-geral Luisa Ortega Díaz participa de encontro de procuradores do Mercosul, em Brasília - Evaristo Sa/ AFP
A ex-procuradora-geral Luisa Ortega Díaz participa de encontro de procuradores do Mercosul, em Brasília Imagem: Evaristo Sa/ AFP

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

23/08/2017 11h29Atualizada em 24/08/2017 07h14

A ex-procuradora geral da Venezuela Luisa Ortega Díaz acusou o presidente Nicolás Maduro de ter sido beneficiado pelo esquema de corrupção que envolvia agentes públicos do país e a empreiteira Odebrecht. A declaração foi dada durante a abertura de uma reunião de chefes de ministérios públicos do Mercosul e países associados nesta quarta-feira (23).

"Tenho muitas provas, sobretudo no caso da Odebrecht, que comprometem a muitos altos funcionários, começando pelo presidente da República e membros da Assembleia Nacional Constituinte", disse Ortega. A ex-procuradora, destituída pela nova Assembleia Constituinte do país no início de agosto, disse que irá compartilhar as provas que tem sobre casos de corrupção envolvendo membros do governo venezuelano com países como os Estados Unidos, Brasil, Colômbia e Espanha.

Questionada sobre a fala de Ortega, a Odebrecht disse em nota que:

Desde que assinou acordo de colaboração com a Procuradoria da República no Brasil, a Odebrecht também se colocou à disposição da Procuradoria da Venezuela com o propósito de contribuir para o esclarecimento de todos os fatos relacionados à atuação da empresa naquele país ao longo dos últimos 25 anos. A Odebrecht nega que sejam verdadeiras as acusações à empresa feitas em Brasília pela Procuradora.

A Odebrecht nega que tenha recebido pagamento por trabalhos não realizados no país. Nos 25 anos em que está presente na Venezuela já concluiu 10 projetos relevantes, entre eles linhas de metrô e projetos de saneamento básico. Atualmente conta com 11 projetos em execução, sem ter abandonado nenhum deles apesar da crise econômica que reduziu os investimentos em infraestrutura em toda a América Latina. O ritmo das obras em execução acompanha o cronograma de pagamentos dos clientes locais.

A exemplo do que ela havia feito durante uma teleconferência na semana passada, Ortega voltou a pedir que seus colegas de ministério público de diferentes países não compartilhem provas com as autoridades venezuelanas. "Não enviem nenhuma solicitação de requerimento de matéria penal, porque com certeza essa prova vai ser destruída", disse.

Ortega criticou a situação do país e disse que, em seu país, não há mais "garantia de justiça". "Na Venezuela não há garantia de justiça. Não há garantia de que alguma investigação relacionada ao crime organizado, terrorismo, tráfico de drogas ou corrupção tenha alguma condenação", afirmou.

Ortega também disse que a Venezuela vive "a morte do direito" sob o regime de Nicolás Maduro e acrescentou que a crise política coloca em perigo o equilíbrio de toda a região.

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"O que acontece na Venezuela é a morte do direito. A estabilidade da região está em perigo", disse Ortega a seus colegas.

Questionada sobre a declaração do presidente norte-americano, Donald Trump, que disse não descartar uma intervenção militar na Venezuela, Ortega disse ser contra essa possibilidade.

"Sou contra as intervenções militares [...] Não quero que aconteça nada mal ao povo venezuelano [... ] As intervenções militares são geralmente traumáticas e este seria um trauma maior para o país", disse a ex-procuradora.

Ortega disse que ainda não decidiu o que fará em relação à sua situação na Venezuela. Há uma semana, o governo do presidente Maduro mandou prender o marido da ex-procuradora, o deputado Germán Ferrer, sob a acusação de fazer parte de uma rede de extorsão.

"Seguirei lutando, correndo o mundo para denunciar o que acontece na Venezuela e denunciar na comissão de direitos humanos [da ONU]", afirmou.

Pedido de prisão e fuga

Ortega veio da Colômbia para participar do encontro de procuradores do Mercosul, horas depois de o presidente Nicolás Maduro ter anunciado que pediu à Interpol sua ordem de prisão internacional.

Na última sexta-feira (18), Ortega fugiu com seu marido para a Colômbia, país que já lhe ofereceu asilo.

Luisa Ortega foi destituída do cargo no dia 5 de agosto pela Assembleia Constituinte venezuelana que a acusou de ter cometido "atos imorais".

Chavista de longa data, Ortega vinha se manifestando de forma contrária ao presidente Maduro nos últimos meses, quando uma série de manifestações anti e pró-governo tomaram conta das ruas do país.

Nos últimos dias, Ortega vinha acusando o presidente Maduro de ter sido um dos beneficiários do pagamento de propina feita pela Odebrecht na Venezuela em troca de contratos públicos.

Segundo o acordo feito pela empresa com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a companhia brasileira pagou US$ 98 milhões em propinas a agentes públicos venezuelanos.

Ortega vinha comandando as investigações sobre o caso Odebrecht até ser destituída. Durante uma teleconferência com procuradores de outros países, no México, Ortega alertou seus colegas para não compartilharem provas do caso com o atual procurador-geral venezuelano, Tarek Saab.

"Eles estão preocupados e angustiados porque sabem que temos informação e detalhes de toda a cooperação, valores e pessoas que ficaram ricas e essa investigação envolve Nicolás Maduro e seu entorno", chegou a dizer Ortega, no último dia 18.