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Perfil 'normal' de atirador desafia polícia na busca por motivação de massacre

Eric Paddock via AP
Imagem: Eric Paddock via AP

Do UOL, em São Paulo

03/10/2017 09h04

Stephen Paddock viveu 64 anos sem levantar qualquer suspeita e parecia se preparar para uma aposentadoria tranquila perto dos cassinos. Sua história, porém, tem uma brecha, que investigadores ainda tentam esclarecer.

O que levou um contador de 64 anos, que nunca despertou qualquer suspeita entre parentes e amigos, supostamente rico e que aparentemente se preparava para uma aposentadoria tranquila perto dos cassinos de Las Vegas, a realizar o maior massacre da história recente americana?

Até o momento, as motivações para cometer tal massacre são um mistério para o FBI (a Polícia Federal americana), e mais ainda para os seus familiares, que não saem do estado de choque.

A permanece sem resposta, mais de 24 horas após Paddock subir ao 32º andar do hotel Mandalay Bay com 23 armas semiautomáticas – incluindo um fuzil AK-47 – e abrir fogo contra a plateia de um festival de música, deixando ao menos 59 mortos e mais de 500 feridos. Outras 19 armas de fogo foram encontradas em sua residência, em Mesquite.

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Paddock possuía também dois dispositivos que, colocados na culatra das armas, lhe permitiram abrir fogo de forma completamente automática. Além disso, a polícia encontrou em seu veículo vários quilos de nitrato de amônio, um material utilizado para a fabricação de explosivos.

Até aqui, sabe-se que Paddock havia se hospedado no hotel em 28 de setembro. Autoridades locais e federais descartaram qualquer ligação dele com grupos terroristas, apesar de o "Estado Islâmico" ter reivindicado o ataque. Por ora, também concluíram que ele agiu sozinho.

Sabe-se também que Paddock morava desde 2013 num condomínio de aposentados em um subúrbio de Mesquite, cidade a 140 quilômetros de Las Vegas, no estado de Nevada. O local só aceita pessoas com mais de 55 anos e tem 1400 casas.

Segundo jornais da Flórida, ele também possuía uma casa em um condomínio similar no Estado e dois aviões de pequeno porte, o que aponta para uma aposentadoria abastada. Em buscas realizadas em Mesquite, policiais encontraram 18 outras armas de fogo, alguns explosivos e munição.

Um "cara normal"

Nada, porém, parece apontar para a motivação para o ataque. Paddock não tinha ficha criminal, com exceção de uma infração de trânsito. Uma ex-vizinha chamada Sharon Judy, de Viera, na Flórida, disse ao jornal que Paddock era um homem amigável e um apostador profissional. Outra lembra que sua casa parecia mais a de um estudante – desordenada e com poucos móveis.

Eric Paddock, irmão do atirador, disse que a família está "espantada”. Foi ele que, em 2013, ajudou Stephen a trocar a Flórida de vez por Nevada para pode jogar mais pôquer. Os dois se falaram pela última vez algumas semanas atrás, por mensagens de celular, sobre a falta de energia provocada pela passagem do furacão Irma.

"Onde diabos pegou armas automáticas? Não tinha antecedentes militares nem nada disso", disse seu irmão Eric à CBS News. "Era um cara que morava em uma casa em Mesquite, que ia e jogava em Las Vegas. Fazia coisas. Comia burritos."

Paddock morava em uma casa junto a um campo de golfe e não tinha afiliação política ou religiosa, de acordo com o seu irmão. Tampouco era "um cara ávido por (usar) pistolas". "Era apenas um cara normal. Algo se rompeu nele, algo aconteceu. É como se um asteroide tivesse atingido nossa família", disse em outra entrevista ao jornal Las Vegas Review-Journal. "Não temos ideia do que aconteceu."

A polícia chegou a informar que estava à procura da namorada de Paddock, descrita como uma "asiática" de 62 anos que aparentemente vivia com o atirador no condomínio de aposentados. Mais tarde, as autoridades afirmaram que ela não tem qualquer relação com a chacina e estava nas Filipinas quando tudo ocorreu.

Uma ex-mulher dele divulgou que eles se divorciaram há 27 anos e desde então não mantinham mais contato. Eles não tiveram filhos.

Pouco depois o irmão de Paddock revelou que o patriarca da família, chamado Patrick Benjamin Paddock, era um criminoso. Segundo a New York Magazine, Patrick era um ladrão de bancos que agiu na década de 1960 e 1970 e chegou a ser incluído na lista de dez fugitivos mais procuradores do FBI, a polícia federal americana. O pôster que mostrava a foto do velho Paddock informava que ele era "um psicopata" e "muito perigoso". Ele foi preso em 1978 e morreu 20 anos depois.

Stephen Paddock se matou antes que a polícia invadisse seu quarto no 32º andar do hotel Mandalay Bay. Com base em relatos de sobreviventes e em vídeos do massacre, estima-se que ele tenha atirado por até dez minutos, com pausas para trocar de armas, deixando poucas chances para suas vítimas. (Com agências internacionais)