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Acesso à internet estreita laços de moradores com parentes que deixaram Cuba

Da Reuters

25/10/2017 12h22

Encontrar pessoas olhando fixamente para seus celulares, com seus rostos sendo iluminados pelas telas destes aparelhos, é algo cada vez mais comum em Havana. Quando cai a noite, cubanos e cubanas de todas as idades enchem as praças e ruas da cidade para acessar a internet e conversar com seus familiares que vivem fora do país --ou, simplesmente, navegar em redes sociais e outros sites que mostram como é a vida longe da ilha caribenha.

Há dois anos, a introdução de pontos de Wi-Fi em espaços públicos em Cuba alterou a rotina de uma sociedade que se encontrava quase totalmente "offline" --de lá para cá, estes "hotspots" foram instalados em 432 diferentes pontos da ilha.

Para acessar a internet, os cubanos devem comprar cartões que dão uma hora de acesso e custam US$ 1,50, valor que equivale a 5% do salário médio mensal de US$ 30. Outra opção, ainda proibitiva para os padrões cubanos, é fazer uma assinatura mensal pelo valor de US$ 15 --estima-se que metade da população de 11 milhões de habitantes se conectou à internet ao menos uma vez em 2016. 

"Muita coisa mudou", afirmou à Reuters Maribel Sosa, de 54 anos, ao lado de sua filha, após passar cerca de uma hora conversando pelo celular com familiares que vivem nos Estados Unidos. À reportagem, ela lembrou como antes costumava passar horas na fila para usar um telefone público por apenas alguns minutos para conseguir falar com o irmão, que emigrou para a Flórida nos anos 1980. 

Maribel Sosa (à esq.) e sua filha Claudia Espinosa falam com parentes que vivem nos Estados Unidos pelo celular, em Havana - Alexandre Meneghini/Reuters - Alexandre Meneghini/Reuters
Maribel Sosa (à esq.) e sua filha Claudia Espinosa falam com parentes que vivem nos Estados Unidos pelo celular, em Havana
Imagem: Alexandre Meneghini/Reuters

Sosa acredita, no entanto, que ainda falta muita coisa para mudar. "Por que não podemos ter internet em casa?", questionou. 

Pouca privacidade

Nas ruas e praças de Havana, há a opção, também, de apelar para o mercado negro para conseguir um cartão que dê acesso à internet. Privacidade para as conversas, porém, é um artigo raro.

"Não há absolutamente nenhuma privacidade aqui", disse o guia turístico Daniel Hernandez, de 26 anos, depois de conversar por chamada por vídeo com sua namorada britânica. "Quando tenho coisas sensíveis para falar, tento me fechar no meu carro e falar calmamente".

Hernandez afirmou que a qualidade das conexões é boa apenas em alguns pontos específicos e quando não há muitos usuários conectados. À reportagem, ele contou ainda que usa a internet para procurar notícias --em Cuba, o governo exerce monopólio sobre a mídia.

Rene Almeida, de 62 anos, também reclamou da falta de privacidade para conversar com seus dois filhos que vivem nos EUA e do preço que tem que pagar para realizar as conexões.

"É melhor do que nada", disse ele. "Mas deve melhorar. Vai melhorar".

Daniel Hernandez senta sobre o capô de seu carro para conversar com a namorada que mora na Inglaterra, utilizando a conexão de um Wi-Fi instalado em uma rua de Havana - Alexandre Meneghini/Reuters - Alexandre Meneghini/Reuters
Daniel Hernandez senta sobre o capô de seu carro para conversar com a namorada que mora na Inglaterra, utilizando a conexão de um Wi-Fi instalado em uma rua de Havana
Imagem: Alexandre Meneghini/Reuters

Internet para todos?

Algumas casas na ilha já contam com internet de banda larga, mas este acesso ainda é restrito a alguns profissionais, como jornalistas estudantes acadêmicos.

A empresa estatal de telecomunicações cubana prometeu levar estas conexões a todo o país e conectou centenas de habitações no final de 2016. Em setembro, representantes do governo cubano disseram que esse serviço seria levado para todo o país até o final de 2017.

A população, no entanto, afirma que promessas anteriores sobre esta questão não foram cumpridas --há quem diga que o governo não investe em novas conexões por temer perder o "controle" da população.

Havana, por sua vez, afirma que o lento desenvolvimento da infraestrutura de internet no país se deve aos altos custos envolvidos na operação, atribuídos em parte ao embargo comercial norte-americano, em vigor desde 1960.

O taxista Rene Almeida conversa com parentes que vivem nos EUA a partir de uma chamada de vídeo de seu celular, em Havana - Alexandre Meneghini/Reuters - Alexandre Meneghini/Reuters
O taxista Rene Almeida conversa com parentes que vivem nos EUA a partir de uma chamada de vídeo de seu celular, em Havana
Imagem: Alexandre Meneghini/Reuters