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Militares tomam controle no Zimbábue, mas negam golpe; ditador está sob custódia

Mapa, Zimbábue, Harare - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Do UOL, em São Paulo

15/11/2017 08h37

O Exército do Zimbábue negou nesta quarta-feira (15) a existência de um golpe de Estado no país, após a detenção do ditador Robert Mugabe, da primeira-dama, Grace, e de três ministros do governo do país. As Forças Armadas controlam a capital, após bloquearem o acesso ao Parlamento e outros edifícios do governo e divulgarem um comunicado na emissora estatal.

Os militares informaram que Mugabe e sua mulher estão "são e salvo" e que a operação realizada na madrugada de quarta está direcionada contra "criminosos" próximos ao presidente.

Não houve manifestação oficial do ditador até o momento. O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, disse ter falado com ele por telefone e afirmou que Mugabe está "confinado" em casa, mas está bem. 

8.nov.2017 - Ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, e a primeira-dama Grace, que espera sucedê-lo no cargo - REUTERS/Philimon Bulawayo - REUTERS/Philimon Bulawayo
8.nov.2017 - Mugabe e a primeira-dama, Grace, que espera sucedê-lo no cargo
Imagem: REUTERS/Philimon Bulawayo

Mugabe, 93, comanda o país desde 1980 e já afirmou que irá concorrer à reeleição no pleito do próximo ano. Ele é apontado como um dos mais antigos ditadores hoje no mundo.

A declaração oficial dos militares ocorreu após um forte tiroteio durante a madrugada, na zona da residência de Mugabe em Harare, capital do país. A cidade foi ocupada por tanques que bloquearam vários acessos.

Segundo a agência Reuters, citando fontes próximas ao governo, o ministro das Finanças do país, Ignatius Chombo, foi preso. O jornal local "NewsDay" afirma que outros dois ministros foram presos: Jonathan Moyo, de Educação Superior, e Saviour Kasukuwere, de Governo Local, Obras Públicas e Habitação.

Os três fariam parte do chamado grupo G40, uma facção do partido oficial União Nacional Africana do Zimbábue-Frente Patriótica (Zanu-PF) tendo Chombo como líder. O grupo teria como objetivo expulsar veteranos do partido - como o vice-presidente Emmerson Mnangagwa, destituído na semana passada - para abrir o caminho da primeira-dama, Grace Mugabe, 52. ao poder após a saída do ditador, que já tem 93 anos. 

"Não se trata de golpe"

Em mensagem ao país em rede nacional de TV após os tiroteios na capital, as Forças Armadas afirmaram que a operação "não se trata de uma tomada do governo por militares".

"Queremos assegurar à nação que sua excelência, o presidente (...) e seus familiares estão sãos e salvos, com sua segurança garantida", declarou o major-general, Sibusiso Moyo. "Os alvos são criminosos em seu entorno [de Mugabe] que estão cometendo crimes. Após cumprirmos nossa missão, esperamos que a situação volte à normalidade".

O representante militar exortou todas as forças de segurança a cooperarem com o Exército. Provocações seriam respondidas adequadamente, advertiu. Todos os soldados deveriam se apresentar imediatamente. Ao se dirigir ao Judiciário, Moyo disse: "As medidas tomadas são destinadas a assegurar que você [a Justiça], como um ramo independente do Estado, possa exercer sua autoridade independente – sem medo de ser desativada."

Crise de sucessão

A tensão no Zimbábue se agravou depois que o chefe militar, o general Constantino Chiwenga, ameaçou publicamente o governo Mugabe. Chiwenga afirmou que o Exército estava pronto para "intervir" diante da crise no país.

A ameaça ocorreu depois de Mugabe destituir seu vice, Emmerson Mnangagwa, aliado do líder militar Chiwenga. Os dois combateram juntos com Mugabe contra o regime de minoria branca na antiga Rodésia, que conquistou a independência em 1980.

Chiwenga criticou os planos de Mugabe de demitir outros políticos da velha guarda. "Isso tem que parar", exigiu o chefe do Exército. "Quando se trata de proteger nossa revolução, os militares não hesitarão em intervir", alertou o general.

O partido governante respondeu às críticas de Chiwenga dizendo que elas eram equivalentes a traição e ncitamento à rebelião contra a ordem constitucional.

O general Chiwenga e o vice-presidente destituído Mnangagwa são considerados críticos da primeira-dama Grace Mugabe, de 52 anos, que espera seguir os passos de seu marido no mais alto cargo do Estado.

Tiros na capital

Uma testemunha ouvida pela agência AFP afirmou ter ouvido "entre 30 e 40 disparos, durante três a quatro minutos" vindos da residência de Mugabe por volta das 2h desta quarta.

Antes da troca de tiros, o Ministério das Relações Exteriores britânico relatou "movimentos de veículos militares nas imediações de Harare".

A Embaixada dos Estados Unidos em Harare recomendou a seus cidadãos que permaneçam em casa diante da "incerteza política" no país. "Recomendamos aos cidadãos americanos no Zimbábue que se protejam permanecendo em suas casas até novo aviso. Em razão da incerteza política que impera esta noite, o embaixador instruiu todos os funcionários (diplomáticos) a permanecer em casa."

África do Sul pede diálogo

Jacob Zuma, presidente sul-africano, disse que seus ministros da Defesa e de Estado se encontrarão com o ditador e as Forças Armadas do Zimbábue. Zuma, que também é presidente da organização regional Comunidade para Desenvolvimento da África Meridional (SADC, na sigla em inglês), reivindicou ao governo do Zimbabué e às Forças Armadas que "resolvam o impasse político de forma amistosa".

A África do Sul, que mantém uma estreita relação com o país vizinho, pediu também ao Exército do Zimbabué que "garanta que não se põe em perigo a manutenção da paz e a segurança no país".

"O presidente Zuma pediu calma e contenção e expressou sua esperança de que os eventos no Zimbabué não desemboquem em mudanças inconstitucionais de governo, dado que isso seria contrário às posições tanto da SADC como da União Africana", indica o comunicado. "A SADC continuará acompanhando de perto a situação e está pronta para assistir onde seja necessário para resolver este impasse político", acrescenta a nota.