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Candidato homossexual está em coligação contrária a casamento gay em eleição no Chile

Luis Larraín, candidato a deputado nas eleições do Chile - Marcos Moreno/ UOL
Luis Larraín, candidato a deputado nas eleições do Chile Imagem: Marcos Moreno/ UOL

Marcos Moreno

Colaboração para o UOL, em Santiago (Chile)

17/11/2017 04h00

No próximo domingo (19), mais de 13 milhões de chilenos vão às urnas escolher um novo presidente, além dos membros de seu Parlamento. Se as pesquisas eleitorais se confirmarem, a partir de 2018 o Chile terá seu primeiro deputado abertamente gay: Luis Larraín.

O candidato tem aliança com a coligação do presidenciável Sebastián Piñera, declaradamente contra o casamento gay. "O casamento é essencialmente entre um homem e uma mulher, não devemos confundir duas coisas que são diferentes por natureza. Não deve haver discriminação, mas deve-se respeitar a essência do matrimônio", disse Piñera em um ato em agosto, ao lado do ultra conservador José Antonio Kast, também candidato à presidência.

Para Larraín, a aliança com setores mais conservadores não é contraditória. "Já manifestei que não apoio o candidato Sebastián Piñera, por isso me candidato como independente por Evópoli", disse ao UOL. O Evópoli é um partido liberal do ponto de vista econômico, mas que não se opõe a questões sociais representadas pela candidatura de Larraín.

"É um acordo eleitoral no qual nem todos pensam o mesmo. Nas outras coalizões também há diferenças. Se eu estivesse com o "Nueva Mayoría" (coligação do principal opositor a Piñera, Eduardo Guillier) estaria com o partido comunista que manda condolências a Kim Jong-un [ditador da Coreia do Norte] pela morte de Kim Jong-il, apoia o que acontece na Venezuela e o regime de Nicolás Maduro, teria sido mais difícil me inserir nessa posição", acrescenta.

Engenheiro civil com mestrado em relações internacionais, Larraín, 36, fez carreira como modelo, quando se tornou ativista LGBT em 2009. Em uma cena que gerou polêmica na época, Larraín apareceu de mãos dadas com outro homem num vídeo da campanha de Sebastián Piñera, que se elegeu presidente do Chile para o período entre 2010 e 2014.

Luis Larrain - Marcos Moreno/ UOL - Marcos Moreno/ UOL
Larraín tem aliança com a coligação do presidenciável Sebastián Piñera, declaradamente contra o casamento gay
Imagem: Marcos Moreno/ UOL

"Entrei no ativismo sem procurar. Dei muitas entrevistas, porque também não queria ser cúmplice do tabu, de não contar, de esconder para a família e o trabalho o fato de ser gay", disse.

Há 4 anos, chegou à presidência da fundação "Iguales", uma das principais associações de defesa dos direitos LGBT no Chile. A organização tem participado em projetos de lei sobre identidade de gênero e pelo casamento gay. No Chile, transexuais não têm o direito de mudar de nome, e os homossexuais não têm os mesmos direitos a um casamento como o dos casais heterossexuais.

Durante a gestão Michelle Bachelet, dois projetos foram implementados para mudar este cenário. Larraín tem colaborado na redação do projeto do casamento gay. No entanto, esses projetos correm o risco de não virar lei, dependendo do candidato que for eleito.

Na campanha, Larraín relata ter ouvido declarações do tipo "eu não voto em bichas". Ele também é alvo de duras críticas por parte da direita católica e a esquerda o acusa de tentar "higienizar" o movimento LGBT.

Se por um lado as previsões de voto dão por certa a entrada de Luis Larraín no parlamento chileno, o arranjo de que fará parte, segundo essas mesmas pesquisas, não facilitará resgatar os projetos de lei que ele mesmo ajudou a escrever.

"Para produzir mudanças sociais, é preciso ir além. Ser capaz de conversar com os setores mais conservadores faz com que as agendas possam avançar", disse Larraín.