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Coreia do Norte diz que alcançou objetivo nuclear com míssil que pode atingir EUA

#LigadoNoMundo: Qual o tamanho da ameaça nuclear hoje? Entenda

UOL Notícias

Do UOL, em São Paulo

29/11/2017 07h56Atualizada em 29/11/2017 20h00

A Coreia do Norte afirmou nesta quarta-feira (29) que alcançou o objetivo de tornar-se um Estado nuclear depois de testar um novo tipo de míssil balístico intercontinental (ICBM), que segundo Pyongyang pode atingir todo o território continental dos Estados Unidos.

Em mensagem reproduzida pela TV estatal, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, afirmou que o teste com o míssil Hwasong-15 foi um sucesso. "Após assistir ao lançamento com sucesso do novo modelo de ICBM Hwasong-15, Kim Jong-un declarou com orgulho que agora finalmente realizamos a grande causa histórica de completar a força nuclear do Estado, a causa de construir uma potência de mísseis", disse um comunicado lido na TV.

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"A República Popular Democrática da Coreia é uma superpotência nuclear responsável e como nação pacificadora fará todo o possível para alcançar o objetivo nobre de defender a paz e a estabilidade do mundo", acrescentou a apresentadora da TV estatal norte-coreana KCTV, Ri Chun-hee.

"O ICBM Hwasong-15 é um míssil balístico intercontinental com uma ogiva de grande tamanho capaz de atingir todo o território continental dos Estados Unidos", disse a agência de notícias norte-coreana KCNA.

A Coreia do Norte disse que o novo míssil balístico intercontinental (ICBM) foi lançado com um veículo recentemente desenvolvido e que sua ogiva pôde suportar a pressão da reentrada na atmosfera da Terra.

Muitos especialistas na área nuclear afirmam que a Coreia do Norte ainda precisa provar que dominou todas as barreiras técnicas, incluindo a capacidade de instalar uma pesada ogiva nuclear de maneira confiável em um ICBM, mas eles acreditam que isso ocorrerá em breve.

"Não temos que gostar disso, mas vamos ter que aprender a conviver com a capacidade da Coreia do Norte de atingir os Estados Unidos com armas nucleares", disse Jeffrey Lewis, chefe do programa de não-proliferação para o leste asiático do Instituto Middlebury de Estudos Estratégicos.

O míssil foi disparado na madrugada de quarta-feira (horário local) de Sain-ni, perto de Pyongyang. Segundo o Pentágono, o míssil balístico intercontinental (ICBM) teria voado 1.000 quilômetros antes de cair no Mar do Japão e não representou um risco para os Estados Unidos e para seus aliados.

Já a agência de notícias sul-coreana Yonhap noticiou que o míssil foi lançado para o leste a partir da província de Pyongan Sul.

"Às 13h30 (16h30 de Brasília) detectamos um provável disparo de míssil proveniente da Coreia do Norte", confirmou em Washington o porta-voz do Pentágono, o coronel Rob Manning.

Ao menos um especialista indicou que a trajetória sugere que Pyongyang poderia ter a tecnologia para lançar um projétil a mais de 13.000 quilômetros, o que colocaria todas as cidades americanas ao seu alcance.

Tensão crescente

O disparo desta quarta-feira representou uma escalada nas tensas relações entre o regime de Kim Jon-un e o Ocidente.

Em 3 de setembro, a Coreia do Norte fez seu sexto teste nuclear, o mais potente até a data. Segundo Pyongyang, se tratava de uma bomba de hidrogênio capaz de ser colocada em seus mísseis de longo alcance.

Em 15 de setembro, menos de uma semana depois que o Conselho de Segurança da ONU adotou novas sanções contra o regime norte-coreano, Pyongyang disparou um míssil balístico que sobrevoou o Japão, a 3.700 quilômetros a leste de seu ponto de partida, segundo Seul.

Desde então, a ausência de lançamentos criou a expectativa de que o endurecimento das sanções da ONU dava frutos.

Além de levar em conta o fato dos Estados Unidos terem incitado o resto da comunidade internacional a tomar medidas unilaterais.

Washington pede especialmente à China, principal apoio econômico de Pyongyang, que pare de apoiar seu vizinho. Trump se mostrou confiante sobre este aspecto após sua recente visita a Pequim, apesar do ceticismo de muitos observadores.

Os Estados Unidos esperam que quando Kim Jong-un estiver totalmente isolado e submetido a um importante bloqueio econômico e sob as constantes ameaças militares do presidente americano, o líder norte-coreano acabará aceitando negociar seu programa nuclear.

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Repercussão

O novo lançamento de míssil balístico por Pyongyang, depois de dois meses sem disparos, abala os esforços diplomáticos do presidente americano, Donald Trump, em sua recente viagem pela Ásia que, segundo ele, tinha como objetivo "unir o mundo contra a ameaça do regime norte-coreano".

O novo disparo levou Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul a solicitarem uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU.

O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, exortou Pyongyang a "desistir de tomar qualquer possível passo desestabilizador no futuro".

Guterres qualificou o teste de "clara violação das resoluções do Conselho de Segurança" e que "revela a completa falta de respeito pela visão conjunta da comunidade internacional".

Reações internacionais não tardaram a aparecer.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e seu colega sul-coreano, Moon Jae-In, avaliaram que o novo míssil norte-coreano representa uma ameaça "para o mundo inteiro".

"Os dois dirigentes destacaram a grave ameaça que a última provocação da Coreia do Norte deixa cair não apenas sobre os Estados Unidos e a Coreia do Sul, mas também sobre o mundo inteiro", declarou a Casa Branca em referência a conversa telefônica entre os dois líderes.

Mais cedo, o secretário americano de Defesa e chefe do Pentágono, general James Mattis, declarou que o teste realizado representava uma ameaça para o mundo inteiro.

Este míssil alcançou a maior altura já registrada nos testes norte-coreanos e representa "uma ameaça para todo o mundo, francamente", declarou Mattis na Casa Branca.

O secretário de Estado americano, Rex Tillerson, declarou que os Estados Unidos avaliam "as opções diplomáticas" para resolver a crise e que elas seguem "sobre a mesa por enquanto".

Em declaração lida por seu porta-voz em Washington, Tillerson pediu à comunidade internacional para "tomar novas medidas" à margem das sanções já aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU, "incluindo o direito a proibir o tráfego marítimo de bens de e para a Coreia do Norte".

Após ser informado da situação na Coreia do Norte, enquanto o míssil ainda estava no ar", o presidente Trump discursou na Casa Branca, enviando uma dura mensagem à Coreia do Norte: "nós vamos cuidar disso", afirmou.

Trata-se do primeiro teste com um míssil em dois meses, e oito dias depois de Washington voltar a colocar a Coreia do Norte na lista de países patrocinadores do terrorismo, um gesto que Pyongyang qualificou de grave provocação.

Horas antes, o ministro sul-coreano de Unificação informou sobre a detecção de uma atividade incomum na Coreia do Norte. Um radar de rastreamento de mísseis foi instalado na segunda-feira em uma base norte-coreana não identificada e o tráfego de telecomunicações aumentou, segundo uma fonte do governo citada pela Yonhap.

'Disparo de precisão'

"Como resposta ao lançamento, a Coreia do Sul efetuou "um disparo de precisão" de um míssil, informou a Yonhap, citando o Estado-Maior sul-coreano.

O governo japonês também estava em estado de alerta após detectar sinais de rádio que pressagiavam um possível disparo de míssil, segundo a agência japonesa Kyodo. O temor de um novo lançamento gerou preocupação nos mercados e fez a Bolsa de Tóquio cair.

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, se manifestou qualificando o disparo do míssil de "ato violento" que "não pode ser tolerado", e pediu reunião urgente do Conselho de Segurança da ONU.

"Nunca cederemos ante nenhum ato de provocação. Reforçaremos nossa pressão" sobre Pyongyang, declarou Shinzo Abe à imprensa.

Mais tarde, Trump e Abe advertiram que a Coreia do Norte está colocando sua própria segurança em risco com o novo teste, segundo um relato da Casa Branca sobre uma conversa telefônica.

"Os dois líderes concordaram que as ações provocadoras do regime norte-coreano estão prejudicando sua segurança e isolando-o da comunidade internacional", informou um comunicado da Casa Branca.

"Os líderes reafirmaram seu compromisso de combater a ameaça norte-coreana", acrescentou.

A Rússia classificou de provocação o novo disparo de um míssil intercontinental por parte da Coreia do Norte e pediu a todas as partes que mantenham a calma. "Este novo disparo de míssil é, sem dúvida, uma provocação que causa um novo aumento das tensões e nos afasta de um início de solução para a crise", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Ele acrescentou esperar que "todas as partes envolvidas consigam manter a calma".

O governo da China expressou sua "profunda preocupação". "A China expressa profunda preocupação e oposição ao lançamento e pede encarecidamente à Coreia do Norte que atenda às resoluções do Conselho de Segurança da ONU e interrompa as ações que elevem as tensões na península", afirmou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Geng Shuang. "Continuaremos defendendo a desnuclearização da península, assim como uma solução pacífica do assunto através do diálogo e da negociação", acrescentou.