Rebeldes atacam casa e matam ex-ditador do Iêmen Ali Abdullah Saleh
Rebeldes huthis assassinaram nesta segunda-feira (4) o ex-ditador do Iêmen Ali Abdullah Saleh após invadirem sua casa na capital Sanaa. Eles classificaram Saleh, que era aliado huthi até semana passada, de "traidor" após o líder se aproximar do governo iemenita e da Arábia Saudita, os oponentes dos rebeldes.
A morte foi anunciada pelo ministério do Interior huthi, que domina a capital Sanaa. Faika al-Sayyed, dirigente do Congresso Popular Geral (CPG), partido de Saleh, confirmou o assassinato. "Ele caiu como um mártir defendendo a República", declarou o dirigente à AFP.
O ex-presidente de 75 anos morreu após ser atingido por combatentes huthis em sua casa, que fica em Hadda, distrito ao sul da capital. A emissora "Al Jazeera", do Qatar, publicou um vídeo que surgiu nas redes sociais no qual Saleh aparece com um ferimento na cabeça e levado em uma manta por um grupo de pessoas em uma região desértica.
Saleh assumiu o poder em 1978, quando virou presidente do Iêmen do Norte. Doze anos depois, o país se unificou com o Iêmen do Sul, com Saleh comandando o governo até 2011, quando foi deposto durante a Primavera Árabe.
Em 2014, ele se aliou aos rebeldes xiitas apoiados pelo Irã, e a nova força assumiu o controle de Sanaa. Esse acordo foi rompido na semana passada, e os combates entre os huthis e forças leais a Saleh já deixaram mais de 100 mortos e 200 feridos na capital.
No sábado (2), Saleh declarou que estava pronto para abrir diálogo com a Arábia Saudita, que lidera uma coalizão sunita em apoio ao atual governo do Iêmen. A posição de Saleh foi considerada pelos huthis como uma traição e o juraram de morte.
"O ministério do Interior anuncia o fim da milícia da traição e a morte de seu líder (Ali Abdallah Saleh) e de alguns de seus elementos criminosos", diz a nota dos rebeldes. "A crise das milícias da traição terminou ao termos conquistado o controle total das suas posições e imposto a segurança em Sanaa, seus subúrbios e todas as outras províncias."
Segundo a AFP, a residência do ex-presidente em Hadda foi muito danificada pelos combates. Um fotógrafo da agência não conseguiu acessar o local.
Um responsável huthi que pediu anonimato declarou à agência EFE que "Saleh morreu quando combatentes huthis dispararam contra o comboio no qual viajava, em sua passagem por um posto de controle na área de Yahana, ao sudeste de Sanaa, enquanto fugia da cidade".
Guerra civil começou em 2011
A guerra no Iêmen tem suas origens na Primavera Árabe, em 2011. Manifestações por democracia invadiram as ruas, tentando forçar Ali Abdullah Saleh a dar fim a seus 33 anos de poder. O alto desemprego e a insatisfação com a família Saleh serviram de combustível para as revoltas. O presidente respondeu com concessões econômicas, mas se recusou a renunciar.
Em março, as tensões nas ruas da capital, Sana, aumentaram, polícia e militares começaram a agir com cada vez mais dureza, e protestos acabaram em derramamento de sangue. Segundo a oposição, mais de 860 pessoas morreram. Em novembro de 2011, Saleh concordou em deixar o poder.
Graças a um acordo negociado internacionalmente, o Iêmen teve uma transferência de poder em novembro. O vice-presidente, Abd Rabbuh Mansur al-Hadi, assumiu o governo, preparando o caminho para as eleições de fevereiro – em que ele era o único candidato. As tentativas de Hadi de aprovar reformas constitucionais e orçamentais provocaram revolta dos rebeldes huthis no norte.
Em setembro de 2014, depois de anos de caos e violência, insurgentes huthis tomaram a capital, forçando Hadi a mudar seu governo para a cidade portuária de Aden, no sul do país. Saleh, também oponente dos sauditas, se aliou aos huthis.
Os oponentes da guerra
Os huthis são provenientes do norte do Iêmen e pertencem a um pequeno ramo de muçulmanos xiitas, conhecidos como zaiditas. Em meados de 2015, os insurgentes já tinham tomando grande parte do sul do país. Atualmente, eles mantêm o controle sobre as principais províncias centrais do norte. O governo de Hadi acusou o Irã de fornecer a eles armas militares, acusações rejeitadas por Teerã.
O governo do presidente Hadi é sediado em Aden, sendo o governo internacionalmente reconhecido do Iêmen. Em março de 2015, Hadi, entretanto, se exilou na capital saudita, Riad, pressionado pelo avanço territorial dos huthis.
Sua principal força de defesa é a coalizão comandada pela Arábia Saudita que tem apoio de Emirados Árabes, Kuwait, Bahrein, Catar, Marrocos, Sudão, Jordânia e Egito.
Conflito já deixou milhares de mortos
De acordo com as Nações Unidas, o número de mortos superou 10 mil no início de 2017, com pelo menos 40 mil feridos.
Os ataques aéreos da coalizão e um bloqueio naval impostos pelas forças da coalizão empurraram o Iêmen – onde mais de 80% dos alimentos são importados – para uma situação de fome.
O Iêmen também foi afetado por um surto de cólera, considerado o pior do mundo pela ONU. Cerca de 400 mil pessoas contraíram a doença desde abril e 1.900 morreram. As Nações Unidas alertam para esta pode ser a pior crise de fome "que o mundo vive em décadas". Por isso, o Conselho de Segurança da ONU apelou para que a aliança liderada pela Arábia Saudita dê fim ao bloqueio de portos e aeroportos.
A falta de suprimentos médicos também preocupa. A ONG Médicos sem Fronteiras suspendeu seu auxílio após dois anos de atuação, a aliança não deixa aviões pousarem no Iêmen. As reservas no banco nacional de sangue do Iêmen estão no final. A ONU e Médicos sem Fronteiras pedem o fim do bloqueio ao Iêmen. (Com agências internacionais)
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