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Rebeldes atacam casa e matam ex-ditador do Iêmen Ali Abdullah Saleh

O ex-presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, durante cerimônia em 2012, em Sanaa - KHALED ABDULLAH/REUTERS
O ex-presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, durante cerimônia em 2012, em Sanaa Imagem: KHALED ABDULLAH/REUTERS

Do UOL, em São Paulo

04/12/2017 11h32

Rebeldes huthis assassinaram nesta segunda-feira (4) o ex-ditador do Iêmen Ali Abdullah Saleh após invadirem sua casa na capital Sanaa. Eles classificaram Saleh, que era aliado huthi até semana passada, de "traidor" após o líder se aproximar do governo iemenita e da Arábia Saudita, os oponentes dos rebeldes.

A morte foi anunciada pelo ministério do Interior huthi, que domina a capital Sanaa. Faika al-Sayyed, dirigente do Congresso Popular Geral (CPG), partido de Saleh, confirmou o assassinato. "Ele caiu como um mártir defendendo a República", declarou o dirigente à AFP.

O ex-presidente de 75 anos morreu após ser atingido por combatentes huthis em sua casa, que fica em Hadda, distrito ao sul da capital. A emissora "Al Jazeera", do Qatar, publicou um vídeo que surgiu nas redes sociais no qual Saleh aparece com um ferimento na cabeça e levado em uma manta por um grupo de pessoas em uma região desértica.

4.dez.2017 - Combatentes rebeldes huthis gritam ao lado de fora da casa do ex-presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, em Sanaa - MOHAMMED HUWAIS/AFP - MOHAMMED HUWAIS/AFP
Combatentes rebeldes huthis atacam a casa de Ali Abdullah Saleh em Sanaa
Imagem: MOHAMMED HUWAIS/AFP

Saleh assumiu o poder em 1978, quando virou presidente do Iêmen do Norte. Doze anos depois, o país se unificou com o Iêmen do Sul, com Saleh comandando o governo até 2011, quando foi deposto durante a Primavera Árabe. 

Em 2014, ele se aliou aos rebeldes xiitas apoiados pelo Irã, e a nova força assumiu o controle de Sanaa. Esse acordo foi rompido na semana passada, e os combates entre os huthis e forças leais a Saleh já deixaram mais de 100 mortos e 200 feridos na capital.

No sábado (2), Saleh declarou que estava pronto para abrir diálogo com a Arábia Saudita, que lidera uma coalizão sunita em apoio ao atual governo do Iêmen. A posição de Saleh foi considerada pelos huthis como uma traição e o juraram de morte.

"O ministério do Interior anuncia o fim da milícia da traição e a morte de seu líder (Ali Abdallah Saleh) e de alguns de seus elementos criminosos", diz a nota dos rebeldes. "A crise das milícias da traição terminou ao termos conquistado o controle total das suas posições e imposto a segurança em Sanaa, seus subúrbios e todas as outras províncias."

Segundo a AFP, a residência do ex-presidente em Hadda foi muito danificada pelos combates. Um fotógrafo da agência não conseguiu acessar o local.

Um responsável huthi que pediu anonimato declarou à agência EFE que "Saleh morreu quando combatentes huthis dispararam contra o comboio no qual viajava, em sua passagem por um posto de controle na área de Yahana, ao sudeste de Sanaa, enquanto fugia da cidade".

Entenda as origens do conflito no Iêmen

AFP

Guerra civil começou em 2011

A guerra no Iêmen tem suas origens na Primavera Árabe, em 2011. Manifestações por democracia invadiram as ruas, tentando forçar Ali Abdullah Saleh a dar fim a seus 33 anos de poder. O alto desemprego e a insatisfação com a família Saleh serviram de combustível para as revoltas. O presidente respondeu com concessões econômicas, mas se recusou a renunciar.

Em março, as tensões nas ruas da capital, Sana, aumentaram, polícia e militares começaram a agir com cada vez mais dureza, e protestos acabaram em derramamento de sangue. Segundo a oposição, mais de 860 pessoas morreram. Em novembro de 2011, Saleh concordou em deixar o poder.

Graças a um acordo negociado internacionalmente, o Iêmen teve uma transferência de poder em novembro. O vice-presidente, Abd Rabbuh Mansur al-Hadi, assumiu o governo, preparando o caminho para as eleições de fevereiro – em que ele era o único candidato. As tentativas de Hadi de aprovar reformas constitucionais e orçamentais provocaram revolta dos rebeldes huthis no norte.

Em setembro de 2014, depois de anos de caos e violência, insurgentes huthis tomaram a capital, forçando Hadi a mudar seu governo para a cidade portuária de Aden, no sul do país. Saleh, também oponente dos sauditas, se aliou aos huthis.

Os oponentes da guerra

Os huthis são provenientes do norte do Iêmen e pertencem a um pequeno ramo de muçulmanos xiitas, conhecidos como zaiditas. Em meados de 2015, os insurgentes já tinham tomando grande parte do sul do país. Atualmente, eles mantêm o controle sobre as principais províncias centrais do norte. O governo de Hadi acusou o Irã de fornecer a eles armas militares, acusações rejeitadas por Teerã.

O governo do presidente Hadi é sediado em Aden, sendo o governo internacionalmente reconhecido do Iêmen. Em março de 2015, Hadi, entretanto, se exilou na capital saudita, Riad, pressionado pelo avanço territorial dos huthis.

Sua principal força de defesa é a coalizão comandada pela Arábia Saudita que tem apoio de Emirados Árabes, Kuwait, Bahrein, Catar, Marrocos, Sudão, Jordânia e Egito.

Conflito já deixou milhares de mortos

De acordo com as Nações Unidas, o número de mortos superou 10 mil no início de 2017, com pelo menos 40 mil feridos.

Os ataques aéreos da coalizão e um bloqueio naval impostos pelas forças da coalizão empurraram o Iêmen – onde mais de 80% dos alimentos são importados – para uma situação de fome.

O Iêmen também foi afetado por um surto de cólera, considerado o pior do mundo pela ONU. Cerca de 400 mil pessoas contraíram a doença desde abril e 1.900 morreram. As Nações Unidas alertam para esta pode ser a pior crise de fome "que o mundo vive em décadas". Por isso, o Conselho de Segurança da ONU apelou para que a aliança liderada pela Arábia Saudita dê fim ao bloqueio de portos e aeroportos.

A falta de suprimentos médicos também preocupa. A ONG Médicos sem Fronteiras suspendeu seu auxílio após dois anos de atuação, a aliança não deixa aviões pousarem no Iêmen. As reservas no banco nacional de sangue do Iêmen estão no final. A ONU e Médicos sem Fronteiras pedem o fim do bloqueio ao Iêmen. (Com agências internacionais)