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"Me sinto culpada por sobreviver", diz a mais jovem da lista de Schindler

Eva Lavi durante discurso na ONU - Wang Ying/Xinhua
Eva Lavi durante discurso na ONU Imagem: Wang Ying/Xinhua

Do UOL, em São Paulo

01/02/2018 18h56

"Me sinto culpada por ter sobrevivido", desabafou Eva Lavi em um discurso feito às Nações Unidas nesta quarta-feira (31), na cerimônia anual de memória ao Holocausto.

Lavi foi a pessoa mais jovem a ser salva pela lista do empresário alemão Oskar Schindler. Durante a Segunda Guerra Mundial, o empresário empregou centenas de judeus em suas fábricas na Polônia ocupada, ajudando-os assim a escapar dos campos de concentração. Para salvar as crianças, Schindler disse aos nazistas que elas seriam úteis nas linhas de produção devido a suas mãos pequenas. Essa história foi narrada no filme vencedor do Oscar "A Lista de Schindler", de 1993.

Hoje com mais de 80 anos, Lavi diz ainda se sentir culpada por ser uma das poucas crianças a sobreviver aos nazistas - enquanto amigos e parentes não tiveram a mesma sorte. Em seu discurso, ela explicou como o sentimento de culpa se estendeu após o término da guerra. 

Não foi fácil ser uma criança no pós-guerra. Eu continuei a me esconder. Por quê? Meus pais não me levavam a encontros com outros sobreviventes para não machucar aqueles que haviam perdido os filhos.

Eva Lavi

Segundo a ONU, Lavi tinha dois anos quando a guerra começou. Quando nazistas bateram na porta de seus pais, sua mãe a escondeu do lado de fora da janela. Fazia -20ºC do lado de fora e ela se agarrou a um cano para aguentar as baixas temperaturas.

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"Talvez ele [Deus] quisesse que eu fizesse algo grande. Sou apenas uma mulher comum. Com nenhuma grande conquista. Mas agora estou aqui, falando com as Nações Unidas. Esse é meu 'grande feito' que Deus planejou para mim", disse em seu discurso. 

A cerimônia de memória do Holocausto é feita todos os anos pela ONU, com o objetivo de preservar a memória dos sobrevivente e fomentar a educação em torno da tragédia. O evento faz parte de um programa maior das Nações Unidas sobre o Holocausto que promove atividades ao longo de todo o ano a fim de evitar futuros genocídios. 

Na cerimônia deste ano, o atual secretário-geral da ONU, o português António Guterres, descreveu o Holocausto como a "culminação da hostilidade em relação aos judeus que aconteceu durante todo o século" e alertou para sinais de ódio, xenofobia e outros tipos de discriminação que existem hoje.

Cerca de 1,1 milhão de pessoas foram assassinadas somente no campo de Auschwitz, libertado pelo Exército soviético em 27 de janeiro de 1945. A data é marcada, desde 2005, como o Dia Internacional da Lembrança do Holocausto.