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Itália se divide entre ultradireita e nova política e terá desafio para formar governo

Gregorio Borgia/AP
Imagem: Gregorio Borgia/AP

Do UOL, em São Paulo

05/03/2018 21h12

Italianos elegeram seus representantes legislativos nesse domingo (5), mas o resultado final, divulgado na segunda, pouco diz sobre a formação do próximo governo a liderar o país.

Isso porque o sistema eleitoral italiano, reformado recentemente, exige que um partido tenha maioria de 40% no Parlamento para formar um governo. No entanto, nenhum grupo conseguiu essa marca de votos.

Uma coalizão formada pelo Forza Italia de Silvio Berlusconi com outros três partidos de direita e ultradireita somou 37% dos votos, seguida pelo partido antissistema Movimento 5 Estrelas, que obteve 32%. Derrotado nas urnas, o ex-primeiro-ministro Matteo Renzi deixou a liderança do Partido Democrático após a divulgação dos resultados. O PD teve 19% dos votos --o pior resultado da história da legenda. 

Há vários caminhos possíveis para a política italiana agora. No geral, eles dependem de acordos, formação de novas alianças e rompimento de antigas e, por isso, é difícil prever o que irá acontecer. Entenda alguns cenários:

Coalizão de direita forma um governo

A coalizão formada por Silvio Berlusconi com partidos de direita e ultradireita obteve o melhor resultado e, por isso, exige o direito de formar o novo governo. O problema é que, caso o presidente, Sergio Mattarella (PD), conceda esse direito à coalizão, ela passará por um conflito interno: indicar um primeiro-ministro da Liga Norte, de Matteo Salvini, ou da Forza Italia, de Berlusconi. 

O partido com a maior quantidade de votos dentro da coalizão foi o Liga Norte, com 17%, legenda nacionalista que defende políticas controversas de migração. Mas a escolha de Salvini como primeiro-ministro pode não agradar Silvio Berlusconi, figura política influente e responsável pela articulação da coalizão.

Embora inelegível, Berlusconi tem um afilhado político que quer ver na cadeira de primeiro-ministro, Antonio Tajani, e pode desfazer a coalizão caso não esteja contente.

Cinco Estrelas forma um governo

Outra opção é permitir ao Movimento Cinco Estrelas a formação do governo --com 32% dos votos, o partido teve a maior quantidade de cadeiras sem fazer parte de uma coalizão, e também exige o direito de governar.

O problema é que o M5E, a princípio, se recusa a formar alianças com qualquer partido. Portanto embora tenha tido a maior quantidade de votos, mesmo que chegasse ao poder dificilmente teria condições de aprovar leis e governar, a não ser que mude de postura. 

Especula-se que, para ter o direito de formar um governo, o M5E, grupo que elegeu representantes com um discurso contra a política tradicional, alie-se à Liga Norte, que, por sua vez, desfaria a coalizão com Berlusconi.

Novos acordos são feitos

Uma possibilidade para que haja governabilidade é que partidos rivais entrem em um acordo para formar uma grande coalizão, atingindo assim uma maioria superior a 40%. Essa foi a solução encontrada pelos parlamentares em 2013, quando a Itália se viu em meio ao mesmo imbróglio político pós-eleitoral, e também pela Alemanha recentemente.

Nove partidos receberam mais de 1% dos votos, portanto são inúmeros os cenários possíveis neste caso. A coalizão de direita pode se dissolver e partidos como a Liga Norte, se juntar a outros menores. 

Novas eleições

O último recurso para a Itália seria o presidente dissolver o Parlamento recém-eleito e convocar novas eleições. Durante o processo, o país seria comandado por um governo de tecnocratas. No entanto, a não ser que outra lei eleitoral seja aprovada, essa medida pouco efeito teria, já que possivelmente os italianos elegeriam novamente um Parlamento dividido.

(com agências de notícias)