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Berço da indústria de armas, cidade americana restringe vendas para seus moradores

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Imagem: Getty Images

Prashant Gopal

Da Bloomberg

20/03/2018 04h00

Para entender a grande divisão provocada pelas armas nos EUA, visite Springfield, no Estado de Massachusetts, o berço da indústria de armas do país, que movimenta US$ 17 bilhões por ano.

Em uma contradição atordoante, Massachusetts, um Estado notoriamente liberal com as mais rigorosas leis de controle de armas e a menor taxa de mortes por armas de fogo, é o reino das armas. Segundo os dados federais mais recentes, Massachusetts responde por um quarto das 11,9 milhões de unidades fabricadas por ano, mais do que qualquer outro Estado, segundo a Small Arms Analytics, uma firma de pesquisas do setor.

Springfield é a capital não oficial do chamado "Vale das Armas", um polo de fábricas e fornecedoras que engloba desde a Smith & Wesson e a Savage Arms, na região oeste de Massachusetts, até a Sturm Ruger & Co. e a Colt, no Estado de Connecticut.

Fuzis AR-15 Smith & Wesson à venda no Colorado - Luke Sharrett/The New York Times - Luke Sharrett/The New York Times
Fuzis AR-15 Smith & Wesson à venda no Colorado
Imagem: Luke Sharrett/The New York Times

Além de revólveres pequenos e pistolas 9 mm, a Spring & Wesson, com sede em Springfield, fabrica populares rifles de assalto estilo AR-15 -- inclusive a própria arma usada para assassinar 17 estudantes e professores na escola de Ensino Médio Marjory Stoneman Douglas, em Parkland, na Flórida.

Mas os moradores não podem entrar em uma loja de armas local e comprar o último "rifle esportivo moderno" M&P15, como a Smith & Wesson prefere chamá-lo. De uma maneira geral, as próprias autoridades políticas de Springfield favorecem essas restrições e até mesmo impulsores econômicos da cidade preferem tirar o foco desse produto de exportação que contribui para 13.000 homicídios por ano nos EUA.

"A contradição é impressionante", disse John Rosenthal, que possui arma e é fundador da Stop Handgun Violence (Pare a Violência com Armas de Fogo), de Massachusetts.

Não poderíamos ter mais orgulho dos resultados de nossas leis para as armas e não poderíamos ter mais vergonha dos estragos causados pelas fabricantes de armas de Massachusetts em todo o país."

Kevin Kennedy, chefe de desenvolvimento econômico de Springfield, chama a Smith & Wesson de "uma boa cidadã". Mas prefere mudar de assunto e falar do plano de instalação de um cassino MGM Resorts International, que se tornará o maior empregador da cidade. A Smith & Wesson reduziu um quarto da força de trabalho da fábrica nos últimos 12 meses. Atualmente, a fábrica emprega cerca de 1.000 pessoas, disse Kennedy.

Manifestantes foram às ruas contra as armas desde o último ataque em escola da Flórida - Joe Raedle/Getty Images/AFP - Joe Raedle/Getty Images/AFP
Manifestantes foram às ruas contra as armas desde o último ataque em escola da Flórida
Imagem: Joe Raedle/Getty Images/AFP

A Smith & Wesson recebe pouco destaque em um vídeo publicitário de dois minutos sobre a cidade, chamado "Springfield Rising" ("Springfield em Ascensão"). No vídeo são feitos elogios ao cassino, aos restaurantes e à nova fábrica de vagões de trem. Não há nenhuma menção a armas.

A câmera sobrevoa por uma fração de segundo a sede da Smith & Wesson, descrita apenas como uma "fabricante lendária". O vídeo passa rapidamente para o estacionamento da fábrica, mostrando carros abrigados sob uma série de painéis solares. E então surge escrita a frase "Projeto solar inovador", como se a Smith & Wesson estivesse no ramo de energia verde.

Como símbolo de seu isolamento, a sede da Smith & Wesson, um complexo de tijolos bege que parece uma prisão, rodeado de cercas altas e arame farpado, literalmente se destaca de boa parte da cidade de 150.000 habitantes e não está aberta ao público.

A empresa, agora oficialmente chamada American Outdoor Brands, preferiu não comentar essa reportagem.