Último zoológico humano ridicularizava congoleses durante feira na Bélgica em 1958
Há 60 anos, em um evento organizado para celebrar os avanços sociais, culturais e tecnológicos do pós-guerra, a Bélgica apresentou, pela última vez, um zoológico humano.
Durante a feira mundial de 1958, em uma espécie de jaula, homens, mulheres e crianças negras foram mostrados ao público visitante em suas “condições nativas”, sob o propósito de educar e entreter os europeus. O jornal britânico “The Guardian, nessa segunda-feira (16), relembrou a história.
Em 1958, a Bélgica ainda governava o Congo, na África. A colônia era rica em minerais, mas não trazia muitos ganhos econômicos ao país europeu. Mesmo assim, os belgas consideravam importante manter esse território africano como poder de barganha no pós-guerra, diante de vizinhos poderosos como o Reino Unido e a França.
Justamente por isso, a Expo’58 foi encarada como uma oportunidade para celebrar a conquista belga no Congo. Em Bruxelas, no Atomium, a feira trazia sete pavilhões dedicados à colônia africana, como temas como a mineração, as artes e a agricultura.
No entanto, o que mais chamava atenção do público era o zoológico humano. Em uma imitação das florestas tropicais africanas, homens, mulheres e crianças se apresentavam com vestimentas tradicionais, presas por uma cerca de bambu.
Os zoológicos humanos não eram novidade no ocidente. Londres, Paris, Oslo e Nova York, entre outras cidades, receberam suas versões desde o fim do século 19. Em 1958, a apresentação dos congoleses tinha o objetivo de apresentar aos europeus uma típica aldeia local. Os africanos passavam o dia fabricando cabanas de palha enquanto eram ridicularizados pelos visitantes brancos.
Não raro, os visitantes jogavam dinheiro e bananas para os congoleses, segundo um jornalista escreveu à época da feira mundial.
No total, 598 pessoas, incluindo 273 homens, 128 mulheres e 197 crianças, ficaram expostas durante a Expo’58. Os congoleses reclamaram das acomodações superlotadas, das limitações para circulação e, claro, dos abusos sofridos durante a feira.
Em janeiro de 1959, o Congo ganhou sua independência e nunca mais um zoológico humano foi montado na Europa, de acordo com o jornal britânico.
Hoje, tantos anos depois, a Bélgica tenta fazer as pazes com seu passado colonialista. Em dezembro, o Museu Real do Centro Africano vai reabrir suas portas após ter sido reformado. Segundo o diretor-geral do museu, Guido Gryseels, após 100 anos celebrando a colonização, a instituição vai mudar seu foco.
"Para a maioria dos belgas, seu primeiro encontro com a África acontece no nosso museu. A impressão inicial da África pela maioria dos belgas foi feita aqui neste museu, e é a de que a pessoa branca é melhor do que a negra. Os africanos que retratamos aqui estão nus com uma lança sem uma cultura própria", disse ao "Guardian".
Para Gryseels, seu trabalho agora é contar uma nova história sobre o Congo. No dia da reabertura do museu, o ministro belga das Relações Exteriores fará um discurso sobre o passado colonial do país, com a presença da família real.
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